Sou um homem urbano, nado e criado na cidade, não tenho, nunca tive, férias ou Natal na terra, as minhas raízes rurais perdem-se a 3 ou 4 gerações de distância, são apenas histórias vagas e nebulosas.
Apesar disso ou talvez por isso a ruralidade fascina-me, a sua dimensão humana, as relações simples entre pessoas concretas, Manéis e Marias, com todos os seus atributos, as suas prendas, as suas manias, as suas vantagens e os seus defeitos, e também a sua história que transportam consigo.
Na cidade somos anónimos, serei quanto muito o vizinho das barbas, para caras e pessoas que “conheço” há 30 anos, a quem digo bom dia diariamente, mas que não sei verdadeiramente quem são ou o que fazem ou qual é o seu papel na sociedade.
Mas sou de Lisboa, das avenidas novas, nem sequer dos velhos bairros e pátios onde se reproduziam um pouco as relações da aldeia, dentro da cidade, onde se mantinha uma dimensão humana pela qual ainda lutam ingloriamente sonhadores como o Arquitecto Ribeiro Teles e, talvez, José Sá Fernandes.
Todavia, tenho memórias de infância, passada na Av. António Augusto de Aguiar, mesmo em frente ao que é hoje, já há bastante tempo, a estação de metro do Parque, memórias estranhas na Lisboa de hoje, memórias de vestígios de uma ruralidade perdida:
Pelos meus 5 ou 6 anos, lembro-me, claramente, de correr diariamente para a varanda da casa, a determinadas horas, para ver passar um rebanho de ovelhas, com o seu pastor, que calmamente descia a Av. António Augusto de Aguiar vindo de não sei onde, e ali, à minha frente, subia para pastos verdejantes no Parque Eduardo VII, regressando mais tarde para o seu redil misterioso.
2005-10-07
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