2005-11-20

A greve dos Professores

Não foi no Uíge em Angola, foi em Carmona, no Estado de Angola e se bem que geograficamente não haja diferenças entre estes dois locais elas existem e são necessárias para precisar o contexto.
Como de costume, passava as terdes de fim de semana no aeródromo, confraternizando com os pára-quedistas amadores e beberricando cervejas no bar do aeródromo.
Naquele dia, enquanto conversava numa mesa, um rapaz lavava energicamente os largos painéis de vidro que separavam o bar da esplanada.
Terminada a tarefa, surgiu a patroa para apreciar o trabalho feito e, ainda que todos nós víssemos vidros limpos, resplandecentes, ela apenas via grandes manchas de sujidade, não sei bem se no vidro se na sua cabeça: “este trabalho está uma porcaria”, disse, “não mereces o que comestes, hoje não te pago”. O rapaz calou-se, pesou o semblante mas resignou-se e eu percebi como é tão natural quebrar contratos quando se tem toda a força e o poder na mão.
Aliás esta prepotência é velhíssima ainda mesmo antes de Labão, pai de Raquel, serrana bela, e persiste ainda com naturalidade quando Sócrates diz aos funcionários públicos “O vosso trabalho é uma porcaria, estão a arruinar o Estado, têm de trabalhar mais 5 anos antes de se reformarem”. Nós, também não gostamos mas calamo-nos, para quê refilar se são eles que têm toda a força e o poder.
Foi assim interessado que vi os professores passarem à acção, julgando eu que para combater a prepotente alteração de contrato decidida pelo Governo, mas não, segundo o que fui ouvindo, a questão principal não era essa, antes pelo contrário, o grande motivo de descontentamento era uma simples medida racional do Governo: que professores disponíveis na escola substituam os seus colegas que faltem ainda que noutra matéria ou com outra actividade.
Os Professores parece que têm uma concepção da educação aos quadradinhos, no horário de inglês não se pode aprender matemática ou filosofia, ou vice-versa, só a matéria que estava previamente definida, parece que o cérebro dos jovens não capta a essência da “química” nas horas em que se preparou previamente para os segredos da biologia, prevista no horário.
Afinal é isto que apoquenta os professores, ora que porra !

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