2005-06-29

Referendo sobre o aborto

Sócrates defende o referendo em 2005, Marques Mendes em 2006, eu, cá por mim, 2002 é que tinha sido um ano bonito, até era capicua.
Agora, não sei o que lhes diga sobre esta momentosa questão, 2005 ?, 2006 ?, pelo meu critério seria 3003 mas já devemos estar todos mortos por essa altura.
Graças a Deus temos os nossos políticos a queimar os seus neurónios com estas grandes questões nacionais:Que ano escolher, carago.

2005-06-28

Afinal foi falso alarme

Pois é, a deslocalização do nosso Estado, como noticiei no último poste, já se não vai concretizar.
Segundo as nossas fontes bem colocadas, não houve um só país que aceitasse a instalação do nosso Estado.
- Para merda já basta a que temos, penso que chegou mesmo a dizer o Primeiro Ministro de um dos países contactados.
Rapidamente teve de se passar ao plano B, que segue:
Como todos sabemos e não se cansam de nos lembrar, os nossos políticos ganham uma miséria e isto impede a atracção dos mais capazes e competentes.
É aliás por esse motivo que temos a classe política que temos ou, como dizem os americanos, quando se paga com amendoins não se pode esperar mais do que trabalho de macaco.
Por outro lado, temos um funcionalismo excelente, como todos sabemos também, e isto apenas porque são regiamente pagos, como nos recordam diariamente, permitindo atrair assim os mais competentes.
Ora deste modo a bota não dá com a perdigota e, como os tempos não estão famosos, não sendo possível equiparar tudo por cima, só resta uma solução: equiparar tudo por baixo, levar definitiva e absolutamente a mediocridade ao poder e à administração.
É aliás esta súbita mudança estratégica que explica os erros, perdão, as incorrecções apresentadas no recente orçamento rectificativo.

2005-06-24

Segundo fonte bem colocada.

Cresce em círculos ligados ao Governo a ideia da sua deslocalização para um país do Leste da Europa ou, eventualmente da Àsia, seguindo os múltiplos exemplos da economia privada e a fim de beneficiar da mão de obra barata aí praticada.

- Na Eslováquia, por exemplo, podemos beneficiar de um funcionalismo público, extremamente competente e de grande produtividade, sem os custos exorbitantes do funcionalismo português.
Nesta época de globalização e de novas tecnologias de informação, nada impede a gestão do país à distância permitindo a resolução definitiva do insuperável problema do défice.
O Património que não poder ser transportado será vendido em hasta pública.
A educação poderá recorrer à telescola e, para as forças de segurança, bombeiros e serviços afins que exijam a presença física de funcionários tiraremos partido da directiva Bolkestein, e pensamos utilizar, por exemplo, uma polícia Romena.
Também para o combate à evasão fiscal pensamos contratar fiscais Finlandeses ou Suecos.

Disse-nos a fonte bem colocada.

Entretanto os sindicatos ligados à função pública parece que já estão a organizar piquetes para impedir a saída do vasto equipamento e arquivos das diferentes repartições e serviços.

- Eles podem ir para o raio-que-os-parta mas nem um agrafador há de sair daqui.

Confidenciou-nos um dirigente sindical, também bem colocado.

2005-06-21

Será que eu é que estou maluco ?

No seu artigo de opinião, publicado hoje no DN, Joana Amaral Dias combate a intenção de se criarem círculos eleitorais uninominais com o seguinte raciocínio que transcrevo:

“Este método é a pior forma de regionalização possível, porque o candidato eleito representa os interesses do seu eleitorado e não obrigatoriamente do seu partido (e muito menos do país).”

Pois é Joana, eu é que não estava a ver bem a coisa, imagina a nossa desgraça quando os deputados começarem a defender os interesses de quem os elege, era só o que faltava !

2005-06-20

Por uma questão estatística

Porque a qualidade não se impõe por si, necessariamente.
Pelo que me ensinam a experiência e as pérolas que vou encontrando, por vezes no meio do mais fétido lixo.
Vivo a angustia de saber que a melhor música ainda não a ouvi, o melhor filme ainda não o vi e o melhor livro ainda não o li e, mais do que provavelmente, nunca os descobrirei.

2005-06-19

O fracasso da Cimeira Europeia

José Sócrates, comentando o fracasso da cimeira europeia referiu que os países europeus não se libertaram de uma visão egoísta da Europa e limitaram-se a considerar o que cada um pode ganhar ou perder com a decisão tomada.
Vendo-o tão consciente desta verdade, pressuponho que essa pouco relevante questão não ocupou demasiado o espírito de Sócrates durante a negociação.
Antes assim.

2005-06-16

De Álvaro Cunhal que dizer ?

Foi um homem notável, mesmo admirável, contudo não encontro os adjectivos necessários para explicitar a razão de o considerar assim.
A Coerência que se lhe atribui muitas vezes, ainda que seja uma virtude rara, muito rara hoje em dia, não é necessariamente boa: Hitler também foi coerente e, muitas vezes essa mesma coerência pode diluir-se legitimamente na teimosia ou caturrice.
A Inteligência que nele era notória é o produto de um mero acaso genético, por si não dignifica o homem.
Há também a verticalidade, que tinha decerto, mas que traduz uma noção de contornos vagos.

Enquanto procurava as palavras adequadas para dizer aqui porque admiro Álvaro Cunhal, ouvi alguém, creio que Rosa Lobato Faria, lembrar palavras de Sá de Miranda que na sua linguagem poética dizem muito mais do uma estrita análise semântica sugere.
Creio que ela as dedicou a Eugénio de Andrade mas, para mim, vão direitinhas para Álvaro Cunhal.

Homem de um só parecer,
Dum só rosto, uma só fé,
Dantes quebrar que torcer,
Ele tudo pode ser,
Mas de corte homem não é.

2005-06-12

“Private Joke”

Não sou amante da praia, ainda que goste do mar, aquelas longas horas silenciosas, que passamos seminus, voltados todos para o mesmo lado, de olhos fechados ou olhando um horizonte longínquo, suados, picados de areia, torcendo os corpos, para encontrar uma posição com um mínimo de conforto, ora deitados, ora sentados ou, poucas vezes, deambulando sem objectivo perceptível, faz-me questionar sempre que sentido faz tudo aquilo.
Mas seja lá por que razão for, a praia parece fascinar muita gente e quando sou “forçado” a acompanhar os meus, nunca deixo de me vingar do facto, comentando para quem me acompanha:
- Olha em volta e diz-me se toda esta gente, esfarrapada, de ar triste (porque na praia a maioria tem sempre um ar sisudo e triste), sentados ou deitados lado a lado, sem trocar uma palavra, não se parece mais com um grupo de refugiados, sem abrigo, num campo de concentração, do que o de alegres veraneantes ?
Se isto é uma “private joke” que repito sempre que me encontro nessa situação, ao ver ontem as imagens da polícia de intervenção, em Carcavelos, armada de metralhadoras e calçados de pesadas botas guardando os banhistas, pareceu-me que a minha “anedota” se começa a transformar numa imagem assustadoramente real.

2005-06-10

Referendos

Em Portugal, e não só, a figura do referendo, ao contrário do que se possa pensar, não visa dar ao povo a capacidade de decidir em questões concretas, não senhor, o que se pretende é apenas a legitimação de políticas já decididas.
E este equívoco é encarado da forma mais natural, ao ponto de se discutir os recentes casos francês e Holandês não como uma decisão legitimamente tomada mas antes como um embaraço processual ao qual ninguém sabe ainda como dar a volta.
Note-se que apesar da minha insistência nesta incoerência democrática, o meu coração até pende mais para o sim a esta carta constitucional, mas isso é uma questão comigo mesmo, apenas.

2005-06-05

Dia mundial do ambiente

Os pescadores de Sesimbra parece que estão preocupados com as restrições à pesca que lhes estão impondo e que põem em causa a sua sobrevivência.
São loucos, se não se preservar muito bem aquele parque paradisíaco, que graça terão as casas que o Sr. Ex-Ministro do ambiente e outros lá construíram com coragem e determinação, contra ventos e marés, pondo mesmo em risco as suas carreiras.
Sesimbra é evidentemente para todos, ainda que usufruída através dos seus legítimos representantes.

2005-06-02

A lição dos não

Não sei bem por quê ou para quê, os responsáveis políticos insistem que o processo de ratificação do tratado constitucional europeu tem de continuar e referem com tímida esperança que já mais de 10 países disseram sim e apenas 2 optaram pelo não.
Só não dizem o facto mais significativo, tirando a Espanha, só os parlamentos disseram sim (também em França e na Holanda o diriam, sem dúvida), porque ao perguntar ao povo a resposta que está a aparecer majoritária é o não.
Só este facto deveria fazer meditar muita gente.