2010-04-21

O muro

Ou a misteriosa essência da portugalidade

Hoje, no hospital de Santiago, em Setúbal, enquanto contornávamos o longo muro que nos impede a entrada e nos obriga a uma longa caminhada para chegar à porta, entabulei conversa com um outro utente sobre a irracionalidade desse muro.
Como em tantas situações veio-me à memória o poema de Torga que começa assim:

De seguro, só sei que havia um muro
Contra o qual arremeti a vida inteira.

E esse muro lá estava simbolizando todos os muros que, de seguro, existem na vida.
O tema da nossa pequena conversa foi a irracionalidade humana, portuguesa dizíamos porque para um português é só em Portugal que existe este muro omnipresente.
E era culpa de todos, de todos os portugueses com excepção de nós dois que falávamos e que naturalmente nunca poríamos ali aquele muro.
Partilhamos uma revolta honesta e pacífica e, para mim, ficou mais claro esta essência da portugalidade esta insatisfação com o nosso próprio país.
Somos todos Medinas Carreiras, velhos do Restelo, sempre insatisfeitos.
Mas é precisamente essa dimensão que nos enobrece, não nos contentamos com menos do que com um mundo perfeito, o V-Império.
Enquanto não o temos sonhamos com ele, sempre e lamentamos a nossa sorte.

1 comentário:

Fábio disse...

Pois infelizmente também tive que contornar esse muro, diga-se numa das piores (se não a pior) fases da minha vida, pelo que sei perfeitamente do que fala mesmo quando o conjuga com outros pontos de vista.

Aproveito também, já que ainda não o tinha feito, para agradecer a oferta que me fez do Cálice e a Espada. Ainda não consegui arranjar um tempo para o começar a ler mas já estou a tratar disso (férias).

Cumprimentos e continuação de boas publicações virtuais.