2010-01-31

Caladunum, um Post do coração

Caladunum era o nome romano da actual cidade de Mirandela, nome que atesta a sua existência milenar.
Obteve foral por D. Afonso III a 25 de Maio de 1250.
Foi elevada a cidade apenas a 28 de Julho de 1984.
Em 1919, por Publicação de um Decreto governamental, foi conferida à Vila de Mirandela o oficialato da Ordem da Torre e espada, do Valor, Lealdade e Mérito.
Tudo isto, são dados que recolhi hoje, numa breve pesquisa no Google.
Porquê esta pesquisa? Eu conto:

Acto I

Na minha infância, pelos anos 50 do passado século, nas histórias que ouvia contar a meu pai sobre os seus tempos de estudante, havia um nome de um colega, companheiro de pândegas, que na minha memória ficou assim: “Alberrto Maurrício Carrvalho Neto”.
Os duplos rr são propositados. Na minha memória o nome era esse, porque era assim que o meu pai o pronunciava, talvez recordando interiormente qualquer história privada da sua vida.

Acto II

Em 1986 fui viver para Mirandela e conheci a personagem: Alberto Maurício Carvalho Neto.
Era um homem já idoso, da idade que o meu pai teria se ainda fosse vivo, agricultor abastado de Valbom dos Figos, com muita descendência, entre a qual, alguns meus colegas de trabalho, e mesmo netos que se cruzaram com os meus filhos na vida de estudante.
Significava isto que, por um mero acaso da sorte, 3 gerações de Jordões e de Carvalhos Neto se cruzaram na vida.
Para meu espanto Alberto Maurício, não carregava nos rr, embora reconhecesse razão de ser e não estranhasse essa pronúncia que o meu pai usava. Eles lá sabiam porquê.
Enquanto lá estive, em Mirandela, visitou-me muitas vezes, trazendo-me fruta, couves e outros produtos da terra.
Embora fosse um homem abastado, trajava simplesmente e usava um carro bastante velho, com a chapa corrompida e já furado no chão (para travar com o pé, como me dizia com humor).
A minha empregada dizia-me, muitas vezes quando chegava a casa: “Esteve cá o Sr. da fruta”, O Sr. da fruta, para ela, era Alberto Maurício.
Alberto Maurício foi o meu primeiro professor de Mirandela, cidade notável, um enclave burguês, de comerciantes, numa vastidão de território dominado por uma aristocracia rural.
Essa característica curiosa burguesa da identidade Mirandelense, tem vindo a ser a ser confirmada na minha própria reflexão.
Explica, por exemplo a fama das alheiras ditas de Mirandela, como pólo comercial de belíssimas alheiras de uma região muito mais vasta, tal como o vinho dito do Porto ganha o seu nome pelo centro que o comerciava para o mundo.
Para provar esta característica burguesa de Mirandela, Albeto Maurício contou-me a história heróica do papel de Mirandela ao suster a contra-revolução monárquica (apoiada pela aristocracia rural), junto à estação de comboios, com meia dúzia de GNR e muitos, muitíssimos populares, que acorreram a suster, à pedrada, à gadanhada, à machadada, como puderam, a chamada Monarquia do Norte.
Essa vitória de Mirandela, em 1919, foi decisiva e reconhecida, foi o que deu origem à condecoração da então Vila com o Oficialato da Torre e Espada, Valor, Lealdade e Mérito, que referi acima.

Acto III

Hoje, no ano da graça de 2010, comemoramos os 100 anos de república, comemorou-se hoje mesmo o 31 de Janeiro no Porto como acontecimento precursor de 1891.
Eu creio que seria de toda a justiça que Mirandela comemorasse e mostrasse ao país e ao mundo o seu papel heróico na defesa dessa mesma república em 1919.
Infelizmente, mesmo muitíssimos mirandelenses não sabem disto ainda.
Fica aqui o meu apelo a Mirandela “Conta esta história!” e à sua Câmara Municipal “Exibe com orgulho esta medalha!”, que deve estar esquecida nalgum caixote ou no fundo de algum baú.

2010-01-26

A teoria da conspiração

Quando alguém não se sente satisfeito com o pensamento único e o questiona, é vulgarmente rebatido com este argumento simplista e, injustamente, demolidor: “isso é teoria da conspiração” e assim se pensa reduzir as fundamentadas dúvidas e questões à categoria de mero pensamento delirante e fora da realidade.
Já assim foi com Copérnico e Galileu, quando questionaram o pensamento único de então.
Hoje, já não há a santa Inquisição e o poder da Igreja mas existe outro poder não menos poderoso e eficaz que elimina toda a contestação com esta frase que nada rebate e nada significa, tudo o que o questione é chamado de teoria da conspiração.
Mas há momentos em que as incoerências do pensamento único falam tão alto que se torna difícil não lhes dar atenção.
È o que se tem passado com esta famosa gripe A.
Hoje uma importante figura do Parlamento Europeu levantou a questão ao mundo, pediu explicações e limitou-se a expor factos indiscutíveis: Alarmismo excessivo da OMS e um ganho desproporcionado de alguma indústria farmacêutica.
Os filmes que seguem estão há meses no you tube, e explicam factos preocupantes desta realidade numa voz calma e supostamente sabedora.
A quem quiser conhecer a outra face da gripe aconselho a que veja este 6 filmes, se é que os não viu já.
Para quem quiser ir mais longe ainda, na tal teoria da conspiração, pode procurar no mesmo you tube algumas entrevistas a Jane Burgemeister.
E julgue, neste caso e noutros, pela sua própria cabeça.












2010-01-22

Uma lufada de ar fresco

No “fórum” de hoje da RDP e da RTPN discutiu-se a situação do PSD e a candidatura à liderança de Pedro Passos Coelho.
Como era de se esperar havia vozes contra e a favor.
A generalidade das opiniões a favor valorizava o aspecto inovador, novo, talvez diferente que seria a gestão de Pedro Passos Coelho, “é uma lufada de ar fresco” disseram alguns.
Eu também acho que sim, Passos Coelho seria uma lufada de ar fresco, sem dúvida, e daí o meu receio:
Será que essa lufada não nos irá constipar, ou pior ainda, dar uma pneumonia a nós todos?
Safa!

2010-01-16

O terrível sismo no Haiti

1. A potestade que lá no Olimpo está encarregada de, de quando em vez, soltar a fúria dos elementos, não tem demonstrado nenhum bom senso ou sentido de justiça.
Bem podia arrasar wall street ou coisa que o valha, punindo aqueles financeiros todos que andaram a gozar connosco, mas não, logo vai escolher um dos povos mais pobres e martirizados do mundo, vai bater no ceguinho.
Razão tem a canção: “Deus é um cara gozador, adora a brincadeira…”

2. Os media surpreendem-se sempre muito com aquilo que acontece sempre, a onda maciça de solidariedade que calamidades destas geram sempre a todos os níveis.
Os seres humanos, na generalidade, são assim mesmo, independentemente de nacionalidade, raça ou cultura, comovem-se com a desgraça alheia e injusta quando a vêm. O que é triste, mas não incómoda os media, é a insensibilidade geral perante as pequenas calamidades do dia a dia que vão destruindo vidas igualmente, como o desemprego e a miséria crescente.

3. A ajuda humanitária tem demonstrado uma total insensibilidade e inépcia, com algumas poucas excepções.
Num país arrasado, população sem teto, com fome sede e mortos pela rua aguardam dias e dias para que a água e alimentos amontoados no aeroporto, sejam canalizados para quem deles precisa de forma bem planeada e bem gerida.
Depois estranham que pessoas desesperadas lutem pela sobrevivência a todo o custo gerando o que chamam de saques e desacatos.
Há situações em que a assistência tem de ser já. Esta é uma delas.

2010-01-10

Pano para mangas

O matrimónio Gay, já aprovado, na generalidade, na Assembleia da República, ainda nos trás alguns pontos de reflexão para além do que já escrevi no poste abaixo.
Em primeiro lugar a ideia da adopção, que até ao momento está excluída da proposta aprovada, estúpida e inexplicavelmente.
Qualquer cidadão homossexual, pode se candidatar a adoptar uma criança, porque será que dois cidadãos homossexuais unidos em matrimónio não o poderão fazer?
Isto apenas demonstra com o PS avançou para esta proposta sem qualquer convicção ou reflexão, sem saber o que fazia, em suma.
Casamento sim, porque é moderno e bonito mas adopção não porque não nos parece bem, nem ás pessoas, sei lá, é melhor deixar assim, depois se verá.
O que O PS não considerou, nem lhe passou pela cabeça, é que com esta alteração semântica do significado de casamento não consegue, mesmo assim ultrapassar a diferença biológica que faz com que só as mulheres tenham o dom de gerar uma nova vida. Assim um casal gay feminino pode sempre recorrer à reprodução assistida e gerar uma criança, o que os casais gays masculinos estão impossibilitados de fazer, pelas leis da natureza que o PS, para seu desgosto, ainda não conseguiu alterar e assim, como estes casais não podem também adoptar uma criança, estarão legalmente e inelutavelmente excluídos da função de criar um novo ser humano.
Espero que não se lembrem de proibir que as mulheres gay gerem filhos. Seria uma medida contra a corrente, contra o espírito do tempo, contra o “Zeitgeist”, não o farão, certamente.
Um outro aspecto paralelo e marginal é a aberração da disciplina de voto que foi exigida nesta votação como tem sida noutras.
Que sentido fará nós votarmos e elegermos centenas de deputados se depois eles podem ser proibidos de utilizar a sua própria cabeça e o seu próprio juízo nas tomadas de decisões.
A disciplina de voto é um insulto a quem colabora neste sistema de representação.
Contudo, estranhamente, mesmo quando sopra um vento de liberdade e de tolerância, a disciplina de voto, a proibição de pensar diferente, é combatida e punida ao modo Talibã e os media e a opinião publicada em geral apoiam isto como se fosse uma coisa natural.
Aqui tenho que perguntar como o Rui Santos: Mas afinal que raio de democracia é esta?

2010-01-07

Divagações sobre o “casamento” homossexual

A quem se interesse por analisar a política como desentendimento, esta polémica proporciona-nos um verdadeiro estudo de caso.
A questão essencial parece ser a do reconhecimento social de outros tipos de uniões de afecto, que permitam a cada membro de uma parelha homossexual ser reconhecido como tal, tendo todos os direitos inerentes, direito de visita em caso de doença ou prisão de um do membros, direito de partilha de bens, de herança, enfim de todos os direitos que estão, até agora, salvaguardados para os membros de um casal.
E esta reivindicação é justíssima, ninguém, com sentido de justiça, poderá discordar dela.
Como sempre o problema surge apenas com as palavras e o seu significado.
Daí que se discuta:
Dizem uns que se os direitos perseguidos são idênticos aos dos casais, basta alargar o conceito de casal e de casamento, a pares do mesmo sexo.
Parece simples e dá uma resposta de facto ao problema inicial, acontece porém que isso que fere a sensibilidade de muitos de nós, casamento e casal têm um valor semântico preciso e envolve um par constituído por 2 indivíduos de sexo diferente, quando o sexo é irrelevante falamos de pares e parelhas não de casais e de casamento.
A este propósito conto uma história real: Tenho um amigo que em certo momento se dedicou à criação de perdizes para repovoamento e, para iniciar a actividade, encomendou x casais de perdizes. De início teve algum prejuízo porque o fornecedor não lhe vendeu casais, devidamente compostos de uma perdiz e um perdigão, mas apenas pares do mesmo sexo, o certo é que a produção não arrancou ali, não nasceram os esperados perdigotos.
O caso foi comentado entre os amigos como quase anedótico, hoje porém se o caso fosse à justiça uma atenta defesa do fornecedor pudesse invocar essa alteração semântica da palavra casal e justificar assim o seu erro clamoroso.
Mas quem defende o casamento homossexual rebate este problema semântico aumentando a confusão semântica e referindo que ao que nós chamamos casamento deveríamos apenas chamar matrimónio. Uma consulta ao dicionário aponta todavia matrimónio e casamento como palavras sinónimas, defender o casamento homossexual é exactamente o mesmo do que defender o matrimónio homossexual.
A questão complica-se com a discussão do referendo. Como é mais do que expectável que um referendo chumbaria a questão, o debate sobre o casamento homossexual transfere-se para o debate sobre o referendo, os que são contra apoiam o referendo e os que são a favor combatem o referendo e ninguém discute seriamente se se justifica ou não o refendo.
Eu, por exemplo, que sou favorável ao reconhecimento de um qualquer instituto que legitime a união homossexual embora seja contra o casamento homossexual, pelas razões que referi, sou igualmente contra o referendo mas por razões específicas desta figura constitucional.
Há tempos quando se discutiu o eventual reconhecimento do direito à eutanásia, ouvi uma declaração de uma tetraplégica que defendia a eutanásia comentar assim os debates que se desenvolviam sobre o assunto: “o que é que eles sabem disto? Como vão decidir algo sobre o qual não têm a mínima ideia?”. Estas palavras sábias inspiraram-me a que eu fosse contra o presente referendo também, de facto o que é que eu ou qualquer dos votantes heterossexuais sabe do assunto sobre o que vai decidir?
Não me parece justo referendar o que deverão ser os direitos de um grupo particular.
Por último acho interessante como se invoca o direito constitucional à não descriminação para defender este alargamento semântico da palavra casamento e pergunto a mim mesmo se não se terá de aceitar, pelas mesma razões constitucionais, um cego que queira ser árbitro de futebol?
Afinal de contas a questão parece descabida pois essa profissão já tem muitos ceguinhos ou pelo menos é o que parece às vezes.

2010-01-05

Morreu Llasa de Sela

Foi no passado dia 1, no primeiro dia do ano, mas a notícia só me chegou hoje pela TSF.
Llasa tinha 37 anos de idade e não resistiu a um cancro da mama.
Que dizer de Llasa ?
Era uma excelente e versátil compositora e interprete mas mais do que isso era um ser humano notável.
Lhasa era filha de um pai mexicano e de uma mãe americana, ambos hipies, não por moda mas por convicção, como ela afirmou numa notável entrevista de Carlos Vaz Marques no Programa Pessoal e Transmissível donde aliás retirei muito do que vou escrever aqui.
Teve uma educação informal, nunca andou numa escola, como nós, foi ensinada pelos seus pais e sobretudo pelos livros. Canta em Espanhol, Inglês, Francês, Português, e em línguas mais exóticas e a sua voz muda consoante a língua que usa. O seu sonho era cantar em árabe para um público americano, como um “statement”, “por razões políticas?”, perguntou-lhe Carlos,”não, o que me trava é precisamente o aproveitamento político que decerto farão, era apenas por razões humanitárias”, respondeu.
Não compreende o termo inimigo, “como é que um ser humano pode chamar inimigo a outro ser humano?”, perguntou.
Mas o melhor é ouvi-la.
Aqui fica graças ao youtube.


2010-01-03

Que ótimo

Parece que já entrou em vigor o novo acordo ortográfico.
Eu vou tentar adotar.
Albarde-se o burro à vontade do dono e espero que a média de erros cometidos se mantenha no nível, já elevado, habitual.