2006-03-17

SPAM

Como já tenho referido aqui, as línguas desempenham 2 funções contraditórias: unem e separam.
Unem-nos a todos os falantes, separam-nos de todos os não falantes.
É por isso que não invejo o inglês que se vem degradando à medida que cresce, que se contamina ainda mais em vocábulos e na pronúncias do que contamina as outras línguas, que na sua crescente simplificação vai perdendo um mundo de significação.
O belíssimo inglês de Shakespeare onde está já ?
Mas também não gostaria de ter como língua materna uma daquelas línguas riquíssimas mas demasiado restritas, tipo finlandês, húngaro, norueguês ou gaélico, para falar apenas de línguas europeias.
O português está numa justa medida:
É, já por si, uma língua de 8 pátrias e milhões de falantes e suficientemente próxima do castelhano para que o entendamos minimamente, abrindo-nos o leque para mais centenas de milhões de falantes e dezenas de pátrias mas que conserva ainda aquele caracter semi-secreto que permite alguma intimidade em muitos contextos.
Já aqui, há tempos (20/07/2004), contei uma história que ilustrava um desses momentos íntimos, gostaria de falar agora de uma outra, não pequena, vantagem:
Como todos teremos a experiência, os nossos correios electrónicos (para falar português) tendem progressivamente a contaminar-se com inúmeras ofertas de negócios, promoções, vírus, “phishing”, em resumo, aquilo a que se costuma chamar de “spam”.
Mas se agradeço ao inglês estes termos esquisitos (phishing e spam) que me permitem precisar o meu discurso, também lhe agradeço que aí uns 95 % desse correio venha escrito em inglês macarrónico, o “broken English”, permitindo-me a sua mais rápida identificação e imediata eliminação.
Já muitas vezes tenho pensado nos problemas de decisão que se deverão colocar a um falante de inglês quando recebe um “e-mail” com o assunto “your contract” e que eu, porque não tenho “contracts” mas apenas contratos, sou capaz de eliminar sem dó nem piedade com uma simples “clicada” de rato.

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