2006-12-30

A morte de Sadam

A “democracia” iraquiana deu há horas uma grande lição ao mundo.
A única lição que o mundo e o próprio ditador morto já sabiam de cor.
A única lição que faz com que tudo continue na mesma.
A única lição que não precisa ser dada:

Quando se tem o poder, os inimigos, eliminam-se, calam-se, arruinam-se ou, se for preciso, matam-se.

2006-12-29

Uma adenda ao poste anterior

Não é que alguém, que ninguém sabe quem é, mandou cortar o acesso ao 112 (número de emergência) em Évora, ninguém sabe porquê e alguém, este identificado, cumpriu a “ordem” e cortou o 112 !

O espectáculo no seu melhor

1. Sadam
- Vai morrer já !
- Não, não, só depois de 26 de Janeiro
- Não sei quando é a execução mas vai ser filmada, mas as imagens vão ficar guardadas.

Nós assistimos impávidos, parece que não há leis nem regras nem procedimentos a cumprir ou se as há, só os iniciados sabem, há-de morrer um dia, certamente em breve e não obstante as imagens secretas hão-de-nos entrar pela casa adentro.

2. Somália
Parece que os tigres eram mesmo de papel !

3. Julgamento popular da mâe de Barcelos
- Assassinaaaaaaaa ! ah não é ? Vê lá se queres comer uma lambada

4. Naufrágio na Nazaré
- Desaparecidos ? Foi aquele submarino que os levou há bocado, concerteza ! Cambada de incompetentes que não são capazes de os ir lá buscar.

E assim vai o mundo. !

2006-12-17

Os Natais

Há 3 Natais que se confundem e interpenetram.
O Natal ancestral que comemora o solestício de Inverno, o começo de um novo ciclo vital. É o mais antigo de todos. O seu símbolo é a árvore de Natal.
Outro é o Natal do nascimento de Jesus, fundador de todas as religiões cristãs e inspirador da humanidade. O da nossa tradição de povo do Sul da Europa. O seu símbolo é o presépio.
Por último, o mais detestável de todos, que alastra como um cancro e contamina tudo, é o Natal do consumo, da coca-cola, do mundo global e castrador. O seu símbolo é o Pai Natal.
Parece que, em boa hora, Hugo Chavez impôs a abolição do Pai Natal nos edifícios e espaços públicos da Venezuela.
Até os “ditadores polémicos” podem ter momentos de grande lucidez.

2006-12-15

O respeito pelo outro

Hoje ouvi gabar um interessante projecto dirigido à “educação-divertimento” de crianças, salientando que fazia passar a mensagem do “respeito pelo outro”.
É, sem dúvida, um valor fundamental na formação de um indivíduo, sobretudo quando ele compreende que o outro, geralmente, é ele próprio !

2006-12-13

A TLEBS

Como leigo interessado tenho seguido, tão atentamente como me é possível, a vasta polémica que tem revestido a introdução forçada da terminologia linguística para os ensinos básico e secundário (TLEBS)
A ignorância tem-me mantido calado e indeciso, quem terá razão ?
Parecia-me uma luta vã em torno de interessezinhos, de um lado os conservadores, defendendo a língua pelos seus sucessos, a literatura, de outro os cientistas da língua, da sua estrutura como código de comunicação, os linguistas.
Entre os dois “mon cœur balance”. Os dois aspectos me fascinam, também aí encontro Deus e o macaco.
O recente texto do Professor João Andrade Peres, insigne linguista, arrumou de vez a questão: “as TLEBS são, de facto uma merda !”.
A verdade é que ele sabe do que fala e fala desapaixonadamente.
Deixo aqui um exemplo, marginal, para quem não tiver a pachorra de ler as 30 páginas do texto que “linkei” acima:

A – letra de imprensa minúscula (segundo a definição constante na TLEBS)
a –letra de imprensa maiúscula (segundo a definição constante na TLEBS)

Para precisão “matemática” na definição de conceitos, demonstrada por este vasto grupo de cientistas parece-me que estamos conversados.

2006-11-17

Para o Manel

Meu querido irmão.
Barbaramente assassinado!
Eras o mais livre de todos nós!




Anywhere I Lay My Head
My head is spinning round, my heart is in my shoes, yeah
I went and set the Thames on fire, oh, now I must come back down
She's laughing in her sleeve boys, I can feel it in my bones
Oh, but anywhere I'm gonna lay my head, I'm gonna call my home
Well I see that the world is upside-down
Seems that my pockets were filled up with gold
And now the clouds, well they've covered over
And the wind is blowing cold
Well I don't need anybody, because I learned, I learned to be alone
Well I said anywhere, anywhere, anywhere I lay my head, boys
Well I gonna call my home

Tom waits

Não te esquecerei nunca!

2006-11-11

Nojo

O meu silêncio é um luto.
Como todos os lutos será ultrapassado

2006-10-21

Eu sou pela abolição

Da “lei da oferta e da procura” que nos proíbe a vida gratuita.
Da “lei da gravidade” que nos impede de voar.
Da “lei da rolha” que nos não deixa falar
Da “lei do menor esforço” que nos mata em vida.
Já temos leis a mais, basta !

2006-10-16

Luta contra a corrupção 3

Como referi no poste anterior sobre este assunto, constato que algumas culturas valorizam a sociedade mais do que o indivíduo enquanto outras, como a nossa, tende para o contrário.
Numa primeira abordagem pareceria lógico e natural, que relativamente à segunda dicotomia que referi como determinante no debate desta questão, segredo vs transparência, se pudesse observar uma associação do seguinte tipo:
Grupos culturais que privilegiam a sociedade tendem a valoriza a transparência (que facilita a equidade social); sociedades que privilegiam o indivíduo tendem a valorizar o segredo (que facilita a defesa dos direitos individuais).
Curiosamente, a minha experiência tem constatado precisamente o contrário.
Primeiro exemplo:
durante toda a minha vida de estudante, em Portugal, as minhas notas nas diferentes disciplinas, como as de todos os meus colegas, eram afixadas numa pauta afixada no pátio da escola, todos podíamos ver a classificação de todos e este procedimento transparente sempre me pareceu natural. No Mestrado que fiz, que embora feito em Portugal, respeitava totalmente o modelo de uma Universidade americana, incluindo grande parte dos Professores que eram Americanos dessa Universidade, as notas eram-nos comunicadas individualmente e em carta fechada, ninguém sabia as notas dos outros se esses a não dissessem e ainda assim mantínhamos a insegurança de não saber ao certo se falavam verdade.
Este secretismo era justificado na defesa da concorrência ou da competitividade mas eu não deixava de me questionar: e as injustiças ? e os compadrios ? e os efeitos da “graxa” e outros métodos estudantis de subverter o sistema ? como me defenderei eu disso.
Segundo exemplo: Em Portugal a filosofia subjacente em concursos públicos baseiam-se na transparência: tudo público, tudo claro, todos devem poder saber tudo.
Eu, aqui há anos, tive oportunidade de integrar uma delegação portuguesa que, em Washington, negociou com o Banco Mundial um empréstimo para um projecto e pude aí constatar que os mais difíceis aspectos negociais tinham precisamente a ver com essa nossa atitude para a transparência que era incompatível com o secretismo exigidos pelo Banco Mundial para os mesmos concursos.
O mais estranho é e ambos defendíamos os mesmos princípios em nome do mesmo valor, a equidade.
Para nós: Se eu for preterido num concurso, sem ver a proposta dos outros como é que eu posso saber se não houve um favorecimento ilícito ?
Para o Banco Mundial: Se eu for preterido no concurso, é certamente porque o outro concorrente tinha uma melhor proposta, com que direito vou eu vê-la para depois a copiar sem esforço a quem foi mais hábil do que eu ?
Referindo-se estes exemplos a grupos culturais anglo-saxónicos e não propriamente escandinavos, no entanto um tipo de sociedade aparentemente menos propensa à corrupção do que as nossas sociedades latinas, o caso não deixou de me intrigar.
No fundo, talvez seja o natural mecanismo de compensação de que a natureza é pródiga:
Para nós que procuramos desenrascar-nos da melhor maneira possível, e que sabendo que o outro é como nós, também com os seus esquemas rocambolescos, pensamos que será papel do Estado por tudo em pratos limpos e esclarecer-nos de tudo, reivindicamos a transparência.
Para os outros que vivem um dia a dia de controlo social intenso, de auto sacrifício pelo bem estar global, deverão ansiar por um Estado que lhes garanta a sua privacidade.

Seja isto ou não, o que é certo é que o Estado não é uma entidade etérea e abstracta, quem toma decisões são pessoas como nós, mergulhadas na mesma cultura , daí as dificuldades de lidar com este fenómeno e aí é que está o busílis da questão.
Mas como também sou português e um pouco preguiçoso, deixo por aqui esta questão.

2006-10-15

Mujamad Yunus 2

Um aspecto notável da obra de Yunus era o de encarar os espoliados que ajudava como seus iguais, rejeitava todo o tipo de paternalismo.
Os projectos eram apreciados tecnicamente de modo sério, e para que o empréstimo fosse concedido tinha que ser assinado um contrato.
Isto com mulheres analfabetas, na sua grande maioria, que não sabiam assinar o seu nome.
Mas Yunus não aceitava assinaturas de cruz ou marcas do indicador, tinham que assinar o seu nome, como a generalidade das pessoas de negócios fazem.
Se não sabiam fazê-lo Yunus punha os seus técnicos a ensina-las e elas lá passavam horas de língua presa entre os dentes a treinar a sua assinatura até que a pudessem repetir de um modo uniforme e minimamente ágil.
Quando finalmente o contrato era assinado e aquelas mulheres, habituadas toda a vida a serem completamente anuladas e exploradas, assinavam o seu contrato com as suas próprias mãos, podia-se ver nos seus rostos o enorme orgulho com que o faziam.
Nesse momento começavam a sentir-se finalmente pessoas.

2006-10-14

Mujamad Yunus

Um prémio Nobel da PAZ mais do que merecido.
Um Doutorado em Economia que não encara esta ciência como o tal monstro caprichoso mas apenas como uma base teórica que permite criar muitos instrumentos úteis para melhorar a vivência das pessoas.
Um homem atento ao seu mundo e ao seu semelhante.
Um “homo sapiens” que encara os problemas, analisa-os racionalmente e formula as soluções possíveis.
O banco Grameen, não foi concebido num gabinete, nem poderia ser, qualquer economista diria que estava condenado ao fracasso, foi feito passo a passo.
”Caminhante, não há caminho, faz-se caminho ao andar, passo a passo, golpe a golpe”
Realizou sonhos, devolveu dignidade, permitiu bem estar a muitíssimos excluídos do mundo.
Foi copiado por todo o lado, a generalidade das vezes muito mal copiado, falta-lhes o sonho de Yunus.
Se isto não é um enorme contributo para paz, não sei o que será!

2006-10-12

Notícias do Espectáculo

Depois de ontem lhe termos proporcionado, em rigoroso directo, mais de uma hora de 2 janelas a arder no centro de Manhatan, o espectáculo continua.

Hoje poderá ver ainda em todos os canais nacionais:

A ESPECTACULAR MANIFESTAÇÂO NACIONAL DE OPOSIÇÃO AO GOVERNO
Mais de
50 000-manifestantes-50 000
Veja e ouça, em rigoroso directo, os depoimentos expontâneos de muitos manifestantes.
veja e ouça as palavras de ordem de milhares de cidadãos enraivecidos contra a política do Governo.
Veja e ouça os discursos dos líderes sindicais.
Veja e ouça os comentários do Governo e da oposição.
Saiba quantas camionetas foram necessárias para por em marcha esta grandiosa manifestação.
Veja o que comem e bebem esses manifestantes, as suas motivações mais íntimas.
Veja quais o ministros mais contestados
Hoje, em todas as televisões.

Luta contra a corrupção 2

Mas onde é que eu me fui meter ?
Querer resolver aqui grandes angústias com que a humanidade se confronta há milhares de anos, sobre as quais já se escreveram milhares de livros, por espíritos bem mais brilhante do que o meu !
Façamos assim: imagine o leitor que está comigo numa mesa de café.
Já comemos e bebemos bem, sentimo-nos bem, estamos numa daquelas disposições em que podemos resolver as grandes questões da humanidade, onde tudo é legítimo, onde podemos discorrer sobre o âmago da física quântica, construir as mais perfeitas utopias, ter opinião sobre tudo, mesmo o que nos é estranho, inclusive matar Deus, ou recriá-lo.
Eu vou assim mandar as minhas “bocas” com inteira liberdade e a superficialidade que este meio blogosférico implica, o leitor, pelo seu lado poderá comentar á vontade, insultar-me, louvar-me, ser indiferente, enfim, dizer ou não dizer o que bem lhe aprouver.
Iria abordar a primeira dicotomia que falei no primeiro poste sobre este tema:
indivíduo vs sociedade.
As principais utopias concebidas basearam-se na prevalência do interesse comum, da sociedade sobre o indivíduo:
Nesta situação de prevalência do social sobre o individual não existirá um campo fértil para a corrupção e quando esta aparece é mais facilmente arrancada e destruída como erva daninha.
A corrupção é um tipo de crime eminentemente antisocial. Em princípio ela serve os interesses de todos os intervenientes directos, corruptor e corrompido e os danos que provoca são eminentemente sociais, etéreos, não palpáveis, instalam uma percepção social de iniquidade, gera invejas, desmotiva os justos, conduz a um mal estar social, mas a mim propriamente, a cada eu individual, não afecta directamente, não aquece nem arrefece como diz o povo.
Será por isso que nas sociedades culturalmente impregnadas do sentimento da prevalência da sociedade sobre o indivíduo, as sociedades escandinavas por exemplo, os fenómenos de corrupção são mais raros e quando surgem são mais facilmente denunciados e expostos; cada cidadão, os sente como inaceitáveis e sente como um seu dever denunciar e combater.
Nós portugueses e brasileiros e outros povos latinos e os povos africanos, em geral, temos impregnado na nossa cultura a prevalência do indivíduo sobre a sociedade. Culturalmente uma denúncia é um acto feio, desde crianças que não toleramos os “queixinhas” que nos denunciavam aos pais ou professores. Denuncias anónimas (muitas vezes a única forma de denunciar e sobreviver) são consideradas como uma torpeza inaceitável, temos toda uma cultura que faz medrar a corrupção e que impede o seu combate.
Temos, é certo. mais firme do que os Suecos a solidariedade, aos nossos amigos, temos laços muito firmes a um grupo restrito que nos está próximo, mas laços diluídos para com a sociedade no seu todo.
Somos capazes de actos de grande nobreza e caracter em favor de um amigo concreto em dificuldades mas somos menos propensos à solidariedade social e às grandes causas mais abstractas. Contamos facilmente aos nossos amigos, com orgulho da nossa esperteza, como conseguimos roubar o fisco ou enganar a polícia, actos que um escandinavo ocultaria de toda a gente, mesmo dos mais íntimos, com uma vergonha que lhe tiraria o sono.
Leis ou medidas tendentes a combater a corrupção não alcançam a unanimidade, enfrentam frequentemente críticas e críticos.
É evidente que tudo isto, dito assim, é um estereótipo. Em todas as culturas podemos encontrar gente de um ou de outro tipo mas quando se está atento consegue-se sentir este padrão emergir como uma nata, nas mais pequenas coisas:
Na Dinamarca, em Copenhaga, um dos aspectos que me fascinou foi a disciplina e fluidez do transito automóvel, fiquei largos minutos em cruzamentos apenas observando com espanto e admiração aquela ultra-disciplina funcionando como uma máquina afinadíssima: impensável para um automobilista dinamarquês passar com o sinal laranja, mas, por outro lado, o arranque é imediato e simultâneo quando abre o verde, não se admite que ninguém perca tempo inutilmente. Medo da polícia ? certamente que não, medo sim do controlo social dos outros automobilistas.
Como este poste já vai longo, fico, de momento, por aqui.
Em breve continuaremos a nossa conversa de café.

2006-10-10

Pena de morte

Hoje, 10 de Outubro, é o dia mundial contra a pena de morte.
Hoje, nós portugueses, comemoramos os 160 anos, da última condenação à morte em Portugal.
Demos então uma lição de civilização ao mundo, cantada por muitos espíritos ilustres, ainda que perdida entre as lições de selvajaria e ignomínia que também demos durante a nossa expansão colonial.
Mas fiquemos pela primeira, que é mais bonita, e nos deve orgulhar:
Sendo tão simples, ainda assim, muitíssimos anos depois permanecem muitas nações que continuam a não compreender esta lição até a América, a autoclassificada mãe dos direitos humanos, continua mergulhada nesta barbárie.
Chega de penas de morte.
Haja, um mínimo de decência.

2006-10-09

A luta contra a corrupção 1

Há um dilema implícito neste combate e que não é nada fácil de resolver.
Prende-se com estas duas dicotomias:
- indivíduo vs sociedade
- segredo vs transparência

Há valores em todos estes termos de cada uma destas dicotomias.

Poderei sempre dizer sem medo de grande oposição e até obtendo alguns aplausos:
1. Os direitos da pessoa humana devem ser sempre respeitados.
2. Em nome do bem estar social cessam os interesses privados de qualquer um.
3. Todos devem ter direito à sua esfera privada de comportamento.
4. Na administração e nas empresas é fundamental haver transparência.

No entanto é tudo contraditório entre si, não é possível ter tudo isto simultaneamente.

Todos estes valores nos quais podemos basear o combate à corrupção são todos conflitantes.

Para já, deixo apenas esta nota à laia de introdução ao tema.

Voltarei a este assunto com alguns exemplos que vivi.

2006-10-07

O drama da oposição

Como é que se combate um Governo que está a levar o país precisamente para o ponto e pelo caminho que ela acha que o País tem de ir.
E, ainda por cima, com mais competência.

2006-10-01

Miss Mundo

Ou seria Miss Universo ?
Já não sei bem, deu agora nas notícias da tarde... grande concurso de beleza feminina, desta vez em Varsóvia.
Ganhou uma moça da república Checa.
Infelizmente, como todas as outras concorrentes, era bem bonita mas de plástico !
Por trás dela pareceu-me ver, pendendo, 3 cordéis que se puxam:
Um para fazer rir, outro para fazer chorar e outro para falar dizendo, aleatoriamente, 33 variantes de cada uma destas frases, entremeada com a expressão “estou muito feliz” :
“Que a paz encha os corações e que todos os Homens se abracem”
“Que todas as crianças pobres tenham direito a brincar”
“Que esses senhores, que mandam no mundo não aumentem o buraco do ozono"

2006-09-29

As teorias da conspiração

Pacheco Pereira no “Prós e Contras” onde se debateu com Mário Soares, ridicularizou as chamadas “teorias da conspiração” que, para mostrar a sua independência, considerou serem uma invenção americana que recairia agora sobre os seus criadores.
Vindo esta observação de um reconhecido historiador, fiquei atónito com a falta de perspectiva e de rigor histórico demonstrado.
Desde os tempos mais remotos, muito antes dos EUA nascerem, que poderemos encontrar centenas de exemplos de manipulação e contra manipulação da opinião pública para a defesa de determinados interesses como, por exemplo no caso que vou recordar e que todos, certamente, conhecem bem.
Em 64 DC a cidade de Roma ardeu violentamente durante uma série de dias.
Oficialmente Bush, perdão, Nero atribuiu o acto a fundamentalistas islâmicos, perdão, a fundamentalistas cristãos e desencadeou uma terrível perseguição aos ditos Cristãos com manifesta crueldade e requintes de malvadez.
Logo depois, do incêndio, alguns observadores independentes começaram a formular a sua “teoria da conspiração”, observaram que vários lacaios de Nero tinham andado pela cidade com tochas acesas, certamente ateando o incêndio que se deveria assim a ordens directas do próprio Nero e que mesmo este teria, de certo modo, confirmado a autoria por frases proferidas enquanto contemplava o espectáculo na torre de Mecenas.
Como entretanto os tais Cristãos chegaram ao poder, esta teoria da conspiração ganhou força e foi já assim, esta versão, que me ensinaram na escola. A culpa foi mesmo do cabrão do Nero e não dos pacíficos Cristãos, coitadinhos. Esta passou a ser a versão oficial.
Entretanto a realidade ninguém a sabe ainda.
Alguns historiadores modernos começam hoje a concluir que terão sido mesmo os Cristãos a atear o fogo, outros atribuem-no a interesses imobiliários (já naquela época!) e outros ainda dizem que não foi Nero nem Cristãos mas antes uma mero facto acidental.
Vamos lá a saber a verdade ! mas uma coisa é certa o assunto ainda é estudado com seriedade, como deve ser
Quanto ao World Trade Center e ao Pentágono conhecemos a história oficial e as perseguições que se seguiram, ouvem-se também já vozes e factos que apontam para a conspiração.
Para já eu ainda simpatizo mais com a versão agora oficial:
A vergonhosa fuga e o desaparecimento de Bush logo após o evento, parece-me mais compatível com a versão oficial, o homem parecia estar mesmo genuinamente à rasca e não foi para nenhuma a torre de Mecenas contemplar o espectáculo nem o vejo com capacidade maquiavélica para tão brilhante encenação.
Infelizmente receio que, também aqui, a verdade verdadeira nunca chegaremos a saber ao certo.

2006-09-25

Carta aberta ao Sr. Ministro da Saúde

Excelência

Tenho notado que o alto critério de V. Exa tem seguido, passo a passo, a política por mim, modestamente, recomendada no meu poste de 11 de Maio passado, intitulado “Medidas Urgente para Resolver os Grandes Problemas do País!
Fico lisonjeado por contar com V. Exa entre os meus poucos mas fiéis leitores e por verificar que as minhas recomendações são tidas em tão alta conta ao ponto de serem consideradas na elaboração da estratégia do Ministério que V. Exa tão dignamente dirige.
Vendo todavia os resultados a que essa estratégia está a conduzir o país sinto que é meu dever de cidadão clarificar V. Exa que nesse específico poste utilizei, talvez impensadamente, a figura de estilo denominada “ironia” que consiste em veicular um significado contrário daquele que deriva da interpretação literal do enunciado.
De facto não era minha intenção recomendar ou mesmo fazer a apologia do fecho progressivo de todos os hospitais públicos do país; antes pelo contrário.
Resta-me penitenciar agora por não ter sido suficientemente explicito e claro e ter assim, involuntariamente, conduzido V. Exa numa política que de facto considero erronia.
Consola-me apenas o facto de não estar só neste tipo lamentável de equívocos, estando até muito bem acompanhado por Sua Santidade o Papa Bento XVI.
As minhas desculpas formais a V. Exa. e uma palavra de incentivo e esperança:
Sr. Ministro, creio que ainda há tempo para se corrigir um erro !

De V. Exa atenciosamente

Nuno Jordão

2006-09-20

Necrofilia

Não sei o que me move, mas com uma disciplina espartana, diariamente ou quase diariamente, continuo a picar, a escarafunchar, nos meus “favoritos” uma série de blogues mortos, que algum dia me deram prazer e que agora permanecem mortos, inertes, há longo tempo, trazendo-me sempre a mesma monótona imagem gráfica, imóvel no tempo, que já está copiada no meu cérebro e que afasto logo com um novo “clique rápido”, para afastar o mau cheiro,
No fundo, bem lá no fundo, tenho sempre comigo uma secreta esperança no milagre.
Quem sabe? Pode ser que renasçam ainda um dia,. Quem dominará o espírito destes fantasmas criadores ?
Será que o blogueador viajou ? entrou numa crise existencial ? simplesmente está sem pachorra ? ou talvez esteja ansioso mas sem tempo ou ainda nos confins do mundo sem acesso à net. Quem sabe o que se passa? quem conhecerá estes meandros misteriosos?
E isto é válido mesmo para os de morte anunciada.
Blogue que se suicida é sempre um caso patológico para mim, tenho sempre esperança que com o tempo talvez passe essa doença.
E depois há todos aqueles casos de personalidade dividida, que morrem e renascem, sempre com outros nomes e com outra identidade.
É com imenso trabalho e imensas penas que os encontramos de novo. São uns brincalhões !
Mas talvez, se calhar, pura e simplesmente, a verdade seja só e apenas que já não quer mais, chateou-se descobriu que há mais mundo para além da blogosfera!.
Infelizmente a experiência tem me mostrado que isto são só devaneios meus.
A realidade é a de esperar em vão, até me cansar. Parece que alguns morrem mesmo de doença súbita.
Mas hoje, nessa minha peregrinação habitual, a minha persistência foi recompensada: não é que “Um americano em Lisboa” o excelente blogue do Professor Amaral Dias, saiu de um coma de cerca de 9 meses.
Sem alardes, sem dar nas vistas, como quem diz “fui ali comprar cigarros e atrasei-me um pouco, mas já cá estou de volta” e, como sempre, com um poste de grande lucidez sobre a bronca papal.
Espero que não seja apenas um sinal das chamadas “melhoras da morte”.Seja bem retornado ao mundo blogosférico, senhor Professor e venha para ficar.

2006-09-18

O Abrupto irritou-me

Pacheco Pereira é uma pessoa que costumo considerar, ainda que discorde dele com alguma frequência. Vejo-o normalmente como pessoa culta, racional e objectiva, com quem dá gosto dialogar mesmo discordando.
O meu filho que também é uma pessoa lúcida e reflectida disse-me um dia:
“O Pacheco Pereira é comunista !” ao que eu lhe retorqui, “não, filho, foi comunista, agora é do PSD” mas ele insistiu “pode ser do PSD, mas é comunista!”
Como eu conheço o meu filho e sei que não é adepto de cabalas, percebi que não queria dizer que era um comunista infiltrado, nada disso, a sua afirmação colocava-se noutro nível, naquele mesmo plano em que encontramos por exemplo ex-padres ainda que agora anti-clericais ou ex-militares, agora profundamente civis, ou gente humilde que subiu na vida, ou gente rica que desceu na vida mas que continuam, todos eles, trazendo colado à pele como uma marca indelével um sistema de crenças, valores e atitudes construídos durante todo um percurso e que facilmente traem o seu passado.
O “poste do Abrupto – Problema de saúde pública” traz ao de cima o Pacheco Pereira de um “Comité Central” qualquer: o dogmatismo, o paternalismo, aquele sentido da “superioridade moral dos comunistas” a perda da objectividade, a cegueira a uma parte da realidade que não lhe interessa e não se encaixa no seu mundo.
Eu vi ontem na RTP 2 o filme “da conspiração”, dou o benefício da dúvida a Pacheco Pereira de não ser o mesmo filme a que ele se refere, mas no que eu vi estavam todas as respostas, que o Pacheco Pereira diz não existirem, estavam lá, preto no branco, e não era negado nada do que foi constactado à evidência, poderão ser tudo falsificações ou especulações, eventualmente, nada do que se vê nos media pode ser assumido imediatamente como a verdade, é tudo susceptível de ser contra-argumentado, criticado e discutido civilizadamente mas que não pode é ser negado que é só o que Pacheco Pereira faz.
Ao lê-lo gostaria de ter colocado no Abrupto este meu comentário mas Pacheco Pereira, como muitos bloggers, não aceita comentários, estão todos no seu legítimo direito, mas que indicia uma atitude censória um pouco incompatível com um espírito verdadeiramente aberto, lá isso evidencia.
Podia, é certo, mandar-lhe um e-mail, mas Pacheco Pereira não me responderia, como já aconteceu antes, é que eu e a minha opinião, não temos qualquer importância para ele. o que também é legítimo.
Resta-me fazê-lo aqui na minha tribunazinha, esse direito, pelo menos, penso que não me pode tirar.
Nuno Jordão

O nosso mundo

O nosso mundo não é real: vivemos num mundo como eu o compreendo e o explico. Não temos outro.

Raul Brandão in “Húmus”

O que me cativou nesta observação é que ela é válida para qualquer eu

2006-09-16

O Papa ensandeceu

Mas como não terá ensandecido o caso parece-me muito mais grave.
Diz a Igreja que o Papa falava para os católicos, pois é, mas só falou dos muçulmanos, como quem diz: “Vocês católicos têm que ser bonzinhos e não como aqueles cabrões, filhos da puta dos muçulmanos!” com um tacto e uma diplomacia digna da Santa Sé.
O Padre Milicias diz que o Papa tem o direito de manifestar as suas opiniões, pois tem, até tem o direito de fazer o pino nu na varanda do Vaticano só que se o fizer muita gente irá dizer que ensandeceu.
Não é de direitos que se trata, é de bom senso, elementar bom senso, e o Papa não teve nenhum.
Mas como isto não foi por acaso, foi pensado e premeditado o caso torna-se preocupante:
Ouço dizer a muitos comentadores que vivemos uma guerra religiosa, que o Islão quer converter e dominar o mundo. Eu nunca vi o problema do terrorismo assim, vejo antes como o confronto entre duas concepções do mundo e da vida.
Quando se passou o 11 de Novembro há 5 anos, não sei se lembram, eu lembro-me bem, falaram que uns dos terroristas passaram a noite da véspera num bar americano bebendo e divertindo-se bem.
Tudo isso me cheirou logo a esturro, parecia-me uma história muito mal contada porque se é verdade que eu tenho alguns amigos muçulmanos e já bebi com eles descontraidamente, também estou certo que nenhum deles se sacrificaria a morrer pelo Islão para ganhar um palácio com 40 virgens, depois da morte, não é gente desse tipo. Por outro lado os fundamentalistas islâmicos, os tais que são capazes de se matar pelo Islão, esses não bebem uma gota de álcool, não é compatível, o Profeta não quere.
Das duas uma ou eram fundamentalistas religiosos e a notícia era falsa ou era gente pouco religiosa mas com outras motivações (foder os EUA e o seu way of life) e a notícia já seria verdadeira.
Para mim, esta segunda hipótese foi sempre a mais provável.
Agora com as declarações papais, começa-se a fazer luz, quem quer mesmo essa guerra religiosa é mesmo o Ocidente e se existe um plano será da cristandade para converter o Islão e dominar o mundo.
Se não é, parece e as declarações do Papa tornam-se assim bem mais transparentes.

2006-09-15

Os “Free Muslims Against Terror”

Nuno Rogeiro dá-nos hoje conta da criação, por Kamal Nawazh, de uma frente muçulmana contra o terrorismo que ele diz chamar-se “Free Muslims Aginst Terror”.
Com este nome, tão inserido na história e na cultura árabe, não deixará de calar fundo nos corações islâmicos.
Agora falando sério: “Caro Nuno Rogeiro ou põe o nome original, certamente em árabe ou traduz para português, a língua em que escreve, assim é que não faz sentido nenhum ou será que se trata de mais uma organização da CIA ?”

Entretanto, hoje que estou com esta veia irónica, tinha já preparado um trocadilho, em que chamava ao pacto da justiça pacto com Laranja, já tinha o post escritinho e tudo, mas Ricardo Costa chegou primeiro e já intitulou assim, a sua crónica no Diário Económico tirando-me todo o brilho da piada. Que azar !

2006-09-14

Associação de ideias

Ou:
Como a partir do filme “O Fiel Jardineiro” se pode derivar até uma interessante concepção ontológica.

Primeiro tempo
Num pequeno trecho desse excelente filme de Fernando Meireles, “O Fiel Jardineiro”, há um momento em que numa situação de grande de stress e perigo, Tessa, propõe dar a mão e ajudar na fuga uma miúda sua conhecida que passava por eles, ao que ,Justin, reage afirmando qualquer coisa como isto:
“Por quê perder tempo e arriscarmo-nos ajudando esta criança que até podemos não conseguir salvar ? Ainda se pudéssemos, salvar todas os milhares de crianças que estão a sofrer tanto ao mais do que esta !”
Tessa responde simples e lucidamente: “porque esta está aqui !”
E ajudaram a criança.
(vi o filme há já algum tempo, relatei esta cena de cor ou seja, como o coração se lembra, como dizia Almada Negreiros)

Segundo tempo
Este conflito, retractado no filme, está presente no nosso dia a dia “ajudar este homem para quê ?” a pobreza no mundo e no país vai continuar tal qual”, “para quê proceder deste modo correcto, quando mais ninguém o faz ?, serve para quê ?” ,“para que servirá mais uma gota de água no oceano ?”. Esta reflexão conduziu-me à história referida, no novo testamento, em Lucas 10,25-37.
Um Doutor da Lei judaica, para experimentar Jesus, segundo S. Lucas, pergunta a propósito do preceito bíblico “ama o teu próximo como a ti mesmo” a pergunta fundamental: “E quem é o meu próximo ?” Jesus responde, como era seu hábito, com uma parábola, levando o Doutor da Lei a perceber que o seu próximo significa exactamente isso mesmo, o que está próximo, perto, aqui ao lado, a mesma conclusão de Tessa no filme.

Terceiro tempo
Esta meditação produziu em mim o efeito de uma verdadeira revelação:
O preceito bíblico e os versículos de Lucas 10,25-37 já eu os conhecia desde a minha infância mas a ideia que me era transmitida, e que estava no meu subconsciente, era a de que o “próximo” se referia a toda a humanidade, “somos todos irmãos” dizem.
É esta, aliás a interpretação mais comum, como se pode verificar numa pesquisa no Google sobre o tema. Mas esta interpretação ou antes esta generalização, em lugar de engrandecer, apenas empobrece o preceito, tornando-o inútil.
Agora, abria-se-me uma nova luz, um mundo novo: o meu próximo não pode ser toda a gente ou será apenas toda a gente na medida em que toda a gente me poderá eventualmente estar ou vir a estar próxima.
O que nos é sugerido na realidade, é que não nos preocupemos em mudar o mundo mas antes nos limitemos a amar o “próximo”, actuar no nosso nível de abrangência.
Naturalmente, se todos seguirem este preceito, e apenas desta forma, o mundo poderá alterar-se no melhor sentido.
Parece ser um verdadeiro manifesto anti-globalização!

Quarto tempo
Tendo sido um Doutor da Lei a enunciar o referido preceito Divino, não Jesus (Lucas 10,25-37) significaria que não se tratava de facto de um preceito cristão, mas antes um muito mais antigo, vindo mesmo directamente de Javé, o Deus judaico-cristão.
Parti então em busca do tal preceito sábio inscrito talvez nas tábuas da Lei, nos famosos Dez Mandamentos, de que esta determinação de amar o próximo seria parte do primeiro e mais importante mandamento, segundo o tal Doutor.
A minha busca foi infrutífera, aprendi mesmo que ninguém sabe bem quais são os tais Dez Mandamentos Divinos.
O que há são inúmeros preceitos de Javé, que vários estudiosos Judeus e Cristãos têm associado de diversas formas para formar diferentes versões do tal Decálogo.

Quinto tempo
Uma das normas Divinas que encontrei (Êxodo 21) é a seguinte:
“Quando comprares um servo hebreu, ele servirá durante seis anos: no sétimo readquirirá a liberdade sem nada pagar. Se entrou só, sairá só; se tinha mulher a mulher sairá com ele. Mas se for o senhor que lhe deu mulher, e se tiver filhos e filhas dele, a mulher e os filhos são propriedade do senhor e ele sairá sozinho.”
Afinal, mais uma vez verifiquei que a “infinita bondade” do Deus judaico-cristão, aproxima o seu pensamento ao do execrável senhor de escravos, Senhor Barão de Araruna!.

Sexto tempo
Não parece haver dúvidas a ideia genial da acção voltada para o “próximo” não pode vir daqui, directamente do Deus de Israel, só poderá vir mesmo da cabeça desse sábio homem chamado Jesus Cristo, que aliás a enuncia explicitamente no mesmo ou episódio semelhante ao relatado por S. Lucas, passado agora com um Escriba e referido em Marcos 12,28-34.
A noção do “próximo” foi de facto uma mensagem nova e revolucionária mas, ainda hoje, não bem compreendida.

Sétimo tempo
È por estas e por outras que eu não posso ser cristão, pelo menos da maneira que as pessoas normalmente dizem “sou cristão”, não obstante considerar Jesus Cristo, como um homem justo, muito lúcido e com uma enorme riqueza de pensamento que todos aproveitaríamos em conhecer melhor de todas as formas possíveis, já que ele próprio não escreveu nada que nos chegasse à mão.

2006-09-11

Será que o mundo está diferente ?

Passaram 5 anos sobre aquele acontecimento que diziam iria mudar o mundo.
E então ?
A prepotência, a mediocridade instalada e dominante, as guerras descabidas e selvagens, parecem continuar tal qual.
O que se vê que mudou muito foram os pretextos utilizados.

2006-09-08

Os EUA não torturam

Garantiu-nos Bush, o tal que nunca mente, como se sabe.
Vendo o que se viu passar em prisões mantidas pelos EUA no Iraque e em Guantánamo, é caso para perguntar “o que seria se torturassem ?, safa!”

2006-09-06

Mirandela

Talvez muitos não saibam que sendo Mirandela uma pequena cidade do interior profundo de Portugal, não é porém, como as suas vizinhas Macedo de Cavaleiros e mesmo Bragança ou Vila Real, uma cidade de interior típica, historicamente dominada por uma aristocracia rural.
Mirandela tem sido sempre uma cidade pequeno burguesa, de comerciantes
Historicamente tem-se mantido como uma pequena ilha progressista, encravada num mar profundamente conservador.
Não terá sido por acaso, aliás, que Mirandela, com exíguas forças militares e da GNR e o forte contributo da população civil, tenha tido um papel determinante e heróico no esmagamento das incursões monárquicas que se preparavam para reimplantar a Monarquia em Portugal nos tempos que se seguiram ao 5 de Outubro de 1910.
A República agradecida concedeu-lhe o grau de Cavaleiro da Ordem da Torre e Espada, Lealdade e Mérito em 1919, e parece que se ficou por aí, ficou exausta !
Até aos nossos dias, Mirandela não tem merecido muito mais consideração da República que tão significativamente e com o seu sangue ajudou a defender, pelo contrário, agora nem o direito elementar de aí ter os seus filhos lhe querem conceder.
Mas Mirandela, não cruzou os braços e está a lutar.
Eu, que sendo lisboeta, me considero com orgulho também mirandelense, quero manifestar-lhe toda a minha solidariedade.

2006-09-02

Ultimato

Eu estou com o Gil Vicente
Não sei se tem razão mas tem o seu ponto de vista que pode ser discutido civilizadamente.
Se enfrenta uns grunhos que não ouvem a sua razão, recorre a outros e a outros e a outros, até que reconheçam a sua razão ou até perder de vez a esperança e começar de novo com uma ferida que há-de sarar um dia e há-de se abrir de novo outro dia, talvez.
Estes conflitos estão à dimensão do homem.
Mas no mundo global a situação é diferente. não se suportam as “formigas” que desafiam o sistema. Cala-se um grito com uma metralhadora.
É como Bush no Iraque, no Afeganistão e como gostaria no Irão, (embora aqui tenha medo de se arranhar), é como Israel no Líbano.
A Fifa não está por meias medidas: “matem-se essas formigas todas com o nosso pé grande e poderoso, esmague-se o Gil Vicente, o Porto, o Sporting, o Benfica, Portugal e mais o que for preciso, acabe-se já com aquele cancro que desafia o meu sistema”.
Cá, em Portugal, toda gente responsabiliza o Gil Vicente “está a ver a responsabilidade que tem ? acabar com a participação portuguesa na FIFA ?”
Para mim a decisão é simples: à força não !
É preciso que se compreendam os mecanismos de culpabilização.
Cada coisa no seu nível.
Se algum dia Portugal for banido do futebol mundial a culpa não é, não pode ser nunca do Gil Vicente, faça o que fizer, é e será sempre apenas da FIFA que a decretou.
Nem mais nem menos.

2006-08-31

Natasha e os Media

Impressiono-me sempre quando dramas profundamente individuais como, salvo as devidas proporções, os que todos vivemos e ultrapassamos sós, são apropriadas pelos media e se tornam públicos, devassados, infligindo maior dor a quem já a tem insuportável.
Foi assim com Gisberta, é assim com Natasha.
Para os media é tudo um circo de horrores, de “freaks” tratado com uma curiosidade mórbida aqui no nosso quentinho “ e ainda gostava do seu agressor a miúda !”, dizem.
Para se perceber Natasha não é lendo os media que se consegue é lendo Kafka, Dickens, Victor Hugo, Freud, tantos outros.
Que ideia têm os media da condição humana, para sugerir que não compreendem Natasha ? (é o sídroma de Estocolmo, dizem sossegando, está doente e até tem nome essa doença !) no entanto, a reacção de Natasha não é mais que o mais comuns dos comportamentos humanos que nos permite, aliás, sobreviver nesta selva em que nos encontramos, mas eles nunca perceberão isto.
Natasha já pediu, sem sucesso, “deixem-me em paz”, o que os media estão a fazer é satisfazer os seus interesses privados à custa de uma adolescente indefesa é exactamente o mesmo que fez o agressor de Natasha.

2006-08-28

Excelência 2

Um outro problema que uma meditação sobre a excelência poderá sugerir, poderá resumir-se nestas duas questões:
Haverá uma excelência absoluta, universal, reconhecida por todos, uma excelência para o mundo ? ou apenas uma excelência para cada um de nós ?
Haverá uma excelência permanente, impregnada em certas pessoas que determina todos os seus comportamentos, ainda que no exercício de uma actividade específica ? ou apenas comportamentos excelentes ?
Homens como Shakespear, Camões, Bach, Fernando Pessoa, Galileu, Sócrates, pertencem a uma lista interminável de personalidades excelentes para o mundo e excelentes em toda a sua obra, Shakespear, por exemplo, não escreveu uma única linha que não fosse excelente, que digo eu ? nem uma única palavra sem excelência; apesar disso, se considerarmos o universo de curiosos e estudiosos que conhecem as suas obras certamente haverá alguns que não deixarão de descortinar algumas nódoas, verdadeiras ou imaginárias ou ainda as daquele tipo que só se vêm de determinados ângulos, menos habituais.
Por outro lado haverá também muitos homens do mesmo estatuto daqueles mas que poucos conhecem e, pelo contrário, existem também os “anti-midas”, perfeitamente incapazes da excelência, e finalmente a generalidade dos homens com alguns momentos de excelência, que surgem como ilhas num mar de mediocridade.
Vejamos ainda um outro caso mais concreto:
George Steiner é, sem dúvida, um dos grandes pensadores do século XX, que perdura ainda e que pode facilmente ser colocado no domínio da excelência., seja por mim apenas, seja pela generalidade das pessoas que o conhecem e ainda por quem o não conhece mas que aceitará como bom este juízo generalizado.
Quanto a mim, já aqui falei do seu excelente ensaio “A ideia da Europa” mas podia referir ainda variadíssimos textos de uma obra vastíssima, traduzida em muitas línguas e divulgada por todo o mundo.
George Steiner é também uma figura mediática, reconhecida num vasto meio cultural para além do académico, constantemente solicitado para expor o seu pensamento em diversos contextos.
Para mim tem, além disso, algum interesse particular.
Partilho com ele algumas preocupações que não serão tão comuns e por isso reforçam essa aproximação, como o reconhecimento da importância da memória na aprendizagem e no conhecimento, essa memória que a minha geração tanto desprezou em favor da razão e a que chamava maldosamente “empinanço” e que quase baniu do ensino, assim que teve poder para isso, com os péssimos resultados que se vêem.
Manifesta também uma fascinação pela língua dos homens e o pelo seu mistério, fascinação que também me toca.
Na sua obra “Os Logocratas”, numa entrevista a Ronald Sharp aí reproduzida, Steiner afirma o seguinte:

“Todos os meus adversários, todos os meus críticos lhe dirão a mesma coisa: sou um generalista demasiado superficial num tempo em que isso deixou de ser possível, num tempo em que todo o conhecimento responsável só poderá ser especializado. Quando saiu a primeira edição de “Depois de Babel”, um linguista eminente, um homem já de idade, e que continua vivo, alguém que muito respeito – o grande sacerdote dos mandarins – assinou uma recensão que começava assim:
“Depois de Babel é um livro muito mau, mas, infelizmente, é um clássico.” Escrevi então, ao professor e disse-lhe que nunca uma recensão me honrara tanto, tendo em conta, o infelizmente que lhe tinha arrancado. O bastante para me contentar. Ele escreveu-me a seguir uma coisa extremamente interessante. Explicou-me que tínhamos chegado a uma fase em que homem nenhum podia cobrir todo o campo da linguística e da poética da tradução. ...”

Esta passagem, para além da questão vertente do conhecimento generalista versus conhecimento especializado, que releva de uma. angústia, muito presente em Steiner e que também partilho: a impossibilidade do homem sonhar sequer vira a ser um dia um especialista de tudo, a verdadeira excelência ? coloca-me ainda uma interrogação:
Depois de Babel é um livro excelente (dizem-me, ainda não o li), é um clássico, como refere o Professor citado por Steiner, todavia esse professor de excelência, nalgum aspecto superior a Steiner, como ele próprio reconhece, considera-o um mau livro ! Haverá assim uma excelência da excelência ?
E quem será esse Professor que presumivelmente só alguns privilegiados conhecerão e que Steiner se recusa a nomear ? porquê ?
Voltando à “vaca fria” das minhas questões iniciais talvez, no fundo, as respostas tenham que ser sempre “sim”, a todas elas.

2006-08-25

A Liga Bwin e a ONU

Do caso Mateus e da embrulhada que deu, penso que todos já se deram conta, é a mediocridade e a incompetência no seu melhor.
Primeiro uma disposição desportiva absurda de que um amador tem que passar por um qualquer limbo antes de ser profissional, isto mesmo sem se saber bem o que é isso de um profissional ou de um amador no desporto.
Os Jovens que o Sporting vai trazendo de Alcochete como outros de outros lugares são já profissionais ? Se calhar são.
Depois a decisão, tarde e a más horas: pune-se o Gil Vicente que ganhou porque prevaricou e vai-se buscar o Belenenses que perdeu (porque se chama Belenenses evidentemente), um mínimo de bom senso exigiria que mesmo punindo o Gil Vicente este deveria ser substituido pelo Leixões (próximo a subir), julgo eu de que..
Mas bom senso é coisa que vai faltando e a grande confusão está aí.
Nós espectadores anónimos temos tendência a dizer: “isto só em Portugal !”
Mas podemos descansar, a ONU parece estar contaminada pela mesma lógica de desenrasca mal: Decide reforçar a sua força que se interpõe entre o Líbano e Israel e para ultrapassar as politiquices põe no comando, agora a França e depois a Itália, não digo um francês e depois um italiano, digo primeiro a França e depois a Itália, foi assim que ouvi.
Quer dizer que a França e depois a Itália é que vão mandar nas forças da ONU, que são de todo o mundo.
A mim, espectador anónimo, só me ocorre um comentário: “isto só no resto do mundo!”

2006-08-23

Mais uma prova de que o tabaco mata

Os conhecidos desenhos animados "Tom e Jerry" apareceram a fumar e foram imediatamente eliminados para não corromperem as criancinhas.

2006-08-18

Gunter Grass

Visto por uns e por outros

Para uns (como Luís Delgado) Gunter Grass é um “filho da puta” que dedicou a sua vida a tentar lixar o mundo:
Logo aos 17 anos, pensa e vê claramente que são as “Waffen-SS” que causam mais danos, adere, obviamente.
Depois, o mundo muda, as SS são agora mal vistas e Gunter Grass procura outras formas de chatear o mundo, estragar as nossas vidinhas, torna-se de “esquerda”, pois então, e escreve, escreve que se farta, engana até esses palermas do Nobel que lhe dão um prémio.
Mas a verdade vem sempre ao decima e agora já se sabe toda a verdade, vai-se finalmente lixar.

Para outros (eu, por exemplo) Gunter Grass é um homem que procura o sentido da vida e reflecte sobre as suas opções.
Aos 17 anos deixa-se fascinar pelas tropas de elite que ainda dominavam o mundo.
Quando a Alemanha perde a guerra todo aquele mundo se desmorona, vê claramente como estava enganado, reinicia a sua busca e envergonha-se das suas opções passadas embora tenha também vergonha dessa vergonha.
Perto dos 80 anos procura estar em paz com sigo próprio e mostra-se nu, tal como é, um Homem.

Para outros ainda (Lech Wałęsa, por exemplo) este filho da mâe alemão (niemęc, dito com o “nie” bem arrastado e com um esgar de boca) nascido em Danzig, cidade supostamente alemã que nós (ele) ensinámos ao mundo que se chamava, de facto, Gdansk.
Fizemo-lo cidadão honorário desta cidade porque ganhou um prémio Nobel mas mostrou agora a sua verdadeira natureza de alemão: tire-se-lhe o título já.

Para outros mais (como alguns blogues) Grass é um chico-esperto que tem levado a vida a enganar todo o mundo.
Quer estar sempre na mó de cima e, para ganhar mais uns cobres, até revela agora (quando isso já não o afecta) que se inscreveu voluntariamente nas Waffen SS.
Dito agora até parece “chic” e a venda do próximo livro vai “bombar”.

Para muitos outros: Gunter Grass ? Quem ? mas afinal quem é esse gajo ?

No fundo todos nos projectamos na imagem que fazemos dele enquanto Gunter Grass será apenas ele próprio, provavelmente tudo isto e nada disto.

2006-08-17

Afinal, foi o ovo ou a galinha ?

Biologicamente parece não haver dúvidas, foi mesmo o ovo, é só aí que estaria o património genético capaz de conferir o estatuto de galinha, mas subindo a um nível mais filosófico a questão persiste:
O pre-galo e a pre-galinha que produziram esse ovo, ao terem esse potencial e ao transmitirem essa capacidade não seriam já uma espécie de galo e galinha, a ser ?

Vem esta, eterna, questão a propósito de uma justa crítica que o leitor do público, Rui Marques, faz às paupérrimas novelas televisivas de grande audiência chamadas “Floribela” e “Morangos com Açúcar”.
A que se deve o seu sucesso ?
Tratarão essas nódoas televisivas de um mundo fictício, pobre e irreal que as televisões manipulam de forma a suscitar emoções gratuitas numa juventude desprevenida ? Como Rui Marques parece acreditar.
Ou será que é essa juventude que as idolatra que é já tão pobre de ideias e de valores que se limita a contempla-las como quem se contempla num espelho ?
Toda a esperança num mundo melhor passa por uma resposta a esta questão.

2006-08-10

A Excelência

À medida em que a globalização e o pensamento único procuram homogeneizar tudo e todos, tentam também resolver a sua própria contradição, desenvolvendo mecanismos que permitam alguma diferenciação no caldo morno e homogéneo que geram.
Procuram obstinadamente a excelência.
Mas onde estará ela ?
Afortunadamente a excelência ainda abunda, como sempre, o que está é camuflada na massa amorfa. Não é fácil vê-la. Não grita nem muda de cor para ser vista.
Há dias assisti a uma rápida entrevista de Mário Crespo ao Professor Alexandre Quintanilha a propósito do mau desempenho dos nossos alunos nas provas nacionais, sobretudo de física e matemática.
O Professor resumia assim de forma simples mas lúcida a sua visão do sistema de ensino:
Para grande parte das pessoas, que apenas a isto aspiram, tem que se lhes dar aqueles conhecimentos básicos que lhes permitem ser bem sucedidos na sociedade e exemplificava:
domínio da matemática elementar, saber fazer contas, domínio da sua língua, saber falar bem, e também a prática razoável do Inglês como língua universal, que todos precisamos de conhecer além do conhecimento geral das letras e da ciència que permitam ter um código mínimo de referencias.
Para outros, profissionais de vários ofícios, tem que se lhes fornecer tudo aquilo que já se sabe nos respectivos domínios de conhecimento de forma a se tornarem profissionais esclarecidos e competentes.
Para outros ainda, é importante dar-lhes a capacidade para irem mais longe no conhecimento, para produzirem novos conhecimentos para o mundo.
Isto é uma pirâmide, dizia ele.
Para Mário Crespo era a ponta dessa pirâmide que se deveria alargar, todos deveriam poder estar nesta ponta, na "ponta da excelência", pensava ele.
- Todos os que querem devem poder lá estar, sem dúvida, respondia o Professor, mas nem todos querem, a pirâmide traduz apenas a realidade, nem todos querem ser investigadores nem seria desejável que todos o fossem.
- Então e a excelência ? perguntava Crespo, como poderemos assim ter um ensino de excelência ou para a excelência ?
- A excelência, respondeu-lhe Alexandre Quintanilha, está em todos os níveis da pirâmide, pode haver excelência num calceteiro, num canalizador, num jornalista, num estivador, num cozinheiro, e também não a haver mesmo no topo da pirâmide, num investigador.
Não sei se Mário Crespo interiorizou este conceito, receio bem que não.

2006-08-05

A morte solitária de Gisberta

Sobre este caso não basta escrever um poste, era preciso um tratado que não sei escrever:
Revolta-me a barbárie daquele crime gratuito, cruel, maldoso, continuado, gratuito, inumano.
Revoltam-me os comentários viscerais sobre a brandura da sentença, como se a enormidade do crime se apagasse, com a lógica de uma punição violenta daqueles miúdos atarantados, sós, enganados, estúpidos, perdidos, despidos de valores e referências, embriagados de hormonas, abandonados por todos.
Revolta-me a apropriação mediática, da Gisberta pelo “lobby gay” como se o estatuto sexual de Gisberta tivesse alguma relevância para o peso e o significado da barbaridade cometida.
Revolta-me a postura dos Padres que tutelavam a formação daqueles miúdos criminosos pela tentativa patética de branquear a sua própria inoperância e falência.
Eu apenas choro por Gisberta, “minha irmã” ou “meu irmão”, pouco importa, que maltratada pela vida,. nem na rua, no seu canto, foi deixada em paz.
Deixo-lhe em homenagem o poema de uma canção de Bob Dylan, que ouço desde os meus anos de juventude e que certamente aqueles rapazes nunca ouviram e que embora se refira a uma situação totalmente diferente, não deixa de ser a mesma situação.

The lonesome death of Hattie Caroll.

William Zanzinger killed poor Hattie Carroll
With a cane that he twirled around his diamond ring finger
At a Baltimore hotel society gath'rin'.
And the cops were called in and his weapon took from him
As they rode him in custody down to the station
And booked William Zanzinger for first-degree murder.

But you who philosophize disgrace and criticize all fears,
Take the rag away from your face.
Now ain't the time for your tears.

William Zanzinger, who at twenty-four years
Owns a tobacco farm of six hundred acres
With rich wealthy parents who provide and protect him
And high office relations in the politics of Maryland,
Reacted to his deed with a shrug of his shoulders
And swear words and sneering, and his tongue it was snarling,
In a matter of minutes on bail was out walking.

But you who philosophize disgrace and criticize all fears,
Take the rag away from your face.
Now ain't the time for your tears.

Hattie Carroll was a maid of the kitchen.
She was fifty-one years old and gave birth to ten children
Who carried the dishes and took out the garbage
And never sat once at the head of the table
And didn't even talk to the people at the table
Who just cleaned up all the food from the table
And emptied the ashtrays on a whole other level,
Got killed by a blow, lay slain by a cane
That sailed through the air and came down through the room,
Doomed and determined to destroy all the gentle.
And she never done nothing to William Zanzinger.

But you who philosophize disgrace and criticize all fears,
Take the rag away from your face.
Now ain't the time for your tears.

In the courtroom of honor, the judge pounded his gavel
To show that all's equal and that the courts are on the level
And that the strings in the books ain't pulled and persuaded
And that even the nobles get properly handled
Once that the cops have chased after and caught 'em
And that the ladder of law has no top and no bottom,
Stared at the person who killed for no reason
Who just happened to be feelin' that way without warnin'.
And he spoke through his cloak, most deep and distinguished,
And handed out strongly, for penalty and repentance,
William Zanzinger with a six-month sentence.

Oh, but you who philosophize disgrace and criticize all fears,
Bury the rag deep in your face
For now's the time for your tears.

2006-08-03

Os juros estão a subir

Dizem-nos os “media” com aquela mesquinha satisfação de todos os profetas da desgraça.
- Agora a sua prestaçãozinha da casa vai subir, você está lixado, já reparou ?
E fazem todas as contas: quantos euros vamos pagar a mais. Entrevistam gente que se queixa da vida, mas que remédio, é a economia !
Eu vou pensando “pois bem, também a remuneração do nosso dinheiro investido vai ser superior” mas logo me desenganam, a notícia seguinte é que os juros dos certificados de aforro vão descer !?
E esta hem ? Quem é que me explica isto de maneira que se entenda ?
O que disseram foi que foi modificado o processo de cálculo dos juros dos certificados de aforro. !?
Quer dizer que temos que esquecer tudo o que aprendemos sobre matemática financeira, afinal há muitas maneiras de fazer contas. Até há umas que permitem remunerar menos juros quando as taxas de juro sobem !
Bom, se é assim, a minha proposta é a seguinte: alterem a forma de cálculo dos juros para compra de habitação de forma a que as prestações baixem quando as taxas de juro sobem, basta perguntar como aos que fizeram as contas para os certificados de aforro.

2006-08-02

Um Conto Exemplar

(Inspirado numa curta metragem que vi algures)

ANA e EVA

Ana e Eva eram duas irmãs de uma família humilde, criadas numa barraca, viveram uma infância simultaneamente triste e alegre, triste pelas privações materiais mas rica de amigos e de brincadeiras.

A história de Ana
Crescendo Ana, conseguiu um emprego de operária numa fábrica de confecções, com salário modestíssimo e trabalho intenso.
Conheceu aí um rapaz, operário como ela, de quem se engraçou, com quem casou e de quem teve 3 filhos.
Toda a sua vida reproduziu a vida dos seus pais. Um sacrifício imenso para criar os filhos e cuidar do marido, a quem foi fidelíssima toda a vida, até porque nem tinha tempo nem oportunidade para o trair.
Chegou a velhice, os filhos partiram para o mundo, o marido morreu alcoólico e Ana contraiu diversas maleitas que tornaram muito penosos os últimos anos da sua vida.
Um certo dia, ou melhor, uma certa noite a morte bateu-lhe à porta.
Mas Deus, que tudo vê, tinha acompanhado o sacrifício de Ana, ordenou que fosse levada, por Anjos, para o Céu, onde até agora está, gozando da sua justa recompensa e onde permanecerá para toda a eternidade.

A história de Eva
Eva conseguiu um emprego como a irmã, na mesma fábrica, mas não se conformava com aquela vida miserável.
Certo dia apareceu-lhe o Diabo, ele mesmo, sob a forma de um garboso e sedutor mancebo, que lhe propôs um contrato do tipo daqueles que o Diabo sempre propõe:
O Diabo satisfazia-lhe qualquer vontade, teria dinheiro e poder, mas ela deveria entregar-lhe a alma na hora da morte.
Eva não hesitou um segundo, perguntou logo “onde é que assino ?”.
O Diabo também assinou, entregou-lhe uma cópia e desapareceu..
A vida de Eva alterou-se num instante, no dia seguinte ganhou uma fortuna na lotaria onde nem mesmo tinha jogado. Comprou a fábrica onde havia trabalhado e ainda trabalhava a irmã e, depois desta, muitas outras fábricas e outras empresas.
Não casou mas teve imensos amantes, vivia em vários palácios em vários cantos do mundo e viveu todos os prazeres que a vida pode proporcionar.
Há até quem diga que foi feliz.
Mas a velhice chegou e com elas todas as doenças que ela foi debelando nos melhores hospitais e com os melhores médicos do mundo.
Mas a morte não a ignorou, bateu-lhe à porta também.
Foi nesse mesmo momento que Eva caiu em si.
Viu como toda a sua vida dissoluta tinha sido vazia e sem sentido e como tinha sido sempre má e mesquinha já que nem a sua pobre família tinha ajudado, nem a sua irmã e sobrinhos tinham sido aliviados do seu sofrimento, e como teria sido fácil para ela, mas havia-os esquecido, no turbilhão dos dias.
Sabia que dentro de breves instantes o Diabo iria reclamar a sua alma e para quê ? tudo tinha sido em vão.
Foi então que chorou profundamente e o seu coração se encheu do mais sincero arrependimento.
Como ela então desejava poder reverter o tempo para fazer tudo de novo e tudo diferente.
Porém Deus, que assistiu àquela contrição sincera, na Sua infinita misericórdia, olhou para as suas lágrimas e ordenou que fosse levada, por Anjos, para o Céu, onde até agora está, gozando a recompensa do seu arrependimento e onde permanecerá para toda a eternidade.

Parece é que o Diabo ficou bem furioso com a história mas foi muito bem feito para não andar por cá a desencaminhar as almas.

2006-07-31

Consciência profissional

O mesmo Professor, citado num poste anterior, despedia-se sempre assim dos seus alunos finalistas, na sua última aula:
- Ide ajudar os ricos a serem mais ricos e os pobres a serem mais pobres !

2006-07-30

Estou como a Europa

E como grande parte do resto do mundo.
Estou aqui calmamente a jantar, estou a ver aqueles dois cães engalfinhados que já conheço de outros jantares.
Tento concentrar-me na minha refeição, mas os cães perturbam-me, ladram, ganem, vão esfolando a mobília e derrubando mesas na sua luta..
E há crianças no restaurante, daqui a pouco talvez alguém se aleije a sério.
Tento não ver o que se passa e vou pensando que alguém tem que pôr cobro àquilo.
Não sei bem que cão terá razão, parece-me que ambos têm os seus pontos de vista, de qualquer forma não têm nada a ver comigo.
Ouço vozes a gritar:
- Vá “judeu” aperta-lhe a garganta, arruma com ele !.
E outras não se ficam atrás:
- Anda “palestiniano” não te deixes abater !
Pressinto que corre dinheiro de apostas sobre as mesas.
Olho para os cães:
Um é de raça pura, tem um pelo lindo, e tem a força e todas as técnicas de combate, o outro é um rafeiro valente, sujo e andrajoso como aquele “cão de ataque” dos “Amores Perros”, ninguém dava nada por ele mas tinha um coração de gigante e não se vergava nunca.
- Será que estes cães não têm um dono que ponha ordem nisto ?
Penso eu, tentando não olhar.
Começo a ouvir crianças a gritar. Crianças que os pais vão retirando da mesa para as proteger.
Alguém vai se aleijar por certo.
Começo a estar farto.
Não tarda nada levanto-me e nem pago o jantar.
- Chega porra será que ninguém vê que isto não é tempo nem lugar para estas coisas ? isto ainda vai acabar mal !

2006-07-27

A regra de Ouro

Como dizia sabiamente um velho Professor de “Reading”, que infelizmente não conheci pessoalmente, a Regra de Ouro é:
“Quem tem o ouro faz as regras”.

2006-07-25

A vida

É a grande aventura de cada um

A Senhora Ministra da Educação

Maria de Lurdes Rodrigues parece-me uma ilha de bom senso rodeada por um mar de mediocridade.
Sabe o que quer e quer o que é necessário: escolas que eduquem as crianças e jovens e não um somatório avulso de professores, bons, mais ou menos, maus e péssimos, cada um por si.
Não a vi no parlamento mas chegaram-me os ecos da sua presença aí.
Atirada aos grunhos, naturalmente, saíu suja e aleijada.
Espero que sobreviva, não é certamente única mas pertence a uma categoria cada vez mais rara.

2006-07-24

O abrupto assalto ao Abrupto

Como terão reparado ao aceder à página, ou lido ou ouvido nos media, de vez em quando, o conhecido blogue Abrupto deixa de ser o Abrupto mas outra coisa qualquer que se apresenta no seu endereço.
É chato como o caraças e não tem graça nenhuma.
Não creio que haja motivações políticas ou ideológicas para atacar o Abrupto, a haver as suas intenções deveriam ser explicitadas e até se poderia gerar alguma polémica interessante, mas não, terão escolhido o Abrupto, e ao que parece apenas o Abrupto, só por ser mais mediático, ter muitos visitantes diários e toda a gente conhecer o seu autor.
Assim, sempre que o assunto é comentado os piratas rebolam-se de prazer alarve.
É pouco, é muito pouco, é só estragar para nada.
Deixem os nossos cantinhos em paz, por favor, isto está visto e não nos alegra.

2006-07-20

Não gosto do Cavaco

Na realidade não sem bem porquê, será uma questão de pele, como se ouve dizer, mas os contactos das nossas peles, a terem existido, terão sido muito fugazes, talvez um rápido aperto de mão tenha existido mas sem me deixar nenhuma impressão ou mesmo memória.
É talvez aquela ausência do “risório de Santorini” como muito bem lembrou o Professor Amaral Dias no seu efémero blogue. Na verdade, não sei porquê, nunca votei em Cavaco e não penso nunca votar em Cavaco.
Tanto mais estranho é que, na verdade, não tenho nada de mal a apontar ao homem, antes pelo contrário.
Penso que a sua passagem por Primeiro Ministro correspondeu ao "período de ouro" do nosso desenvolvimento “relâmpago”, pessoalmente nunca fui tão bem tratado como no seu consolado e, ainda que o veja obcecado pela Economia, noto que tem desta a visão de uma ciência para servir os homens e não aquela visão vigente de um monstro caprichoso e de mau feitio que nos berra e lança as suas garras quando não fazemos todas as suas vontades.
Neste novo período de Presidente, só tenho a dizer bem dele.
Primeiro, a sua chamada de atenção para os excluídos, para os vomitados pelo tal monstro económico, que até aqui não tinham preocupado ninguém, a tal “escumalha”.
Depois, este pequeno recente episódio em que pôs os pontos nos ii sobre o controverso investimento do TGV: “tem que se estudar muito bem para ver até que ponto isso vai melhorar a qualidade de vida dos portugueses”.
Nem mais, não falou em empresas de construção, empórios financeiros, negócios de terrenos. prestígio nacional, nada disso, focou apenas o essencial: o bem estar dos portugueses.
Bem haja.

2006-07-18

DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL

PEÇA EM 3 ACTOS

ACTO 1
Polónia, sala de aulas. Na mesa um professor, especialista internacional de desenvolvimento, acompanhado de uma jovem intérprete de francês para polaco. Na assistência 37 quadros médios polacos.
Professor - Le développement soutenible ....
Intérprete – roswój .. ah, ah (baixo para o Professor) Développent soutenible ? je ne connais pas...
Professor (baixo para a intérprete) – mais vous connaissez le verbe soutenir, non ?
Intérprete – Bien sure, mais développent soutenible je ne connais pas.

ACTO 2
Mesa de esplanada, o Professor e o seu colega francês, conversam tomando cervejas.
Professor – Mon interpretre ne connaissais pas le concept de développent soutenible.
Colega – mais bien sure, ça n`existe pas en français.
Professor – Mais il existe développement et le verbe soutenir, non ?
Colega – Oui mais il ne existe pas soutenible, c`est soutenable.
Professor – Ah, bon c`est développement soutenable, donc, je n`irais pas oublier.
Colega – Non, non, il y a développent et soutenable mais pas de développement soutenable, vos comprenez ? C´est développement durable.
Professor – Mais ça n´est pas la même chose, soutenable et durable.
(A conversa continua em volta destas noções de sustentável e durável e a sua adequação ao desenvolvimento)

ACTO 3
Quarto de hotel. O Professor, deitado na cama, continua a discorrer sobre o sustentável e o durável desprezando a “pobreza” da língua francesa.
Professor (pensando alto) – Sustentável pressupõe uma acção positiva para que se mantenha, durável pode ser qualquer coisa desde que aguente.
No entanto sustentou-se o Vale do Ave e tantos outros projectos de desenvolvimento que bem cedo chegaram ao seu fim, no fundo, no fundo, os franceses têm razão. o que é preciso é que seja durável, apenas, de qualquer forma.
Será ?
Nesse momento ocorreram-lhe as palavras de Pessoa no talvez melhor poema do mundo escrito no século XX: “Tabacaria”

...Mas o Dono da Tabacaria chegou à porta e ficou à porta.
Olho-o com o desconforto da cabeça mal voltada
E com o desconforto da alma mal-entendendo.
Ele morrerá e eu morrerei.
Ele deixará a tabuleta, eu deixarei os versos.
A certa altura morrerá a tabuleta também, os versos também.
Depois de certa altura morrerá a rua onde esteve a tabuleta,
E a língua em que foram escritos os versos.
Morrerá depois o planeta girante em que tudo isto se deu.
Em outros satélites de outros sistemas qualquer coisa como gente
Continuará fazendo coisas como versos e vivendo por baixo de coisas como tabuletas...”

2006-07-12

O dilema de Portugal

Há dias, já não me lembro qual “opinion maker”, creio que um dirigente patronal, resumia assim o dilema de Portugal:
Os portugueses podem querer a sardinha assada, o vinho, os feriados, as pontes e o futebol, porque é uma opção legítima, o que não podem é, ao mesmo tempo, querer ser como os suecos e ter os seus salários e o seus benefícios sociais e o seu modo de vida.
Estou inteiramente de acordo, só que esse “opinion maker” não disse ou não percebeu ainda é que os portugueses, em geral, o que querem mesmo é a sardinha assada e que se lixem os suecos, quem quer ser como os suecos é só ele o tal “opinion maker”.
É este divórcio entre as elites e o povo que torna Portugal ingovernável e é isto mesmo que escreve Rui Ramos hoje no Público no seu excelente artigo de opinião “O ódio ao futebol”.
O link fica aqui embora, infelizmente, o acesso seja só para quem paga ao Público (à sueca).

O título de destaque do DN “on-line” de hoje

“Teixeira dos Santos garante que o apertar do cinto vai continuar” !
Que alívio ! Eu que receava que as calças me caíssem posso agora sossegar: o Ministro garante que o cinto vai continuar apertadinho.

2006-07-10

A “inexplicável marrada” de Zidane

Parece-me transparente como a água.
Um jogador de topo a nível mundial, que carregue aos seus ombros toda a França, que vai aguentando, tão estoicamente como pode, toda pressão física e psicológica dos seus adversários para não falarmos da inveja dos “amigos”, que melhor altura teria para ajustar simbolicamente as suas contas, de toda uma vida, do que os últimos minutos da sua carreira.
Já não prejudica a França nem ninguém, senão muito marginalmente, já não tem nenhuma carreira a defender, já não tem nada a provar nem nada a perder.
Feio, terá sido, mas que lhe deve ter sabido muito bem, não tenho quaisquer dúvidas.

2006-07-08

Quase

Um pouco mais de sol - eu era brasa,
Um pouco mais de azul - eu era além.
Para atingir, faltou-me um golpe de asa...
Se ao menos eu permanecesse aquém...
Assombro ou paz? Em vão...
Tudo esvaído Num grande mar enganador de espuma;
E o grande sonho despertado em bruma,
O grande sonho - ó dor! - quase vivido...
Quase o amor, quase o triunfo e a chama,
Quase o princípio e o fim - quase a expansão...
Mas na minh'alma tudo se derrama...
Entanto nada foi só ilusão!
De tudo houve um começo ... e tudo errou...
- Ai a dor de ser - quase, dor sem fim...
Eu falhei-me entre os mais, falhei em mim,
Asa que se enlaçou mas não voou...
Momentos de alma que, desbaratei...
Templos aonde nunca pus um altar...
Rios que perdi sem os levar ao mar...
Ânsias que foram mas que não fixei...
Se me vagueio, encontro só indícios...
Ogivas para o sol - vejo-as cerradas;
E mãos de herói, sem fé, acobardadas,
Puseram grades sobre os precipícios...
Num ímpeto difuso de quebranto,
Tudo encetei e nada possuí...
Hoje, de mim, só resta o desencanto
Das coisas que beijei mas não vivi...
Um pouco mais de sol - e fora brasa,
Um pouco mais de azul - e fora além.
Para atingir faltou-me um golpe de asa...
Se ao menos eu permanecesse aquém...

Mário de Sá Carneiro

Interpretando o que muitos sentimos agora

2006-07-06

Rescaldo do mundial

Portugal teve 5 vitórias e uma derrota, a França teve 4 vitórias e 2 empates, numa prova por pontos ainda estávamos à frente mas como não é, ficamos todos tristes excepto os comerciantes de mobiliário de Paços de Ferreira que vêm assim afastada a necessidade de devolver o dinheiro das mobílias compradas recentemente como haviam prometido fazer no caso de Portugal ser campeão.
Ufa ! Que grande susto! Pelo menos salvou-se a economia local.

2006-07-05

A “saga” dos magriços

Agora que tanto se tem falado desse episódio longínquo de 1966, gostaria de dar também o meu testemunho do facto.
E posso bem fazê-lo porque o vivi “in loco”, em Inglaterra, onde, com os meus 16 anos passava umas férias escolares num campo de trabalho, apanhando morangos e bolbos de túlipa.
Os campos de trabalho eram os “Erasmos” daquela época, a oportunidade para um jovem correr mundo sem arruinar o orçamento familiar.
Naquele tempo eu era como Pacheco Pereira, não queria saber de futebol, as minhas preocupações passavam mais pelas jovens “Suecas”, companheiras de trabalho e que designo entre aspas porque algumas delas não eram de facto Suecas, as míticas, eram apenas “gajas” porreiras de diferentes nacionalidades, livres da moralidade então vigente na nossa longa noite “fascista”.
No fim do período de trabalho passei uma semana em Londres, gastando os lucros da operação, dormindo em “pousadas da juventude” e percorrendo a cidade. Foi no período exacto em que decorria o Campeonato do Mundo de Futebol de 1966.
O que foi para mim notável, foi que Portugal, nessa época era, para os ingleses um país obscuro, velho aliado, sabiam da história, mas meio pateta e analfabeto, todavia, com os crescentes sucessos de Eusébio e companhia, saltou de repente para as luzes da ribalta.
Passei a ser melhor olhado na cidade, mas o mais significativo foi que todas as lojas, grandes e pequenas, começaram a colocar letreiros nas montras dizendo “fala-se português”.
De onde viria esse súbito conhecimento da nossa língua que parecia não haver cão nem gato que não a falasse ?
O meu divertimento e do meu colega Miranda que compartilhou comigo esta aventura, foi o de entrar em todas as lojas com o tal letreiro e “exigir” falar em português.
Foi aí e então que comecei a perceber os mecanismos do “espectáculo”.
Na realidade eram poucas as lojas onde tinham alguém que falasse a nossa língua, aparecia-nos de tudo, desde o “Sim, temos um funcionário que fala português mas hoje, infelizmente não veio” até ao caixeiro que tinha passado as últimas férias no Algarve e sabia dizer “bom dia” e “obrigado”, passando pelos que falavam algum espanhol (para eles mais ou menos a mesma coisa que o português) e até um ou outro, raríssimo, que de facto falava português.. Portugal, naquele momento entrou no mapa para os ingleses e, queiram ou não, foi o futebol que fez esse milagre.

2006-07-04

Exames

For some reason my most vivid memories concern examinations. Big amphitheater in Goldwin Smith. Exam from 8 a.m. to 10:30. About 150 students-- unwashed, unshaven young males and reasonably well-groomed young females. A general sense of tedium and disaster. Half-past eight. Little coughs, the clearing of nervous throats, coming in clusters of sound, rustling of pages. Some of the martyrs plunged in meditation, their arms locked behind their heads. I meet a dull gaze directed at me, seeing in me with hope and hate the source of forbidden knowledge. Girl in glasses comes up to my desk to ask: "Professor, Kafka, do you want us to say that . . . ? Or do youwant us to answer only the first part of the question?" The great fraternity of C-minus, backbone of the nation, steadily scribbling on. A rustle arising simultaneously, the majority turning a page in their blue books, good team work. The shaking of a cramped wrist, the failing ink, the deodorant that breaksdown. When I catch eyes directed at me, they are forthwith raised to the ceiling in pious meditation. Windowpanes getting misty. Boys peeling off sweaters. Girls chewing gum in rapid cadence. Ten minutes, five, three, time's up.

Vladimir Nabokov
(entrevista à Playboy – 1964)

2006-07-01

Lá comemos os bifes

Mas tinham muito nervo.

A aristocracia e o povo

Li algures que a “nobreza”, a “educação”, o “chá”, enfim espero que se perceba o que quero dizer, estão nestas duas pontas da estratificação social: na aristocracia e no povo.
Pelo meio está esse vasto mundo da “burguesia” do “dinheiro” do “status” com um esquema de valores inteiramente diferente.
Eu, que sou do povo, por acasos da vida, de quando em vez viajo de avião em “1ª classe”. Digo 1ª classe porque é assim que o povo chama e conhece aquelas designações de “business”, “executive” e expressões equivalentes que usam as burguesas companhias aéreas, politicamente correctas.
Esta situação aconteceu-me hoje no meu regresso da Ilha Terceira, onde estive na passada semana e, nesta curta viagem de duas horas, aconteceram-me duas insólitas situações que passo a relatar:
Para os “burgueses”, meus companheiros de 1ª classe, como mesmo para aqueles que não viajam em 1ª classe, o cúmulo do prazer em viagens de avião parece ser o de se reclinarem nas cadeiras até ao limite mecânico destas e isto independentemente de se levantarem das ditas cadeiras com uma enorme frequência, talvez para irem, dezenas e vezes às casas de banho.
Na 1ª classe a principal vantagem que se tem, nestas viagens curtas, é precisamente o espaço e a distância entre filas que é considerável. Pois, não obstante esta distância considerável o meu companheiro da frente após várias tentativas que começaram com o avião ainda no terreno, conseguiu reclinar-se de tal maneira que derrubou uma garrafa que estava sobre a minha mesinha, a talvez uns 80 cm de distância das suas costas, quando direitas.
Depois, houve este diálogo, quase textual, entre mim e a hospedeira:
- Com o café gostaria de beber uma água ardente, pode ser ?
- Água ardente não temos, só Cognac.
- Cognac está óptimo, aliás não é mais do que uma água ardente.
- Sim, de certo modo.
Pouco depois, vem o Cognac e esta declaração que me imprimiu tendências assassinas, diz-me ela assim:
- Peço desculpa de não ser branco mas não há Cognac branco !
Apeteceu-me responder-lhe:
- Sim, sim, é o cognac e o guarda-chuva da minha enteada !
Mas fiquei simplesmente saboreando o meu cognac e meditando sobre o estranho mundo que se passaria naquela linda cabecinha.

2006-06-24

Uma coisa é certa

Tudo, por melhor que seja, pode ser sempre ainda melhor.
Deixem pois os inimigos de Scollari destilar o seu ódio até ao fim.

2006-06-22

Trabalho de casa

Nas minhas aulas de polaco, como é habitual nestas situações, tenho trabalhos de casa.
O último que me propuseram colocou-me problemas para além dos habituais.
Tratava-se de narrar, em polaco naturalmente, uma história apresentada em quadradinhos sem legendas.
A história era, aparentemente bem conhecida em muitas culturas diferentes, contada a crianças em muitíssimas línguas, a história dos 3 porquinhos com casas, respectivamente de palha, madeira e pedra que são atacadas, com sucesso, pelo lobo mau, com excepção da firme casa de pedra.
No trabalho também me era pedido que redigisse em polaco a moral da história.
Na verdade nunca tinha pensado no assunto embora pense que passará pela importância de nos protegermos bem contra as agruras da vida ou de que os esforços para assegurar a segurança são recompensados.
De qualquer modo, aquele exercício trazia uma rasteira, um último quadradinho mostrava o lobo mau a avançar para a casa de pedra sentado numa potente escavadoura, o fim da casa de pedra mostrava-se inevitável.
Perante a fatalidade só me lembrei de uma moral: “O poder estraga a vida de toda a gente” e foi isso que verti para polaco.
Na correcção, para além dos inevitáveis erros de polaco, o pessoal riu-se da minha conclusão moral, parece-me que a história lhes sugeria mais a importância da tecnologia ou algo assim.
Voltei a ver e a rever os quadradinhos e, para mim, a única evidência era a que escrevi:
Os poderosos ganham em todas as situações !

2006-06-19

A voz dos avós que nos há de guiar à vitória

Quando Dulce Pontes cantou (aliás pessimamente) o hino nacional durante a cerimónia da bandeira das mulheres, a certo ponto cantou assim:

Oh Pátria ergue-se a voz
Dos teus egrégios avós
que hão-de guiar-te à vitória

Ora o que Henrique Lopes de Mendonça escreveu foi outra coisa:

Oh Pátria sente-se a voz
Dos teus egrégios avós
Que há-de guiar-te à vitória.

Quer dizer: nem a voz se ergueu nem são os avós, coitados que já morreram, que nos vão guiar à vitória, nada disso, é sua voz que se sente que o fará.
Todavia, quando isso se passou, eu não liguei muito, a Dulce baralhou-se um pouco ou alguém a enganou.
O caso torna-se sério quando vemos que um juiz decidiu não conceder a nacionalidade a uma cidadã cá radicada há anos e com filhos portugueses só porque não sabia a letra do hino nacional e depois, quando ontem no programa “O eixo do mal” da SIC notícias os comentadores debatem a questão dos símbolos nacionais, reproduzem esta passagem de Dulce Pontes e apesar de ser um programa de achincalhamento permanente a tudo e a todos, não fazem a mínima observação ao facto mostrando que também eles, tal como Dulce Pontes não sabem o hino nacional.
Não admira que tenham batido tanto no tal juiz, que aliás deveria ser mais cuidadoso ou a nacionalidade estará em risco para muitíssima gente.

2006-06-16

Voltei hoje para ouvir isto

Ribeiro e Castro critica o governo, que reputa de esquerda, por promover uma lei do arrendamento que promove uma verdadeira expropriação por interesse privado.
Não percebo a sua crítica: expropriações por interesse privado não são mais do que a prática normal e diária do sistema deste e de todos os governos.

2006-06-02

Este Blogue encerra para férias

Reabre na segunda quinzena do mês para falar, talvez, das minhas aquisições na Feira do Livro, que estou a pensar digerir agora.
Ainda assim, até pode ser que apareça alguma porta de ecesso à net.
Nunca se sabe!

2006-05-30

Mensagem

Europa spoczywa podparta łokciami:
Od Wschodu do Zachodu spoczywa i patrzy,
Jej romantyczne włosy spadają na czoło,
Greckich oczu pamięci przysłaniając krasę

Łokieć lewy – cofnięty:
Prawy – oparty pod kątem
Tam Italia, gdzie pierrwszy;
Drugi to Anglia, odsunięty
By dłoń podeprzeć mogła głowę.

Ptrzy spojrzeniem Sfinksa, spojrzeniem fatalnym,
Na Zachód, co przyszłości wieści.
Patrzy na Zachód twarzą Portugalii

Fernando Pessoa

Assim abre uma muito recente edição em polaco da "Mensagem" ("Przesłanie") de Pessoa.
Lançada pelo Instituto de estudos ibéricos e ibero-americanos da Universidade de Warsóvia

Aqui fica também o magnífico original na nossa língua

A Europa jaz, posta nos cotovelos:
De Oriente a Ocidente jaz, fitando,
E toldam-lhe românticos cabelos
Olhos gregos, lembrando.

O cotovelo esquerdo é recuado;
O direito é em ângulo disposto.
Aquele diz Itália onde é pousado;
Este diz Inglaterra onde, afastado,
A mão sustenta, em que se apoia o rosto.

Fita, com olhar esfíngico e fatal,
O Ocidente, futuro do passado.
O rosto com que fita é Portugal

Fernando Pessoa

Auschwitz

O Papa esteve em Auschwitz e referiu que sendo alemão, (membro da juventude hitleriana, acrescento eu) não tinha palavras para se pronunciar. Compreendo-o..
Eu sou seguramente um dos poucos portugueses que melhor conhece Auschwitz.
Visitei n vezes o lugar, uma por mim, outra pela minha mulher quando me visitou na Polónia, e muitas mais por cada um dos franceses que se sucederam a me acompanhar no trabalho de formação, que foram muitos, sabendo que todos queriam visitar Auschwitz.
Eu levei-os lá.
Dizia, de brincadeira, que me poderia candidatar a guia oficial do campo, e, na verdade, podia.
As memórias que aí colhi sugerem-me muitas reflexões que poderei deixar em postes.
Talvez as vá escrevendo qualquer dia, por agora, queria apenas deixar a referência que me tocou mais fundo nesse local de massacre:
A frase que encima o portão de entrada no “campo”, que todos já viram na tv sem talvez nunca ter reparado nela e que diz::
“Harbeit Macht Frei”.
Cito o alemão de memória, perdoem-me qualquer erro, dizem-me que significa “O Trabalho Conduz à Liberdade”
Sabendo o que se passava naquele “campo de trabalho” a hipocrisia ali expressa, também contida nos concertos que prisioneiros músicos proporcionavam, junto a esse portão, para alegrar os cortejos de regresso do trabalho forçado dos seus colegas menos afortunados, esta presença simultânea entre a beleza e a mais abjecta crueldade, esta insuportável mas suportada contradição de termos, gravaram-se na minha memória, revelam-me muitíssimo sobre a condição humana.

2006-05-29

A ideia da Europa

Li finalmente o excelente ensaio de George Steiner: “A ideia da Europa”.
Finalmente, digo, porque quando o procurei pela primeira vez estava esgotado.
É um ensaio notável porque consegue captar exactamente aquilo a que se propõe: a ideia da Europa, fugindo a todos os lugares comuns e números "cabalísticos" que pretendendo dizer tudo nada conseguem dizer.
É um ensaio notável porque consegue revelar-nos o que está diante dos nossos olhos e raramente conseguimos ver.
É um ensaio notável porque consegue o paradoxo de traduzir simplesmente uma enorme complexidade sem, todavia, a simplificar.
Parte de 5 axiomas que Steiner construi e que refiro aqui, extraídos da sua própria pena:
«O café; a paisagem a uma escala humana que possibilita a sua travessia; as ruas e praças nomeadas segundo estadistas, cientistas, artistas e escritores do passado (...); a nossa descendência dupla de Atenas e Jerusalém; e, por fim, a apreensão dum capítulo derradeiro, daquele famoso ocaso hegeliano que ensombra a ideia e a substância da Europa mesmo nas suas horas mais luminosas».
Agora que o ensaio está em quase todas as livrarias e na Feira do Livro de Lisboa, recomendo vivamente a sua leitura.
Isto a quem se interessar um pouco pela Europa, claro, porque é só disso que se trata.

2006-05-28

Uma reportagem exemplar

Na RTP 2, hoje sobre Timor em convulsão.
Entrevistaram-se pessoas avulsas no meio de uma multidão que rodeava uma casa.
- Queremos arroz, um pouco de arroz para minha família que dizem que vão distribuir.
Dentro da tal casa estava Ramos Horta que explicava:
- Temos arroz mas se abrimos a porta, entra a população de qualquer maneira e perdemos o controlo da situação.
Este é o grande problema: tão simples mas tão complicado que exigiu a presença do Ministro dos Negócios Estrangeiros timorense.
Não estou a falar ironicamente, sinto que está mesmo aqui a essência do problema.

2006-05-26

Elogio à globalização

Eu, que estou desagradado , com o rumo que o mundo vai tomando, e como a globalização vai eliminando o indivíduo, não quero deixar de manifestar a minha admiração pela forma como a sociedade global está a lutar contra o vírus da gripe das aves.
Eu, vivi na minha juventude a pandemia da gripe asiática, estive de cama com quase todos os meus irmãos e amigos e conheço testemunhos, da espanhola, e da pneumónica que afectou profundamente toda uma geração.
Sei que a estratégia dos vírus tem sido sempre a mesma: começa nas aves, e apenas passa das aves para homens até encontrar um determinado homem engripado que cria as ideais condições para uma mutação ou fusão entre os dois vírus, o das aves que contribui com a virulência e o vírus comum que fornece a capacidade de propagação.
Em termos simplistas o mecanismos é este, o que é diferente hoje é a globalização da espécie humana, e a máquina que montou de alerta, a monitorização das aves, o acompanhamento de todas as ocorrências sejam em Carrazedo de Monte Negro, sejam em Shin Huai na Ásia, em Bacu em Àfrica ou em Nova Iorque nos EUA, tentando protelar esse encontro fatal entre os dois vírus ou pelo menos estar próximo quando ele ocorrer.
Isto é uma situação única na história da humanidade, o vírus não contava com isto, é equivalente ao sonho da guerra das estrelas de Bush pai.
Até agora está a funcionar em plenos, os anos vão passando e a pandemia não aparece.
Eu vou acompanhando com um caso de estudo, ainda que me possa eventualmente matar, para ver até quando e, se vier, como será ?

2006-05-23

Notícia de rodapé do noticiário da SIC

Era qualquer coisa como isto:
“Governo diz que em dez anos acabará com o problema das espécies em vias de extinção”.
Desconheço o contexto desta notícia, pelas razões que expus no poste anterior, mas não estranhei:
Eu já desconfiava que o Governo de Sócrates estava pouco preocupado com as questões comezinhas que afligem os portugueses, ele vê muito mais longe, tem maiores ambições, quer pôr ordem na própria natureza e acabar com essa filosofia natural de fazer tudo com princípio meio e fim: apostar tanto na diversidade, provocar tanta mudança para que na essência tudo fique, mais ou menos, na mesma.
Para já, propõe-se terminar, em dez anos, com esse erro divino que permite a extinção das espécies. Basta !
Estivesse cá o Governo de Sócrates, há alguns (muitos) anos e ainda teríamos o prazer de ver os dinossauros, passeando felizes e contentes nas nossas auto-estradas.
Extinção de espécies nunca mais. Podem sossegar os linces da Malcata, se aguentarem mais dez anos, e os burros de Miranda.
Parece-me que o próximo passo na lógica governativa e que terá todo o meu apoio, será passar para a óptica intraespecífica, a questão dos próprios indivíduos, acabar com todo o tipo de extinção e ponto final parágrafo.
Sócrates vai-nos presentear com o elixir da longa vida.
O problema que o está a tolher parece ser apenas o de assegurar a viabilidade do sistema de segurança social, dado que pelas contas do governo se a esperança de vida cresce as pensões de reforma têm de diminuir e tenderão naturalmente para zero quando a esperança de vida tender para infinito !

2006-05-22

O Tribunal de Tomar

Hoje, pela segunda vês, estive no Tribunal de Tomar e, pela segunda vez, esperando até que me dissessem que fosse à minha vida e voltasse depois, no dia e na hora x.
Este meu encontro com o sistema judicial merecia um poste circunstanciado mas a réstia de respeito que vou nutrindo pela justiça faz-me calar.
Só não resisto a contar que fui confrontado com uma matilha de cães subindo e descendo a escadaria do Tribunal (não em sentido metafórico, eram cães mesmo) e por uma encarniçada luta de pombos pela posse de um beiral, provando que até os “símbolos da paz” podem perder a paciência algumas vezes.
De regresso, parei para almoçar na área de serviço da Santarém da A1 e, estando só, comi sentado em frente de um grande ecrã de TV que transmitia o noticiário da SIC mas sem som, apenas murmúrios.
Fui então vendo as imagens e lendo as notas que circulam em rodapé e nada têm a ver com as imagens, numa experiência estética notável, num real mundo su-real.
Retive duas dessas notas de rodapé, e das duas falarei nos próximos postes.
A primeira dizia assim: “Governo anuncia que em dez anos acabará com o problema das espécies em extinção !”.

2006-05-20

Entre-os-rios

Penso que quase todos sabem do que estou a falar.
Uma camioneta cheia de gente feliz, regressando de uma jornada organizada para ver amendoeiras em flor, jornada feliz de convívio, boa comida, descontracção, daqueles poucos momentos em que se podem esquecer os problemas da vida, passa na ponte Hintze Ribeiro em Entre-o-rios e a ponte cai, com ela, a camioneta e os passageiros que morrem inglória e desesperadamente afogados no Douro. Uma tragédia !.
Um Ministro, sensato, que provavelmente nem sabia bem de que ponte se tratava, adivinhando bem o que daí viria, pede imediatamente a sua demissão, assumindo a responsabilidade política e livrando-se imediatamente do problema.
Os média, e o pensamento único, encarniçam-se para punir os culpados:
“A culpa não pode morrer solteira !” era o que mais se ouvia e ainda se ouve.
Curiosamente, há centenas de anos, quando a civilização era mais simples e facilmente se podiam imputar responsabilidades, a opinião pública era sensível a influências estranhas, podia haver culpa dos deuses, do tempo, dos pecados do mundo, enfim haver a culpa de qualquer transcendência. mas agora, neste mundo global em que todos estamos alienados, sen nenhuma consciência do nosso papel no exército da produção, tempo em que todos nos limitamos a apertar um parafuso desta grande máquina e nem sabemos muito bem que parafuso é, tempo em que, por natureza, todas as responsabilidades estão diluídas, não toleramos nunca culpar as forças do sistema, tem que haver sempre um responsável humano: “a culpa não pode morrer solteira !”.
Eu estou a ver os técnicos que suspeitavam de que algo estava mal mas não os deixaram visitar o local, porque havia outras prioridades ou faltava verba para ajudas de custo e outros que o visitaram, e viram o que se passava e escreveram o que viram mas a quem ninguém ligou nenhuma, eram uns chatos com a mania do perfeccionismo, e outros ainda que também viram tudo, mas se limitaram a falar do assunto ao café porque sabiam já que a sua voz nunca seria ouvida.
E os vários chefes, na cadeia hierárquica, tentando conter o ímpeto despesista e alarmista dos técnicos, já que pilares corrompidos é o que para aí não faltará, a questão é apenas a de saber se a ponte vai cair e isso ninguém sabia ao certo, “com sorte ainda vai durar muitos anos” e duraria não fossem as maiores cheias do Douro dos últimos 300 anos que por azar vieram naquele preciso ano.
E é isto que os senhores juizes têm constatado ao aprofundar o assunto, embora o pensamento único, não aceite: “a culpa não pode morrer solteira”, e certamente alguém irá pagar, provavelmente o elo mais fraco do sistema, como sempre.
Pois eu, olhando para o mundo em que vivemos também estou a ver muitos pilares corrompidos e procuro ir alertando como posso.
Só espero não vira a pagar por isso quando o mundo ruir.
Aqui declaro que eu já avisei, a culpa não poderá ser-me imputada. Espero !

2006-05-15

O que eu não compreendo no vegetarianismo

O seu desprezo pelo reino vegetal que pode ser arrancado, morto, mutilado, tratado com água e óleos ferventes, mastigado e deglutido.
Será que é porque os infelizes não fogem, não gritam, e nem se queixam ?

2006-05-11

A árvore e a floresta

Muitas vezes utilizei esta metáfora:
- Não consegues ver a floresta por causa da árvore !
Hoje, cada vez mais, vou tendo que utilizar uma outra:
- Não consegues ver a árvore por causa da floresta !

Medida urgente para resolver os grandes problemas do país

Isto não é só as maternidades, tem que se encerrar todos os hospitais públicos, já.
Já viram as vantagens ?
O dinheiro que se poupava era imenso, em salários e manutenção.
Os edifícios podiam ser vendidos e proporcionar um magnífico encaixe para ajudar ainda mais a eliminar o défice.
A mortalidade, tenhamos esperança, deveria aumentar um pouco sem ter aquele aspecto antipático de matar os velhos diretamente (tem que haver um pouco de étical!) e assim se poupava um dinheirão em reformas, salvando-se a segurança social.
E o Governo de Sócrates rebolava-se de orgulho nesta sua caminhada para salvar o país.

2006-05-07

Os 150 anos de Freud

Não obstante se comemorar hoje os 120 anos da Coca-Cola, continuo a pensar que os recentes 150 anos de Freud ainda têm um maior significado.
Basta tentar perceber este aparentemente irracional ódio às maternidades, manifestado pelo Governo e em especial pelo Sr. Ministro da Saúde para termos que recorrer ao grande mestre austríaco.
De facto, penso que só Freud pode explicar esse comportamento absurdo.

2006-05-04

Sabedoria popular

Eu sou devedor à terra
A terra me está devendo
A terra paga-me em vida
Eu pago à terra em morrendo


Quadra tradicional, notável, do Cante Alentejano.
Revela todo o seu significado quando cantada pelo Grupo da Casa do Povo de Serpa