À medida em que a globalização e o pensamento único procuram homogeneizar tudo e todos, tentam também resolver a sua própria contradição, desenvolvendo mecanismos que permitam alguma diferenciação no caldo morno e homogéneo que geram.
Procuram obstinadamente a excelência.
Mas onde estará ela ?
Afortunadamente a excelência ainda abunda, como sempre, o que está é camuflada na massa amorfa. Não é fácil vê-la. Não grita nem muda de cor para ser vista.
Há dias assisti a uma rápida entrevista de Mário Crespo ao Professor Alexandre Quintanilha a propósito do mau desempenho dos nossos alunos nas provas nacionais, sobretudo de física e matemática.
O Professor resumia assim de forma simples mas lúcida a sua visão do sistema de ensino:
Para grande parte das pessoas, que apenas a isto aspiram, tem que se lhes dar aqueles conhecimentos básicos que lhes permitem ser bem sucedidos na sociedade e exemplificava:
domínio da matemática elementar, saber fazer contas, domínio da sua língua, saber falar bem, e também a prática razoável do Inglês como língua universal, que todos precisamos de conhecer além do conhecimento geral das letras e da ciència que permitam ter um código mínimo de referencias.
Para outros, profissionais de vários ofícios, tem que se lhes fornecer tudo aquilo que já se sabe nos respectivos domínios de conhecimento de forma a se tornarem profissionais esclarecidos e competentes.
Para outros ainda, é importante dar-lhes a capacidade para irem mais longe no conhecimento, para produzirem novos conhecimentos para o mundo.
Isto é uma pirâmide, dizia ele.
Para Mário Crespo era a ponta dessa pirâmide que se deveria alargar, todos deveriam poder estar nesta ponta, na "ponta da excelência", pensava ele.
- Todos os que querem devem poder lá estar, sem dúvida, respondia o Professor, mas nem todos querem, a pirâmide traduz apenas a realidade, nem todos querem ser investigadores nem seria desejável que todos o fossem.
- Então e a excelência ? perguntava Crespo, como poderemos assim ter um ensino de excelência ou para a excelência ?
- A excelência, respondeu-lhe Alexandre Quintanilha, está em todos os níveis da pirâmide, pode haver excelência num calceteiro, num canalizador, num jornalista, num estivador, num cozinheiro, e também não a haver mesmo no topo da pirâmide, num investigador.
Não sei se Mário Crespo interiorizou este conceito, receio bem que não.
2006-08-10
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4 comentários:
Realmente. Mas acrescento que também acho que deveriam ensinar Platão nas escolas.
Quero só aqui deixar um poema do "Guardador de Rebanhos" de Alberto Caeiro, que se pensarmos bem, tem um pouco a ver com isto.
O Alberto Caeiro não era mais do que um Guardador de Rebanhos, e também achava o mesmo que o Professor Alexandre Quintanilha, dando assim razão a este:
O Tejo é mais belo que o rio que corre pela minha aldeia,
Mas o Tejo não é mais belo que o rio que corre pela minha aldeia
Porque o Tejo não é o rio que corre pela minha aldeia.
O Tejo tem grandes navios
E navega nele ainda,
Para aqueles que vêem em tudo o que lá não está,
A memória das naus.
O Tejo desce de Espanha
E o Tejo entra no mar em Portugal.
Toda a gente sabe isso.
Mas poucos sabem qual é o rio da minha aldeia
E para onde ele vai
E donde ele vem.
E por isso porque pertence a menos gente,
É mais livre e maior o rio da minha aldeia.
Pelo Tejo vai-se para o Mundo.
Para além do Tejo há a América
E a fortuna daqueles que a encontram.
Ninguém nunca pensou no que há para além
Do rio da minha aldeia.
O rio da minha aldeia não faz pensar em nada.
Quem está ao pé dele está só ao pé dele.
Dois grandes e estimulantes comentários.
Obviamente, Platão, sempre, e Alberto Caeiro, nem mais.
Viva o rio da aldeia de Alberto caeiro
Nuno Jordão
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