2009-10-22

De regresso ao admirável mundo velho

Cheguei e estou pousando ainda.
Vejo a controvérsia gerada pelas palavras de Saramago no lançamento do seu novo livro “Caim”, que eu não li nem tenciono ler.
O que disse Saramago já eu o digo há muito tempo, até neste blogue mas foi há tanto tempo que nem me dou ao trabalho de procurar o “link”, depois é uma mera evidência para quem lê a bíblia.
Interessante sim foi ver as posições contra que se ouviram, como se destrui uma evidência: minimizando o arauto, não sabe ler ou leu ingenuamente, não percebeu as épocas e as características de cada tempo, que a bíblia também tem o cântico dos cânticos, enfim desviando-se do essencial: O Deus judaico é um Ser vingativo mesquinho e cruel.
E a questão está aí, não são as histórias de homens de crueldade que a bíblia conta que incomodam, nem é mesmo o enxertado Novo Testamento que não tem nada a ver, são as posições Divinas, arbitrárias, caprichosas maliciosas, que a bíblia relata e que nos são apresentadas como modelo a utilizar.
Os exemplos estão lá por todo o lado a começar, de facto, nesse insólito episódio de Caim e a arbitrária rejeição da sua oferta de frutos da terra.
Que pai, bem formado, rejeitaria assim um presente de um seu filho elogiando o presente de um cordeiro de seu irmão Abel?
Que lição de vida se extrai disto que não seja a da injustiça e da iniquidade?
Mas chega de Saramago.
Hoje, finalmente conhecemos o novo governo.
Para mim só uma notícia me satisfez, finalmente vimo-nos livres de Jaime Silva o Ministro “tsunami”, o Ministro calamidade.
Basta que o novo seja um Ministro normal para que tudo melhore.

3 comentários:

Anónimo disse...

há, destrói - fora isso, é difícil não concordar - só uma questão: "não li nem tenciono ler"? E porquê? Para leigos, recomendo "Todos os Nomes".
dc

Nuno Jordão disse...

Caro dc
Em primeiro lugar: muito obrigado pelos seus reparos.
Tem toda a razão com o há, já corrigi, quanto ao destrói é uma velha birra minha porque destrui ainda é reconhecido, embora reconheça que vai morrer em breve porque o povo é quem manda e este instrui mas destrói, sem dúvida.
Quanto à razão porque não tenciono ler "Caim" é porque pressinto que não me vai dizer nada de novo. O episódio de Caim tem, para mim muito mais importância do que transpareceu em tudo o que ouvi a Saramago. Em "Ismael" de Daniel Quinn esse episódio é interpretado de outra forma, para mim, bastante mais esclarecedora porque interpreta a razão porque o episódio foi escrito assim.
Quanto a Saramago, em geral, não gosto da sua pontuação.
Note que não a critico, nem digo que é má, apenas não gosto porque leio aos bocados e os longuíssimos parágrafos fazem-me perder o fio à meada.O mal é meu.
Gostei muito do "Ensaio sobre a Cegueira", já não tanto do "ensaio sobre a Lucidez", depois o "memorial do Convento, comecei a ler várias vezes mas tinha sempre que recomeçar, pelo tal problema dos parágrafos longos até que desisti, tenho lido outros autores.

Pamina disse...

Pronto, não quer não lê. Eu também sou de telhas e tenho embirrações indefensáveis. Não considero a produção de Saramago muito homogénea em termos de qualidade literária. Se bem que o Memorial me pareça um livro superior. Quando li, tinha andado a estudar o Barroco e reconheci uma profunda compreensão da ideologia de crise dessa época, com todos os ecos do século XX. Quanto a Caim, não sou versada, mas vou ler. A discussão na imprensa também me pareceu muito estéril (de parte a parte) - é do burgo, é o que temos.