2007-11-15

Os fantasmas da história

O que me surpreende (ou não se pensarmos bem sobre o assunto) é que não obstante o mundo globalizado, o estonteante desenvolvimento tecnológico, as dicas e as tricas de cada dia que absorvem a nossa atenção e movem as nossas paixões, há um lastro de história, de cultura, de qualquer coisa, que se mantem presente, contamina a nossa racionalidade (ou dá-nos uma mais ampla racionalidade) e continua a condicionar as nossas opções e comportamentos mais simples.
Vi isto no Quebeque:
- « S`il vous plait, on va parler en français »
Vi isto na Bélgica flamenga:
- “I can speak French but please let’s talk in English”
Vi isto na Polónia, na Silésia, que até há poucas dezenas de anos era Alemã, vi-o no sorriso artificial dos empregados de hotel polacos para os hóspedes alemães que se transformava num temporário esgar depreciativo quando se voltavam para nós (não alemães) e comentavam “niemęc” (alemão) esboçando então um sorriso genuíno.
Vi isto na Hungria numa manifestação anti-judeus, que, segundo os organizadores, estão paulatinamente a recuperar o seu poder perdido na Hungria e vi também, por exemplo num mapa em pedra numa pequena aldeia húngara onde se desenhava a Hungria que somos, incluindo a vasta Tasmânia (hoje Romena) e outras áreas em mãos estrangeiras e, a Hungria que nos obrigam a ser com os limites oficiais actuais.
Vi isto em Israel onde parece que Moisés ainda os está guiando para a terra prometida.
Vi isto no meu amigo Bernard Ehrwein, francês de origem alsaciana que me dizia:
- Não suporto quando tiram o H ao meu nome.
E em Portugal, apesar dos seus 900 anos de fronteiras estáveis, vejo como chegou até nós o eco da humilhação nacional do mapa cor-de-rosa e mais recentemente, onde eu estive também, no espantoso grito por Timor que o mundo ouviu e respeitou.
O nosso Império foi construído sobre um monte de ignomínia, dizia lucidamente Eça de Queiroz mas a verdade é que foi o nosso império, feito por nós e é isso que conta.
E é assim que eu vejo o recente episódio do “Por qué no te callas” do Rei de Espanha:
Para a maioria dos espanhóis e dos portugueses, porque nisto somos irmãos do espanhóis, foi a resposta à altura dum grande da Europa, a um arrogante, malcriado e balofo índio mascarado de Presidente mas a quem falta a patine, muita corte e muito chá.
Para os muitos Venzuelanos afectos a Chavez (e deste nome Chavez e da língua que fala já não se liberta) foi mais uma prova da intolerável arrogância dos ex‑conquistadores, dos ex‑patrões para um valoroso Índio que tenta redimir a sua terra mãe de todas as humilhações passadas.
Não parece mas têm todos razão, as idiossincrasias é que são diferentes ! e ainda bem.

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