Muito obrigado pelo seu comentário ao poste sobe Abrunhosa..
É um comentário simples, inteligente, que se limita à questão mais simples mas também a mais pertinente e, talvez a de mais difícil resposta: porquê ?
A verdade é que não gosto da “poesia” de Pedro Abrunhosa, soa-me a falso e foi só isso que eu quis dizer, resumindo o porquê nos adjectivos que utilizei, mal ou bem mas de forma criteriosa, sem dúvida.
Ódio não tenho nenhum, embora me irrite, de facto, a aceitação generalizada do que, para mim, é uma jóia falsa, como se fosse feita de diamantes e de ouro genuíno.
Cingindo-me ao meio da musica que toca nas rádios, julgo que prejudica muito talento poético real, em lingua portuguesa, como o que encontramos, por exemplo, em Jorge Palma, Sérgio Godinho, José Afonso, Chico Buarque de Holanda, Caetano Veloso, ou mesmo nos Toranja, e em tantos outros.
Abrunhosa não é, para mim, farinha deste saco.
Por isso utilizei o adjectivo “irritante”.
A classificação de “pseudo-poesia” tentarei resumi-la assim:
A poesia é uma forma de arte e sendo a própria noção de arte uma das questões mais complexas e eternamente não resolvidas que tem preocupado o espírito humano, limito-me a considerar a minha posição pessoal sobre esta questão: Para mim, “arte” será o meio de transmitir a outros o conjunto de emoções que determinada vivência nos provocou, “fingir a dor que deveras sentimos” como dizia Pessoa.
Ora Abrunhosa não me consegue transmitir nenhum tipo de emoção coerente, embora utilize meios poéticos: palavras combinadas de tal forma que suscitam referências, duplos sentidos, associações , valorização deste ou daquele aspecto da vivência que pode suscitar, seja por semelhança ou por contraste, determinada emoção.
Mas isto será “a forma” da poesia que para ser, de facto, poesia, deverá também ter “conteúdo”, propósito, coerência que deverá suscitar a tal emoção e é isso que eu não descortino nas letras de Abrunhosa.
Por isso as classifiquei de “pseudo-poesia”.
As letras de Abrunhosa soam-me como um ruído estéril “Full of sound and fury, signifying nothing” como referia Shakespear.
Por isso “insignificante”.
Por outro lado eu não exijo que para se ter sucesso se tenha de ser poeta.
A música “pimba” não tem poesia nem a pretende ter, é directa, objectiva transmite factos. É “pequenina” porque vale pouco mas não é “pretensiosa” porque não pretende parecer lebre sendo gato, é o que é.
A música de Abrunhosa por se revestir de uma forma poética sem conseguir alcançar o seu conteúdo pretende parecer ser o que não é.
Por isso lhe chamei “pretensiosa“.
É evidente que os mecanismos da arte necessitam de um artista e de quem sinta a sua obra.
Há emoções que determinadas obras me despertam porque sugerem referências com muito significado, para mim, experiências do meu passado e que poderão não tocar outras pessoas e vice-versa.
Admito mesmo que as letras de Abrunhosa provoquem algumas pessoas verdadeiramente mas penso que andará longe de ser amplo nesse objectivo.
Por isso utilizei o termo “pequenino”.
Poderia fundamentar tudo o que disse analisando em detalhe uma ou duas letras de Abrunhosa mas exigiria muito tempo e longos textos que penso nem o Abrunhosa nem muitos dos meus visitantes merecem.
Fico pois por aqui.
2007-04-07
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2 comentários:
Olá Nuno. Sou o "ocasional" outra vez e continuarei a ser breve nos comentários.
Obrigado pelo poste-resposta. A pergunta que fiz nasceu do facto de termos uma opinião muito distinta da música/poesia do Abrunhosa, e lendo o que escreveste, concluo que a tua opinião se baseia nos teus gostos e numa desconfiança sobre a "veracidade" de sua poesia.
Já agora, digo-te que gosto da sua música/poesia porque consigo identificar nelas várias emoções que também me pertencem, porque cresci com ela e finalmente, porque, para mim, arte não é apenas um meio de transmitir emoções, mas também um meio de *gerar* novas emoções.
Já que foste tão detalhado na tua resposta (o que mostra mais do que consideração por alguém que só deixou questões!), partilho algo contigo. Ainda era novo quando a música "Será" foi lançada. Na altura gostei dela, mas nunca despertou grande emoção. Anos mais tarde perdi para sempre um dos pilares da minha vida. Meses depois do trágico evento, tive oportunidade de ouvir a música ao vivo, e nunca me senti tão movido por nenhum outro poema/música. As sensações estavam lá: à espera de serem descobertas.
Abraços,
João, o Ocasional :-)
PS: Exceptuando PA, parece que partilhamos os mesmos gostos musicais.
Complementando a resposta do João Ocasional também eu gostaria de lhe dizer que essa sua aversão ao Abrunhosa raia a xenofobia, senão não teria a deselegância de lhe atribuir tais adjectivos.Pessoa bem formada, pode não gostar, ou não entender qualquer manisfestação artística, mas nunca a diminui e amesquinha, respeitando o gosto de outros.
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