2009-08-21

Reflexão sobre a notícia do dia

Na praia de Albufeira existia, talvez há milénios, uma falésia avançada sobre a praia, tipo torre de Pizza, que prestava um enorme serviço aos banhistas, proporcionava sombra. Bem de grande valor para quem está à torreira do sol.
A sombra na praia hoje custa muito dinheiro, é um bem escasso, o aluguer de toldos, os chapéus-de-sol privados que temos de carregar, as esplanadas cobertas, onde as há, tudo se paga, mas ali havia a falésia à borla, a civilização ainda não tinha encontrado uma forma de cobrar por estarmos ali.
Naturalmente estava muita gente estendida à sombra da falésia.
As falésias, como toda a natureza, estão em permanente transformação, em ciclos variáveis, alguns ultra rápidos, como os vírus, alguns rápidos como as estações do ano, outros ainda lentos e outros mais lentos ainda, de milénios ou mesmo de milhões de anos.
As falésias estão numa escala longa, nascem, vivem e morrem em períodos, de milénios.
Mas, um dia qualquer podem desmoronar-se, se a erosão natural as moldar contra as leis da física.
Na nossa vida curta, de alguns anos, nunca esperamos que esse dia surja num momento que nos afecta. Tal como não esperamos que nos saia o totoloto embora ele vá saindo para alguns.
Hoje caiu a falésia de Albufeira, com todo o ritual de feridos e mortos.
A minha reflexão deriva para imaginar uma situação em que em vez de humanos civilizados, se encontrava ali um bando de chimpanzés.
Não conheço nenhum estudo sobre o assunto mas pressinto que todos teriam fugido antes do grande evento, leriam na poeira, nas pequenas pedras caindo, nos ruídos singulares, que qualquer coisa de anormal se passava e o seu instinto diria para saírem dali.
Da minha varanda, no Inverno, noto os dias em que muitas pombas e rolas que vivem à volta da minha casa se abrigam, amontoadas, por baixo dum pequeno alpendre de um prédio vizinho, quando isso acontece é certo que vem borrasca, ainda que olhando para o céu me pareça, no momento, que não.
Mas o homem civilizado esqueceu e despreza esses sentidos que também tem, crê que a civilização vela por ele, a falésia torta vai continuar assim e alguma entidade competente já tomou certamente as devidas providências.
Neste contexto, parece que de facto já tinha tomado, já havia um letreiro a avisar o perigo de derrocada.
O homem civilizado não vê o letreiro porque há demasiados letreiros ou se vê pensa que é o negócio das sombras que pôs o letreiro para tirar o acesso a essa sombra que a natureza proporciona gratuitamente. Quando a derrocada começa, estranha, mas não reage, não vão chamá-lo maluco.
A atenção civilizada passa apenas para a “máquina civilizacional” que não funcionou, porque não funciona nunca quando estas coisas acontecem.
A pedra que caiu em cima da minha perna e a partiu só foi retirada 2 horas depois, falhou, foi tarde. O letreiro era talvez pequeno e desbotado, falhou, ninguém reparou nele. Os mortos ficam soterrados horas sem fim, falha também.
Vendo isto, eu, um dia em que me encontrar nesta situação, gostava de ser como os chimpanzés porque há momentos em que as qualidades de macaco superam as dos deuses.
Como exemplo vemos que naquele enorme tsunami que há anos assolou alguns países da Ásia, numa ilha de população indígena pouco civilizada onde todos os “média” previam que tivesse havido grandes tragédias, isso não aconteceu e todos sobreviveram.
Porquê?
Porque conheciam os sinais dos tsunamis e fugiram a tempo para as zonas altas.
Ali não havia televisão nem rádio para avisar, tinham apenas ouvido os avisos da natureza e esses não falham nunca.

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