Eu já desconfiava que aquele argumento, mil vezes repetido, por comentadores e políticos e até, sobretudo, por comentadores-políticos, segundo o qual o aumento das remunerações de gestores públicos e políticos é fundamental para atrair os mais qualificados, não é perfeitamente linear.
A minha desconfiança fundamenta-se em duas ordens de razão:
Em primeiro lugar a simples observação: vemos agora que as remunerações de políticos e gestores públicos têm aumentado muito significativamente, quer de forma directa quer indirecta, sem que se descortine a tal qualidade desejada, antes pelo contrário, (a má moeda tem, de facto, expulsado a boa).
Em segundo lugar o mero raciocínio lógico: A partir de certo nível o acréscimo de remuneração atrai, mais do que a qualidade, a mais sórdida ambição.
Lembro-me aliás de um interessante modelo formal apresentado pelo saudoso Professor Alfredo de Sousa que correlacionava os níveis de remuneração com os da produtividade, concluindo que essa correlação era positiva até certo limite (o que permite uma vida com um quotidiano confortável) tornando-se negativa a partir desse ponto.
Ou seja: o excesso de rendimento só parece ser útil se puder ser usufruído e, para isso, exige mais lazer (se não quando é que eu posso passear no meu iate ?) e consequentemente com menor dedicação ao trabalho que confere a dita remuneração.
Se esse excesso o permitir até poderei pagar a alguém para fazer o trabalho que eu deixo de fazer, remunerando-o ao nível que, no fundo, deveria ser o meu.
Por tudo isto quando ouço esse argumento de que os políticos e gestores públicos estão mal pagos, soa-me sempre a “canção do bandido” para levar discretamente a água ao seu moinho.
Mas isto sou eu que penso assim porque a generalidade dos media e da opinião pública tem tido este argumento como bom.
Foi assim com espanto que ouvi hoje o Sr. Ministro Alberto Costa dizer esta coisa espantosa:
- As defesas oficiosas que o Estado paga, a advogados, para assegurarem a defesa de cidadãos mais pobres têm sido muito deficientes, logo:
- Vamos reduzir a metade a dotação para o efeito.
Ao contrário do “coro” habitual o raciocínio de Alberto Costa é:
- Pague-se menos que tudo vai correr melhor !
E a verdade é que, desta vez. se arrisca a ter razão.
2005-11-04
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