Ontem, antecipando alguns dias de férias que se aproximam, resolvi tratar-me bem.
Acordei tarde, regulei a temperatura do termostato da torneira da banheira, abria-a, esperei calmamente que ela se enchesse, deitei umas gotas de essência de lavanda, entrei no banho, carreguei no botão que liga a hidro-massagem, noutro botão regulei a intensidade para forte, estendi-me na banheira para sentir a massagem, olhar o turbilhão que se gerou, libertando o aroma da lavanda e relaxar.
Foi curto esse prazer, de repente vejo a debater-se com as águas uma mancha castanha, concentro a atenção e destingo mesmo o cadáver de uma enorme barata, das grandes, das californianas, com uns 3 cm de comprimento.
Salto do banho e vejo a água cheia de pequenos resíduos negros, certamente vestígios de lautas refeições deixados pela barata em prejuízo da conservação das borrachas e sei lá que mais que mantem aquele sistema a funcionar.
Descartei-me do cadáver, esvaziei a banheira e limitei-me a tomar um duche rápido reflectindo que é certo que todo o meu plano foi destruído mas a minha vingança foi terrível como a ira de “deus”.
Aquela barata, lutando pela vida, como todos nós, naqueles seus aposentos dentro da canalização da minha hidro-massagem, sofreu, sem sobreviver a um terrível “tsunami” que ficaria na história das baratas se houvesse essa história.
Entretanto também sucumbi ao sentimento da obsolescência psicológica:
Aquele meu velho computador, que ia cumprindo com esforço o seu papel, mas cumprindo sempre, embora já com próteses, e que me lembrava já uma vacaria, troquei‑o pelo painel de controlo de uma nave espacial.
Tem sido uma odisseia a repor todos os programas, endereços, mensagens, vícios, esquisitices que me são já essenciais. Uma grande luta foi com o “pop3” do “gmail”. Queria trazer de novo o “gmail” para o “outlook express”, após várias horas de luta consegui mas qual não foi o meu espanto quando - não, não me saiu uma barata pelos altifalantes- apenas o outlook começou a vomitar todos, mesmo todos, os e-mails que recebi e que enviei desde 2005 e que estavam escondidos nalgum canto escuro do imenso “server” do “gmail”. São vários milhares, debitados em pacotes de aproximadamente 200 de cada vez, neste momento ainda estou em Março de 2007.
Ainda comecei a apagar tudo à medida que chegavam mas depressa me cansei e, depois veio-me a nostalgia de relembrar trocas de e-mails perdidas no tempo.
Alguns que já tinha apagado e esquecido, voltaram agora à minha presença.
Vai-me dar muito trabalho nestas minhas férias mas sabe-me bem esta 2ª oportunidade de reviver o passado, que me foi proporcionada.
2008-06-08
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4 comentários:
Magnífico texto. A sua escrita está cada vez melhor. Adorei.
Dos melhores textos até agora publicados no Macacos-Deuses...
O pessimista vê a dificuldade em cada oportunidade; o optimista, a oportunidade em cada dificuldade. Albert Flanders
Tio, este não resisto mesmo a comentar. Muito bom!
Essa morte lenta que é reviver o passado... Apesar de confessar que há também um pouco de Deus em S. José, achei o fim decepcionante. Não há nada (de novo) nos "mails antigos". Como filho, preocupa-me! O Génio acabou na barata, foi o contraste que brilhou.
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