2003-11-03

Jovens

O processo de desumanização que nos ameaça faz-se sentir de forma acelerada entre a juventude.
É talvez natural que na fase de descoberta que se vive na juventude, se verifique a inserção quase automática, sem crítica, na sociedade do espectáculo ou na intrujice da civilização para a qual caminhamos apressadamente.
Será assim em todas as gerações, o que diferencia esta, pela própria natureza da sociedade global que se construi pela primeira vez na história é que a castração de humanidade que se verifica poderá vir a transformar esta juventude em adultos impotentes e apáticos.
Lamentavelmente, o inconformismo que também é apanágio dos jovens e que poderia conduzir a uma inserção mais atenta e independente, não parece resultar neste modelo de sociedade, onde alguma assimetria é também condição da sua manutenção e o radicalismo juvenil é incorporado no sistema, transformando uma suposta marginalização no alinhamento mais puro.
É assim que vemos a juventude, utilizando o argumento da afirmação da diferença, vestir verdadeiros uniformes, quase militares, de roupa de marca normalizada pelo mercado, típicos da respectiva tribo urbana, tornando difícil descortinar qualquer elemento da individualidade que pensam afirmar.
São mais que alinhado, são alinhadíssimos, previsíveis, fiéis intérpretes de modelos estereotipados; tornando-se mais clara a inserção no processo de homogeneização social que vivemos, constituído verdadeiros exércitos de replicantes.
Preocupante é já, neste processo de desumanização da juventude o abastardamento da expressão humana:
Os jovens já dificilmente conversam, o vocabulário reduz-se drasticamente a alguns substantivos, poucos adjectivos, e um mínimo de verbos.
Nos "chats" cibernéticos, onde são exímios, as própria palavras, já de si limitadas, são despidas de sílabas e de letras reduzindo-se a uma expressão minimamente significante, quando não são substituídas por rudimentos da língua internacional: o “broken English".
Qualquer forma de raciocínio abstracto torna-se inexprimível e, assistimos já ao horror de ver, com demasiada frequência, em publicidade dirigida à juventude, reduzir a expressão oral a grunhidos de besta, do tipo Reeereeereeereeeumreee ou ihaaahuuuu, ihaaaaahuuuuu, entrecortados com gritos lancinantes de dor ou de prazer.
Parece-me, sem dúvida, preocupante esta tendência e para que não estereotipem esta minha posição, enquadrando-a, apressadamente, no conflito geracional, amanhã falarei de franjas de resistência e de esperança de alguma juventude mais esclarecida.
Como diz o Poeta Alegre: "mesmo na noite mais escura do tempo de solidão; há sempre alguém que resiste; há sempre alguém que diz não.

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