2007-09-20

Palinca

O álcool é uma presença habitual e estruturante, em quase todas as sociedades humanas. Mesmo no Islão, onde foi banido pelo Profeta, ele permanece presente ainda que apenas como fantasma
Sela contratos, assinala datas importantes, estimula o convívio social, inspira poetas, escritores e outros artistas.
As formas em que surge são as mais diversas:
Nos países mediterrânicos abençoados pela natureza, o álcool afirma-se no vinho e na bebida suprema, a aguardente vínica, saboreia-se lenta e pausadamente. O álcool em si é aqui um acompanhante, aparentemente secundário, entre uma miríade de sabores e aromas sublimes embora, no fundo, se venha sempre a revelar como o verdadeiro espírito da festa.
Noutros recantos do mundo, menos afortunados, o álcool procura-se em fermentados e destilados diversos, por vezes agradáveis como a cerveja, o whisky e tantos outros, por vezes quase intragáveis tendo que ser bebidos num trago (num “shot” como agora se diz) para que se chegue, mais depressa e sem distracções, ao seu espírito que é a sua única razão de existir.
Em todo o lado, mal ou bem, ganha o estatuto de bebida nacional e lá temos os vodkas, na fria Europa, as cachaças e os outros destilados de cana, nos países tropicais, o sake no imperial Japão e não sei que mais por esse mundo fora.
Na Hungria esse estatuto é desempenhado pela Palinca. Destilado de diferentes frutos e ervas que imprimem sabores e colorações diversas e permitem sempre a afirmação de que a minha Palinca é melhor do que a tua.
No fundo são todas mais ou menos iguais, valem pelo espírito que contêm.
Na Hungria bebi, em média, 9 Palincas diárias, de manhã até à noite, recusar podia ser considerado como má educação ou sinal de desprezo, até que ao 4º dia comecei a sentir que me começava a faltar sangue vital na minha corrente de Palinca.
Tive que dizer basta, invocando razões de saúde e religiosas para não ferir susceptibilidades e não cair no descrédito social e lá consegui baixar a dose para apenas 1 ou 2 por dia.
De qualquer forma, e estranhamente, o meu organismo suportou bem este excesso.
Não será impunemente que durante centenas ou milhares de anos os Húngaros aprenderam a dominar a sua técnica de fabrico e de consumo de forma a que ela cumpra a sua função social sem maiores danos para os utentes.

3 comentários:

Eduardo Jordão disse...

Pois é, eu também bebi palinca quando estive em budapeste, e achei-o muito melhor do que o vodka por exemplo.

Eduardo Jordão disse...

Lembro-me também ouvir uns Húngaros dizer que não se devia recusar, e é até costume oferecer-se ao "próximo". Eu passei por isso.

Anónimo disse...

Pois é!!!! A Palika é algo de sobrenatural e que hoje merece um comentário. Alegra o espirito, alegra a alma mas... a tristeza está presente. Os amigs estão por aí basta apenas procurá-los. Sejam sábioa Amigos! Mas tirando isso e falando sobre a palinka, devo dizer, esta faz milagres! Concordo plenamente com o dito: a corrente sanguinea pode estar adulterada mas os efeitos são ou permanecem nulos. Sejamos irónicos: esta bebida passa na nossa legislação "Consumo responsável e moderado".