2009-08-25

Como o Mundo pode ser simples

Todas as ideologias se baseiam em simplificações do mundo.
Nem poderia ser de outra maneira, porque é a complexidade que reina, complexidade que transcende todas as capacidades humanas.
Como alguém já disse, ainda que tivéssemos um cérebro 100 vezes mais potente do que o nosso, ainda assim não o compreenderíamos totalmente, porque não disporíamos de outro instrumento para além desse mesmo cérebro e só poderíamos compreender o mundo através dele.
Como Auguste Comte referia a propósito da introspecção nunca poderemos observar-nos a nós próprios a passear na rua espreitando de uma janela.
E assim não temos outro remédio senão reduzir o mundo à nossa dimensão, o mundo é sempre como o vemos.
O que podemos discutir são as simplificações que uns e outros fazem, algumas bem primárias e simplificadoras
Por hoje, porque o ouvi há momentos, gostaria de comentar a visão de Paulo Portas, no que respeita à sociedade.
Paulo Portas vê no mundo uma ordem ideal, que consiste em trabalhar, assim ganhar o seu sustento honesta, digna e alegremente, constituir família e criar filhos que reproduzam este mesmo modelo de vida.
Depois reconhece que nem todos respeitam este modelo e define a sua ideologia deste modo:
Para o bom cidadão (o do modelo) todas as ajudas e consideração, para os malandros (que não querem trabalhar, como refere) nenhuma ajuda nem compreensão e toda a repressão para os obrigar a conformar.
Para Paulo Portas só não trabalha quem não quer, o desemprego é uma mera falta de empenho e de esforço.
Quem não tem meios para sobreviver, não merece sobreviver. Vá trabalhar malandro!
Paulo Portas considera que o mundo dá as mesmas possibilidades a todos, só que uns as agarram e outros não, e para esses é bem feita que sofram para aprenderem.
Se repararem bem vêm que todas as suas propostas são inspiradas e perfeitamente coerentes com esta visão do mundo.
Era, de facto tão fácil se o mundo fosse assim.
Só se deveria questionar ao analisar, por exemplo porque Camões morreu de fome.
Não trabalhava de certo, era um malandro, genial mas malandro.
Ou talvez ache que foi apenas porque ele, Paulo Portas e a sua ideologia não estava no poder.

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