2009-02-05

O Outelet da discórdia - Acto IV

ACTO IV

Cena I

No Escritório de Smitendpedro, este conversa com a Secretária

Smitendpedro
D. Secretária, Já há novidades do outlet?
Secretária
Telefonaram hoje a dizer que a licença está quase no papo, só falta uma porcaria qualquer que se vai ultrapassar rápido
Smitendpedro
A Senhora, já sabe, quando chegar o Sr. Friporte tem que estar caladinha
Nada de lhe dizer que o assunto já está quase resolvido, ouviu?
Secretária
Eu sei Sr. Smitendpedro.
Eu não sei nada de nada e também não quero perder o meu emprego
Smitendpedro
È que se ele pressentir que já está tudo resolvido, é bem capaz de me roer a corda.
Sabe como são estes capitalistas.
Secretária
Comigo pode estar descansado, sou surda e muda.

Cena II

Tocam à porta, a Secretária abre e entra Friporte

Smitendpedro
Ora seja bem-vindo a este pobre escritório Sr. Friporte.
Friporte
Bom dia meus senhores, vamos ao que interessa.
Como é que vai o licenciamento do “outlet”?
Smitendpedro
Mal, Sr. Friporte, este país é terrível, é um “PIGS”, só anda à custa de dinheiro. Ele é papelada, ele é motivar funcionários, ele é uma carga de trabalhos e fora as minhas despesas que são imensas.
Friporte
Adiante, adiante, o Senhor prometeu-me rapidez.
Afinal quanto é que precisa?
Smitendpedro
Uns 6 milhões, talvez já dê.
Friporte
6 milhões? Você está maluco? Para quê tanto dinheiro?
Smitendpedro
Sr. Friporte, isto tem Ministros e altos funcionários envolvidos, não julgue que eles vão lá por pouco.
O país é do terceiro mundo, mas as elites também gostam de viver bem.
Friporte
Bem? É mas é muito bem. Assim se calhar nem o investimento vale a pena.
Smitendpedro
Ora, ora Sr. Friporte aquilo vai ser um maná, em Alcochete, zona lindíssima e ainda por cima já se fala num novo aeroporto para lá.
Friporte
Bom, você leva-me à ruína mas está bem, para que não hajam desculpas.

Afasta-se e preenche um cheque

Friporte
Tome lá, e ande com isso depressa e não há mais, ouviu.
Smitendpedro
Muito obrigado Sr. Friporte, agora há condições para ficar tudo resolvido.

Cumprimentam-se e Friporte sai.

Cena III

Ficam Smitendpedro e a Secretária

Smitendpedro
D. Secretária, parece que nos safámos. O cheque já está aqui na mão.
Secretária
Eu guardo-o no cofre, é muito dinheiro.
Smitendpedro
É melhor, para já, mas comece já a tratar para o depositar nas Ilhas Caimão, na minha conta, ouviu?
Sabe como fazê-lo?
Secretária
Oh Sr. Smitendpedro, então não havia de saber?
Não tenho feito outra coisa desde que trabalho consigo.
Smitendpedro
Está bem mas agora é muito dinheiro, tem que fazê-lo rápido e nem uma palavra a ninguém.
Secretária
Não se preocupe Sr. Smitendpedro, amanhã já lá vai estar e, como sabe, eu aqui sou sempre surda e muda.

Cena IV

Passados uns meses na casa de Tio que voltando-se para a plateia, profere o seguinte solilóquio.

Tio
Como no teatro, o actor só brilha porque outros, no escuro e no silêncio manipulam milhares de cabos que comandam cenários e cortinas, orientam os holofotes para o centro da acção, que sem esses holofotes não seriam mais do que mais um recanto escuro.
Mas é assim o mundo injusto, onde uns se esforçam e permitem tudo, outros por engenho ou um acaso da sorte tomam para si esse sucesso e é sobre esses que recaiem as benesses.
Quem, se não eu, abriu as portas do poder a Smitenpedro?
Quem, se não eu, permitiu que o capital se implantasse em Alcochete?
Todavia dos 4 milhões que diziam que tinham, nem um tostão me chegou!
Já é ter azar!

Senta-se pesaroso e o pano desce

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