2009-06-13

Homenagem ao DDT

O meu neto Pedro, como imensas crianças da sua geração, ultrapassou há dias um ataque de piolhos na cabeça.
Antes dele, noutra geração, a sua mãe e minha filha tinha vivido, em criança, como muitas crianças do seu tempo, o mesmo problema.
Todavia, ainda mais atrás, na minha infância, nunca contactei nem vi, nem ouvi falar de nenhuma criança com piolhos na cabeça,
Sabia que existia essa praga, ouvia histórias aos meus pais e avós sobre piolhos, que se combatiam então essencialmente com meios físicos e mezinhas caseiras, com lavagens e com o “pente fino” ou “pente dos piolhos” mas isso era passado, as crianças da minha geração, em Portugal, não tiveram piolhos, foram, como se diria agora mais ou menos “piolhos free”.
Hoje a minha filha Joana referiu-me que alguém sabedor explicava o facto chamando à minha geração a geração DDT.
É bem verdade, eu vivi a epopeia gloriosa do DDT.
O DDT foi um verdadeiro milagre da civilização, que sobretudo nos anos da II Guerra Mundial e seguintes, colocou a favor da humanidade, na sua eterna luta contra diversos insectos, uma arma de respeito.
O DDT permitiu eliminar a malária de vários países do mundo inclusive Portugal, onde antes era endémica.
Durante a guerra as cabeças dos soldados eram frequentemente polvilhadas com DDT para combater precisamente os piolhos e combateu-os deveras, na minha infância, como referi, os piolhos eram apenas uma história passada e triste.
Foi já como estudante da universidade que contactei com vozes anti-DDT, anti a droga milagreira.
Foi então que li o famosíssimo livro “Silent Spring” que a bióloga Rachel Carson publicou em 1962, lançando a primeira pedra do movimento “verde” mundial e onde se apontavam os danos do DDT e se referia que até no corpo de pinguins inóspitos se tinham encontrado vestígios de DDT.
Os problemas eram de duas ordens:
A acumulação permanente de um veneno.
A perturbação ecológica que causava esta alteração tão drástica de relação de forças.
O DDT matava insectos em pequenas doses mas não era bio-degradável e a tendência era para a sua acumulação permanente e, em doses maiores, os danos eram maiores e estaria a causar um desequilíbrio biológico perigosíssimo.
Na realidade o mundo ouviu Rachel Carson e o DDT foi proibido em todo o mundo, e a comunidade científica e de investigação percebeu a importância da lei de Lavoisier, que ao referir que na natureza tudo se transforma, não fazia apenas uma constatação de um facto mas estabelecia um dos princípios básicos da natureza, chave da sua sustentabilidade.
Teve assim, felizmente, uma vida curta o DDT, mas a humanidade pagou o preço de ter de sofrer outra vez a praga de piolhos e quejandos.
O saldo todavia, porque essa vida foi curta, está ainda a crédito dessa substância: o DDT salvou muito mais vidas humanas do que as que prejudicou.
Permitiu à humanidade aprender uma grande lição que todavia vai sendo, de novo, progressivamente esquecida.

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