2004-04-27

UTOPIAS

O grande debate ideológico que se tem imposto à humanidade, explicita ou implicitamente e que verdadeiramente importa, não se insere se não marginalmente, no conflito entre ricos e pobres, homens e mulheres, esquerda e direita, governos e governados, cristianismo ou islão, crentes e não crentes, católicos e protestantes, Norte e Sul, capitalismo e comunismo ou outras como estas dicotomias.
A grande dificuldade que se coloca ao homem reside num único conflito: indivíduo vs sociedade.
Vamos conhecendo, através da ciência e através da nossa própria experiência aquilo que nos interessa, a cada um de nós, mas temos de nos confrontar, a cada instante, com o modo com aquilo que nos convém afecta terceiros, e lhes impede de serem aquilo que lhes convém a que igualmente, legitimamente, têm direito.
É esta a grande dificuldade que resume em si todos os conflitos e todas as lutas sociais.
Como cada um de nós é um só, todas as utopias que construímos são feitas à nossa imagem e semelhança, são sempre os mundos onde nós nos sentíamos bem.
Foi este discurso sugerido, pelo programa que acabei de ver na dois, com a presença do Dr. Pádua e de um empresário que cuidadosamente construiu a sua empresa livre de fumo e onde se criticava sociedade e governo por não construírem essa utopia de gente trabalhadora, feliz, longe de fumo, fazendo desporto, bebendo leite desnatado e água nos “coffee brakes”, com apoio médico e psicológico permanente, como é o seu direito e naturalmente com grande produtividade no trabalho e chorudos lucros para os patrões (que, no entanto diziam, não percebem esta evidência).
Eu, na minha idiossincrasia, achei aquele mundo tenebroso e confesso que me via mais feliz num abiente pesado de fumo e álcool, junto de amigos cultores do espírito, cantando ou dizendo poesia ou discorrendo sobre o sentido da vida.
Trocava sem hesitar uma vida até aos 120 anos na utopia do Dr. Pádua por uma vida até aos 70 neste meu mundo.
É aqui que a porca torce o rabo e nunca chegaremos a acordo, os dois modelos não são compatíveis.
É por isto que o “Admirável Mundo Novo” de Huxley é uma obra notável.
Creio que tanto o Dr. Pádua como eu, assim como 99% dos homens e mulheres de hoje, gostaríamos de viver nesse admirável mundo novo, há poucas críticas a fazer a essa perfeita utopia.
No entanto, o selvagem suicida-se porque não era livre.... não tinha a simples liberdade de poder contrair febre amarela ...

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