2005-09-26

Clamando no deserto

Portugal é um país singular e só não estou estupefacto, como o Prof Cavaco, porque já sei há muito do que a casa gasta.
Diz-se, por todo o lado, que a corrupção campeia no país mas se alguém tenta lutar contra esta situação apontando algum caso sobre o qual tem uma forte suspeita, logo é ostracisado pela opinião pública:
- Tem provas do que diz ? não ? então esteja caladinho.
O cidadão é que tem que investigar e reunir provas para a polícia não ter muito trabalho.
Se alguém, porque está em risco de destruir a sua vida, tenta fazer uma denuncia anónima, que o proteja, é visto como abaixo de cão, e muitas vezes a denúncia é rasgada sem sequer ser lida.
É um paraíso para os infractores.
E isto porquê ? “Para proteger o bom nome dos cidadãos contra calúnias e invejas” dizem, mas isto só até um dado ponto, porque se, pelo contrário, o caso começa a ser investigado pela polícia, dispensa-se logo o julgamento, aí já não são precisas provas, bastam suspeitas e tem que se prender o homem logo, já !
O abuso da prisão preventiva é uma vergonha nacional, pode um cidadão estar anos na cadeia, sem culpa formada, com o bom nome nas ruas da armagura, até que depois, se se verifica em tribunal que afinal não havia fundamento para a acusação, dizer-se:
-“woops”, desculpe qualquer coisinha, pode ir para casa descansado.
Por outro lado, se se é condenado e se os factos são provados em tribunal, a prisão já é secundária, pode sair-se num ápice que ninguém se incomoda. “já pagou na preventiva, que é como deve ser” pensa-se.
E assim nos vamos queixando da situação mas fazendo tudo para que ela não se altere.
Felizmente vão aparecendo algumas “ilhas” de bom senso neste lamaçal da justiça, como a juiza que apreciou, recentemente, o caso de Fátima Felgueiras:
“Julgue-se primeiro e puna-se depois se for caso disso” decidiu.
Para a opinião pública e publicada esta juiza não sabe o que faz, o fundamental é prendê-la já, já, imediatamente, depois, logo se vê !

Sem comentários: