2007-08-14

Fiz um poema

Chamei-lhe “esquizofrenia”
É assim:

Esquizofrenia

Meu nome é pseudónimo embora tenha vida,
Tem passado, presente e futuro provável.
O sobrenome é de rio da terra prometida,
O nome é de luso herói, de condestável.

Como Nuno Jordão assino as minhas obras,
Nome de guerra para enfrentar manobras.

É nome armadura e traje de passeio,
Com ele represento o dia a dia,
Com ele exprimo a verdade e com ele falseio,
Até que um dia desça à terra fria.

Mas outro é o meu nome verdadeiro,
Outro é o cerne do meu ser primeiro,

Chamo-me Pentalomino de Arifante,
Trago nobreza no meu sangue ardente,
Tenho braços de leão e coração de amante,
Senhor de mim, maior que toda a gente.

Já enfrentei D. Quixote, perdido no tempo,
Com o meu exército de moinhos de vento.


Li o poema mas não gostei, via-o recitado num salão dos Gouvarinhos, ou algo assim, recitado por um jovem bacharel bexigoso, com ênfase discursiva e provocando tremuras de emoção em muitas belas damas, escondendo o seu rubor por trás de um leque.
Sublime, diriam !
Mas eu estou no século XXI, o poema é anacrónico, tenho que ser um homem do meu tempo, vou voltar a escrevê-lo.
Saíu isto:

Esquizofrenia

O meu nome não é nome,
Apenas pseudónimo utilitário,
Como Pessoa dei-lhe vida e horóscopo,
Tem ressonâncias de herói,
Desfaz-se em água por fim.

Nuno Jordão, nome banal para assinar papéis
E assim desafiar os infiéis.

É nome de combate e de recreio,
Anda sempre comigo,
Serve-me para a verdade e para a mentira,
Assim será para sempre certamente.

Mas eu não sou apenas Eu,
Sou mais o outro que também sou eu.

Sou Pentalomino de Arifante,
Herói de fábula e pleno de nobreza,
Tenho comigo a força do sonho,
E sou gigante, olho de cima a natureza.

Já combati D. Quixote numa Mancha imaginária,
Levando comigo os meus moinhos guerreiros

Meu Deus, ainda não é isto, parece-me que não envergonha mas não tem génio !

Tentei então uma versão tipo Abrunhosa, sempre é mais fácil e alguns visitantes deste blogue parecem gostar do estilo.
Aqui está ela:

Esquizofrenia

O meu nome é uma quimera que percorre a cidade,
Sou um fantasma da noite que afronta a liberdade,
Não sou o meu nome, apenas a saudade.

Vivo no punho da minha espada alada
Enfrento exércitos de luz e nada
Eu sou só a realidade !


Não, não sou capaz, vou limitar-me à essência e disfarço a minha incapacidade de dizer o indizível, com esta expressão maliciosa: “se não compreenderem que se lixem !”

Esquizofrenia

Não sei quem sou.
A realidade é um sonho !
O sonho é a realidade !
O meu nome é apenas um instrumento do espectáculo.
O meu nome é um pseudónimo.
Talvez eu seja de facto, e só, o meu pseudónimo.

Desculpem-me, não tento mais, desisto !
Ou talvez o meu poema seja todo este poste !

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