2004-04-02

Identificação

No Mandarim, Eça de Queirós faz-nos meditar sobre o nosso envolvimento emocional em função da distância e da proximidade, geográfica ou cultural. Teodoro nunca teria assassinado o Mandarim se o conhecesse ou vivesse perto dele, mas pouco hesitou em fazê-lo quando ele lhe era totalmente estranho e vivia a milhares de quilómetros de distância.
Veio-me isto à memória ao observar as ondas emocionais geradas pelos atentados terroristas: julgo que morreram tantos mortos em Bali como em Madrid e foram muitos também no Iraque, Arábia Saudita e Marrocos, todos humanos como nós, mas estando Madrid aqui tão próximo, conhecendo nós tão bem os espanhóis, identificamo-nos muito mais com eles, e partilhamos mais facilmente a sua dor. Sentimos, podia mesmo ser connosco.
Também no conflito Israelo-Palestiniano, já li esta reflexão algures, mesmo quando ideologicamente estamos mais próximos dos palestinianos, dificilmente deixamos de nos perturbar mais quando rebenta uma bomba num autocarro ou num restaurante israelita.
Morre gente vestida como nós, que inocentemente almoçava num restaurante, como nós por vezes fazemos. Podíamos ser nós. A morte, igualmente cruel, de palestinianos, com seus trajes diferentes e modo de vida estranho é sempre mais suportável nas emoções.
Creio aliás que é só isto que permite manter o apoio a Israel naquela guerra desigual entre David e Golias mas onde David não é, neste caso, o futuro Rei de Israel.

Sem comentários: