2007-04-30

Impressões de viagem 7

O Rio de Janeiro continua lindo

E assim continuará enquanto a cidade não destruir completamente a portentosa natureza.
Foi assim que vi o Rio: um centro histórico interessante mas menos interessante do que os de outras cidades do Brasil como Salvador ou Manaus, para falar apenas de cidades visitadas por mim, uma praia, um mar, o calçadão, com a beleza das marginais sumptuosas acrescida da tal natureza que irrompe da cidade mas sempre atormentada pelo fantasma do crime potencial.
Depois, há as favelas, que não visitei.
Sugeriram-me a “Academia da Cachaça” onde me disseram que poderia comer a melhor feijoada da minha vida. Segui o conselho e comi, de facto, a melhor feijoada da minha vida, não é um restaurante turístico mas recomendo-o sem reservas.
As vistas do Cristo redentor, do Corcovado, e do Pão de Açúcar são esplendorosas, “breath taking” como dizem os anglo-saxónicos:
Uma paisagem descomunal de serra e mar, manchada por “um cancro branco” que vai alastrando e que é a cidade.
Não ilustro com fotos porque não é necessário, o Rio todos os dias entra pelas nossas casas.

2007-04-23

O metro ao Sul do Tejo

Ou, com mais propriedade, o eléctrico ao Sul do Tejo, vai tornar-se em mais um caso de estudo dos erros clamorosos do desenvolvimento planeado.
Não serve objectivo nenhum.
Não aumenta nenhuma acessibilidade.
Tem custado uma fortuna.
Empata todo o trânsito
É uma fonte permanente de muitos previsíveis acidentes.
E tudo isto era já claríssimo no papel.
Tem decisor que é cego !

2007-04-20

O massacre de Virgínia

Cresço num mundo de profetas que constantemente me mostram o caminho do sucesso, logo ali à frente, estende-se numa passadeira rolante !
Vejo as pessoas percorre-lo facilmente, felizes e contentes.
Sigo-lhe os passos mas só encontro subidas penosas, curvas e pedras, mas logo me dizem: “não é bem por aí, é um pouco mais ao lado”.
Corrijo a trajectória mas tudo me parece igual.
Estou exausto, faltam-me as forças, e vejo os outros que lá vão, ali tão perto, de tapete rolante.
Procuro debalde a passagem para esse tapete que nunca está ali, ou já passou ou ainda há-de vir.
Estou como K no caminho do Castelo.
Os profetas bem me dizem “olha, estuda que com os estudos encontras logo o caminho” e mostram-me como estariam outros que seguem no tapete, se não tivessem estudos.
Vêm-me à memória, muitos outros que também lá estão embora não tenham estudos nenhuns, tiveram talvez sorte !
Vou então estudar, até ao último grau, mas a passagem continua sem aparecer, para mim só há subidas, curvas e pedras e só para mim.
A raiva e a inveja invadem os meus nervos, Tem de haver um segredo, uma passagem secreta, que não me ensinaram mas que todos os outros parecem conhecer.
Foram os profetas malditos que me esconderam o segredo e só a mim, sacanas !
Estou quase morto de cansaço, a música e a alegria que vejo no tapete, aumenta o meu ódio.
“Se não é para mim também não há-de ser para mais ninguém, já que não me querem dizer o segredo que todos sabem !”
Pego numa bomba (encontram-se muitas bombas no caminho dos escolhos) e atiro-me para cima do tapete.
Morro na explusão com mais 3o e poucos do tapete.
Durante 5 minutos o tapete tem uma pequena avaria que logo é corrigida.
Nos media, desconhecem a minha lucidez: comenta-se o meu acto e chamam-me doido. “ainda por cima estava tão perto do tapete, mesmo ao lado da passagem, como é isto possível ?”.
Só na hora da morte me apercebo da verdade:
Não há tapete nenhum, era tudo uma ilusão !

2007-04-19

Lá saíram as listas

Há dias saíram as esperadas listas do Ministério da Agricultura e com elas milhares de funcionários passaram para o “limbo” da mobilidade.
Os piores ? perguntar-me-ão. Nada disso, saíram maus, é certo, mas também bons e excelentes.
Ficaram os melhores ? Também não. Ficaram bons e excelentes e também muitos maus, a qualidade não foi, senão na forma, o critério utilizado.
Saíram sim os mais fracos, os mais frágeis, aqueles a quem a saída mais custa, mas também aqueles que têm menos possibilidades de lutar e de se defender.
Todavia, como muitos fracos fazem uma força, suspeito que as coisas, mesmo assim, não fiquem por aqui.
Quanto a mim, fiquei. Apenas porque sou um barão, em termos maquiavélicos, o meu poder não vem do príncipe e os barões têm que ser tratados com cuidado ou, preferencialmente, exterminados.
Felizmente eles não leram, com certeza, “o Príncipe” !

Para se compreender a Administração Pública, há 3 leituras que recomendo:
O excelente poste do Jumento chamado “Os boys, as Pandilhas e os Gangs na Administração Pública” onde se desnudam as estruturas do poder aí constituídas
“O Príncipe” de Maquiavel e, sobretudo, Kafka, especialmente “O Castelo”, está lá tudo.

2007-04-18

Ser Português, nós

Ser português não é como ser de outra nação qualquer.
Ser português é falar e amar uma língua que sem qualquer plano ou esforço se fortalece e ninguém a consegue abater e que é a nossa surpresa e o nosso orgulho.
Ser português é estar em qualquer lugar do mundo bem e melhor que em Portugal.
Ser português é odiar Portugal por nunca conseguir estar ao nosso nível.
Mas ser português é amar Portugal, acima de qualquer outro país, por aquilo que Portugal há-de ser um dia, ainda que esse dia nunca venha .
E só nós sabemos que aquilo que Portugal pode ser, por o poder ser, o torna grande já.
Para um português, ser nacionalista é ser para o mundo.

2007-04-10

O triste espectáculo dos marinheiros ingleses

Foi triste ver os marinheiros ingleses, prisioneiros do Irão embaraçarem publicamente o seu governo desmentindo-o em público, servindo os interesses do seu inimigo.
Mas só poucos têm a heroicidade para resistir num ambiente hostil, prisioneiros de homens com uma língua estranha e de quem se pode esperar tudo, até a tortura e a morte.
Foi triste mas compreendi-os, certamente eu faria o mesmo, pensei, só que, passado o perigo, seria ruído pelo remorso e pela vergonha. Não seria, decididamente, uma página da vida que gostasse de recordar.
Foi triste vê-los justificar a sua fraqueza, com a pressão psicológica que dizem ter sofrido.
Foi tristíssimo vê-los negociar com os média o relato da sua desonra, tristíssimo ver as autoridades inglesas incentivarem esse espectáculo, tristíssimo ver as imagens do seu cativeiro em alegre convívio, aparentemente, bem longe da falada pressão psicológica.
Que tristes valores tem esta gente !
Felizmente prevaleceu o bom senso no final e foi proibido aquilo que nem deveria sequer ter sido imaginado.

2007-04-07

Caro visitante ocasional

Muito obrigado pelo seu comentário ao poste sobe Abrunhosa..
É um comentário simples, inteligente, que se limita à questão mais simples mas também a mais pertinente e, talvez a de mais difícil resposta: porquê ?
A verdade é que não gosto da “poesia” de Pedro Abrunhosa, soa-me a falso e foi só isso que eu quis dizer, resumindo o porquê nos adjectivos que utilizei, mal ou bem mas de forma criteriosa, sem dúvida.
Ódio não tenho nenhum, embora me irrite, de facto, a aceitação generalizada do que, para mim, é uma jóia falsa, como se fosse feita de diamantes e de ouro genuíno.
Cingindo-me ao meio da musica que toca nas rádios, julgo que prejudica muito talento poético real, em lingua portuguesa, como o que encontramos, por exemplo, em Jorge Palma, Sérgio Godinho, José Afonso, Chico Buarque de Holanda, Caetano Veloso, ou mesmo nos Toranja, e em tantos outros.
Abrunhosa não é, para mim, farinha deste saco.
Por isso utilizei o adjectivo “irritante”.
A classificação de “pseudo-poesia” tentarei resumi-la assim:
A poesia é uma forma de arte e sendo a própria noção de arte uma das questões mais complexas e eternamente não resolvidas que tem preocupado o espírito humano, limito-me a considerar a minha posição pessoal sobre esta questão: Para mim, “arte” será o meio de transmitir a outros o conjunto de emoções que determinada vivência nos provocou, “fingir a dor que deveras sentimos” como dizia Pessoa.
Ora Abrunhosa não me consegue transmitir nenhum tipo de emoção coerente, embora utilize meios poéticos: palavras combinadas de tal forma que suscitam referências, duplos sentidos, associações , valorização deste ou daquele aspecto da vivência que pode suscitar, seja por semelhança ou por contraste, determinada emoção.
Mas isto será “a forma” da poesia que para ser, de facto, poesia, deverá também ter “conteúdo”, propósito, coerência que deverá suscitar a tal emoção e é isso que eu não descortino nas letras de Abrunhosa.
Por isso as classifiquei de “pseudo-poesia”.
As letras de Abrunhosa soam-me como um ruído estéril “Full of sound and fury, signifying nothing” como referia Shakespear.
Por isso “insignificante”.
Por outro lado eu não exijo que para se ter sucesso se tenha de ser poeta.
A música “pimba” não tem poesia nem a pretende ter, é directa, objectiva transmite factos. É “pequenina” porque vale pouco mas não é “pretensiosa” porque não pretende parecer lebre sendo gato, é o que é.
A música de Abrunhosa por se revestir de uma forma poética sem conseguir alcançar o seu conteúdo pretende parecer ser o que não é.
Por isso lhe chamei “pretensiosa“.
É evidente que os mecanismos da arte necessitam de um artista e de quem sinta a sua obra.
Há emoções que determinadas obras me despertam porque sugerem referências com muito significado, para mim, experiências do meu passado e que poderão não tocar outras pessoas e vice-versa.
Admito mesmo que as letras de Abrunhosa provoquem algumas pessoas verdadeiramente mas penso que andará longe de ser amplo nesse objectivo.
Por isso utilizei o termo “pequenino”.
Poderia fundamentar tudo o que disse analisando em detalhe uma ou duas letras de Abrunhosa mas exigiria muito tempo e longos textos que penso nem o Abrunhosa nem muitos dos meus visitantes merecem.
Fico pois por aqui.

2007-04-06

Será que ninguém leva os fantasmas de Pedro Abrunhosa ?

E, já agora, leve também o Pedro Abrunhosa mais a sua pseudopoesia, pretensiosa, insignificantee, pequenina e irritante ?

2007-04-02

Impressões de viagem 6


A Selva


O meu contacto foi apenas com a selva turística mas não obstante o “boom” que os hotéis da selva estão a ter no Brasil, a minha escolha recaiu no, talvez mais famoso e mais antigo hotel da selva totalmente construído em palafita, as “Ariau towers”.
É, de facto uma experiência única, depois de uma viagem de barco, de cerca de 2 horas, desde Manaus, subindo o Rio Negro, chegamos ao hotel: quilómetros de passadeiras construídas ao nível das copas das árvores sobre uma estrutura triangulada de madeira.
Um grande torreão, também em madeira, como toda a construção do hotel, alberga a recepção e os restaurantes e várias outras torres contêm os quartos com o mínimo de conforto moderno, ar condicionado, wc e telefone.
Perto da recepção Um espaço amplo de bar com acesso a internet wifi, televisão e, junto, algumas lojas de artesanato, jóias, utilidades de conveniência e um ginásio onde podemos ser massajados.
Ao longo de toda a estrutura, que se pode percorrer a pé, de bicicleta ou de carrinhos de golfe, que se podem alugar tal como as bicicletas, podemos encontrar várias estruturas, como piscinas, uma capela pagã de meditação, e vários miradouros, tudo isto a uns 15 metros de altura sobre a selva. Mais elevado ainda, aqui e ali, encontramos o que eles chamam casas do Tarzã, suites com cozinha, sala e quarto com internet. Estas casas de Tarzã também se podem alugar.
Junto ao bar saltitam permanentemente vários macacos, a quem nos avisam para não darmos álcool, e lindíssimas araras.
Um só senão, quando lá estive, o cheiro do hall onde se inserem os quartos era quase insuportável embora dentro do quarto não se fizesse sentir. Suponho que se devia ao tratamento que constantemente têm que dar à madeira para que a estrutura não colapse ruída pelo cupim.
Por pequenos grupos de hóspedes com afinidades linguísticas é-nos afecto um guia e há vários programas interessantes como a pesca de piranhas, observação de caimões ou botos, passeios pela selva e visitas a aldeias.
É evidente que tudo tem aquele ar certinho, para turista ver, e durante o passeio na selva nunca perdemos o sinal de telemóvel, mas a responsabilidade civil do hotel é grande e qualquer pequeno ou grande acidente é rapidamente socorrido com helicóptero.
Não obstante ser apenas uma selva turística, o exotismo da experiência e sobretudo a imponência daquela estrutura tornam a estadia muito agradável.
Estive lá em Novembro e o chão estava seco mas uma parte do ano, a selva alaga-se naquele local, por isso a construção em palafita. A experiência nessa época de chuva deverá ser ainda mais interessante, suponho eu.
Como uma última vantagem, o preço que é razoavelmente acessível.

2007-04-01

Erros certeiros

Num desses e-mails que diariamente entram pelas nossas casas contando piadas e mostrando curiosidades, recebi uma série de supostas asneiras escritas por alunos brasileiros em testes de exame.
A generalidade demonstra aquele tipo de ignorância que também é comum nas nossas escolas mas algumas, poucas, escondem por trás do erro uma sabedoria oculta que suscita uma mais profunda meditação.
Passo a transcrevê-las sem mais comentários:

“O que é de interesse colectivo de todos nem sempre interessa a ninguém individualmente."

"Imaginem a bandeira do Brasil. O azul representa o céu , o verde representa as matas, e o amarelo o ouro.
O ouro já foi roubado e as matas estão quase se indo.
No dia em que roubarem nosso céu, ficaremos sem bandeira.."

A mais profunda de todas é porém a seguinte:

"Vamos deixar de sermos egoístas e pensarmos um pouco mais em nós mesmos."