2007-09-17

Vingança

Eu confesso meio envergonhado que sou desse portugueses que, diariamente, vai assistindo na SIC, ao arrastar penoso da novela Vingança.
Ninguém me obriga, é certo, mas que querem ? a explicação tem que ser encontrada no fundo do meu cérebro, sinto talvez aquele prazer mórbido de quem vasculha o lixo.
E faço-o estoicamente embora ultimamente já comece ceder na luta contra o sono e a adormecer no sofá do meio da novela para a frente, mas vai ficando o essencial que é isto:
As histórias de vinganças têm tipicamente uma estrutura narrativa: o “heroi” fica “mad” com as maldades que lhe fazem, depois de mais maldades fica “real mad” e como estas continuam fica “real, real mad” e aí, quando diz chega !, já basta!, acabou! começa o processo de vingança.
O que se segue depois depende: se for num filme de Hollywood começa a partir tudo, à bomba e à metralhadora, se for num filme ou romance um pouco mais elaborado e interessante, concebe uma estratégia fina e inteligente que executa calmamente, com requinte, até recuperar a sua paz e punir os responsáveis.
“A vingança é um prato que se serve frio” disse alguém que sabia da coisa.
A solução que a SIC encontrou é porém inovadora, nem uma coisa nem outra, na verdade nem existe sequer vingança nenhuma.
O “herói” e os diferentes personagens vão-se mexendo ao sabor do vento, distraem-se com questões menores, arrastam-se tristemente com constantes mudanças de humor e tricas de namoricos de adolescente mas estão sempre a afirmar com um orgulho pateta que seguem um plano (que ninguém vê, nem eles) o famoso plano de Santiago Medina.
A juíza então é uma figura patética, actriz que estamos habituados a ver vender “Pop Limão” ou algo assim, continua a vender “Pop Limão” mas na solenidade do sistema judiciário, uma tristeza.
Os actores oscilam entre o médio e o medíocre, com duas excepções:
Uma muito positiva, é a representada por Nuno Melo, que faz com imenso talento um papel muito difícil e consegue-nos dar a única imagem coerente, verosímil e interessante naquele amontoado de nulidades.
A outra excepção, esta muito negativa, é a que nos é dada por Diogo Morgado, chegamos a ter pena dos seus algozes por não terem tido a felicidade de o encerrar num cárcere em Marrocos até à sua destruição total.
Mostra-se psicologicamente instável, com birras de menino, com a arrogância dos fracos e ignorantes. Estraga tudo em que mexe e nem sequer tem capacidade para reflectir um mínimo nos seus fracassos, só tem “certezas”.
E depois é aquela forma ridícula de se vestir sempre com um enorme sobretudo negro e cintado mesmo quando toda agente à sua volta está de manga curta e ar desportivo.
Só há pouco tempo me apercebi onde se queria chegar com o sobretudo: à imagem do “Corvo”, meus amigos, como o cordeiro que veste a pele do lobo.
O segredo é este, referências fora de contexto, ao Conde Montecristo, para dar um ar sério, a Hollyood, às fúrias dos filmes de Steven Segal e ao “Corvo”, para atrair a juventude, e ás telenovelas para tentar dar um ar ecléctico, generalista.
Mas falta muito o talento e, a imagem final que fica é a de um deprimente ridículo.
Poderão dizer que a culpa não é dos actores mas do guionista que desenhou os personagens mas não é verdade, neste medium actores e personagens confundem-se e a prova é que Nuno Melo sendo bom e estando, com os outros, na mesma merda consegue produzir algo de bom enquanto Diogo Morgado que não serve para esta vida de actor torna tudo ainda mais penoso.

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