2009-06-30

A voz do povo

Numa excelente reportagem sonora, que a TSF apresentou esta manhã, sobre pastores de cabras comunitários, pastoriadas em parceiradas, como explicavam, da zona de S. Pedro do Sul, dizia um velho pastor que não tinha televisão nem rádio “para quê?” perguntava.
“Então não sabe o que vai pelo mundo e quem nos governa” respondia o jornalista, “vou sabendo pelo que ouço os outros falar”, respondia o pastor, “mas os nomes ouço-os e logo esqueço”.
O jornalista, preocupado com tanto desinteresse procurou ensiná-lo: “Então, o Cavaco é o nosso Presidente e o Primeiro-Ministro é Sócrates”.
“Sócras? Já ouvi falar muito, dizem que governa muito mal!”
Foi esta a voz do povo. Há quem diga que é também a voz de Deus.

2009-06-28

Reflexões sobre uma elaboração caseira de croquetes.

Enquanto eu terminava a minha refeição, com o meu “cocktail” favorito de nicotina, cafeína e álcool, em metade da mesa (a outra metade era minha) a minha mulher e a minha sogra preparavam croquetes.
Croquetes, palavra estranha, que nos remete para o francês, indiciando que não será uma velha tradição gastronómica portuguesa, contudo, à pequena dimensão da minha vida de 60 anos, é uma palavra comum, bem conhecida, que ouço já desde a minha infância.
A minha mulher começou, inovando, fazendo pequenas bolas de carne, porque lhe dava mais jeito. Protestei: “isso não são croquetes, serão “uma espécie de almôndegas”, disse eu, pensando se almôndega seria o termo correcto, (almôndega, palavra, começada com “al” supostamente importada do árabe, há muitos mais anos do que o croquete).
E há tantas maneiras variadas e excelentes de fazer almôndegas, “meat balls” como lhe chamam os ingleses, mais “terra à terra”, que me questionei sobre a importância da forma sobre o valor do produto.
Será que uns croquetes esféricos me saberão diferente dos tradicionais rolinhos “toros”?
A especulação entrou por aí, a minha sogra, mais tradicionalista, apoiou-me, “croquetes são rolinhos!”.
E eu pensei “será?”.
Fiz um propósito: quando a função terminar vou fazer uma prova “cega” (o croquete é um produto muito civilizado, recorre à reciclagem de uma matéria prima, elaborada, mudada de forma, passada em farinha (e que farinha?), ovo e pão ralado e finalmente frita e em cada uma destas passagens quantas questões se colocam, quantos recipientes se utilizam, quantas manipulações intermédias, quantos factores determinam o que será um bom ou mau croquete).
Depois lembrei-me ainda: talvez que os sensores tácteis da minha boca, consigam distinguir a forma original e associar essa informação às minhas papilas gustativas que eu queria aí como únicos juízes.
Desisti da ideia e conclui com o que já sabia:
O mundo é muitíssimo complexo! Vou limitar-me a dizer, quando os comer: “ estavam bons! ou, estavam assim-assim ou uma “merda”! mas disto que Deus me livre.

2009-06-27

Uma questão de bom-senso

Hoje a final do campeonato nacional de futebol de juniores, final entre o Sporting e o Benfica realizava-se, onde?
No centro de formação do Sporting em Alcochete.
Eu que até sou sportinguista, hoje apetecia-me ser do Benfica e atirar pedras contra tamanha falta de bom-senso.
Pode ser um excelente campo, mas fazer aí uma final de campeonato entre os eternos rivais, mesmo no coração do leão, parece-me uma decisão disparatada e impensável.
Claro que o jogo nem chegou ao fim.

2009-06-26

A minha homenagem a Michael Jakson

Na verdade eu nunca gostei de Michael Jackson, ou melhor da sua música, mas quando o mundo se curva, temos que nos questionar se será que o mundo está errado e nós não?
De facto tenho de reconhecer que alguma qualidade, para mim oculta, deverá estar lá.
Temos paródias de qualidade e só as obras notáveis sugerem paródias, no sentido original da palavra: obras construídas sobre outras obras.
Deixo pois aqui uma paródia sobre a canção Billie Jean de Michael Jacson, paródia essa, para mim, bem mais interessante do que o original:

Trata-se da versão dos Lost Fingers, grupo canadiano do Quebec que um dia há-de morrer sem que ninguém se lembre deles.

2009-06-21

Esquerda e Direita

Como se sabe, em termos políticos, esta dicotomia nasceu com a revolução francesa, pela posição física que ocupavam nas assembleias daí nascidas, com os mais próximos do “ ancien régime”, à direita e os mais próximos da revolução, à esquerda.
Isto dá-nos uma ideia de direita conservadora e de esquerda revolucionária.
Com o sucesso das revoluções, sobretudo nos regimes inspirados no marxismo-leninismo, depois de instalados, esta dicotomia é abalada, aí eram os ditos de esquerda que eram os conservadores e os que queriam a mudança, a revolução, eram considerados de direita.
Hoje em dia a baralhação é tanta que os termos de esquerda e direita perderam quase totalmente o seu significado, ou pior têm muitos significados.
A política social europeia, tão apoiada pela esquerda, foi implementada, sobretudo por governos chamados de direita, o liberalismo que já foi uma bandeira da esquerda é hoje conotada à direita, sobretudo os neo-liberais que nos têm lixado a vida.
E assim quem é que sabe se será de esquerda ou de direita?
Poderemos ainda talvez dizer que a direita é pelo capital e a esquerda anti capitalista mas como Mário Tronti intuiu os partidos comunistas actuais, assim como os sindicatos (estruturas ditas de esquerda) são hoje meros instrumentos do capital, necessários à sua preservação moderna.
E aqui se toca na essência da dicotomia prevalente hoje em dia, e para a qual não temos ainda um nome incontroverso.
Por um lado há quem defenda as pessoas, na sua individualidade nas suas iniciativas, nas suas “mono manias”, e, por outro lado, há quem defenda uma sociedade moderna, eficiente, sem desemprego nem dor mas apenas com homens-máquina, cada um no seu papel, feliz e bem comportado, comendo apenas o que estiver escrito na lei no “codex alimentarius”, em construção, e vidrando os olhos na televisão que temos.
Uma sociedade tipo “admirável mundo novo” embora sem Bokanowskisação e sem “soma”.
Nesta dicotomia eu considero-me indiscutivelmente “selvagem”.

2009-06-16

Culturas

Enquanto os franceses não conseguem encontrar uma caixa que grita debaixo do oceano, desenhada para ser encontrada, apesar de usarem meios ditos capazes de ouvir sussurros a mais de 6000 metros de profundidade, os brasileiros, apenas com esforço e dedicação e tecnologia quanto baste, vão achando o que verdadeiramente interessa, corpos e destroços do avião.

2009-06-13

Homenagem ao DDT

O meu neto Pedro, como imensas crianças da sua geração, ultrapassou há dias um ataque de piolhos na cabeça.
Antes dele, noutra geração, a sua mãe e minha filha tinha vivido, em criança, como muitas crianças do seu tempo, o mesmo problema.
Todavia, ainda mais atrás, na minha infância, nunca contactei nem vi, nem ouvi falar de nenhuma criança com piolhos na cabeça,
Sabia que existia essa praga, ouvia histórias aos meus pais e avós sobre piolhos, que se combatiam então essencialmente com meios físicos e mezinhas caseiras, com lavagens e com o “pente fino” ou “pente dos piolhos” mas isso era passado, as crianças da minha geração, em Portugal, não tiveram piolhos, foram, como se diria agora mais ou menos “piolhos free”.
Hoje a minha filha Joana referiu-me que alguém sabedor explicava o facto chamando à minha geração a geração DDT.
É bem verdade, eu vivi a epopeia gloriosa do DDT.
O DDT foi um verdadeiro milagre da civilização, que sobretudo nos anos da II Guerra Mundial e seguintes, colocou a favor da humanidade, na sua eterna luta contra diversos insectos, uma arma de respeito.
O DDT permitiu eliminar a malária de vários países do mundo inclusive Portugal, onde antes era endémica.
Durante a guerra as cabeças dos soldados eram frequentemente polvilhadas com DDT para combater precisamente os piolhos e combateu-os deveras, na minha infância, como referi, os piolhos eram apenas uma história passada e triste.
Foi já como estudante da universidade que contactei com vozes anti-DDT, anti a droga milagreira.
Foi então que li o famosíssimo livro “Silent Spring” que a bióloga Rachel Carson publicou em 1962, lançando a primeira pedra do movimento “verde” mundial e onde se apontavam os danos do DDT e se referia que até no corpo de pinguins inóspitos se tinham encontrado vestígios de DDT.
Os problemas eram de duas ordens:
A acumulação permanente de um veneno.
A perturbação ecológica que causava esta alteração tão drástica de relação de forças.
O DDT matava insectos em pequenas doses mas não era bio-degradável e a tendência era para a sua acumulação permanente e, em doses maiores, os danos eram maiores e estaria a causar um desequilíbrio biológico perigosíssimo.
Na realidade o mundo ouviu Rachel Carson e o DDT foi proibido em todo o mundo, e a comunidade científica e de investigação percebeu a importância da lei de Lavoisier, que ao referir que na natureza tudo se transforma, não fazia apenas uma constatação de um facto mas estabelecia um dos princípios básicos da natureza, chave da sua sustentabilidade.
Teve assim, felizmente, uma vida curta o DDT, mas a humanidade pagou o preço de ter de sofrer outra vez a praga de piolhos e quejandos.
O saldo todavia, porque essa vida foi curta, está ainda a crédito dessa substância: o DDT salvou muito mais vidas humanas do que as que prejudicou.
Permitiu à humanidade aprender uma grande lição que todavia vai sendo, de novo, progressivamente esquecida.

2009-06-10

10 de Junho

10 de Junho

Dia da raça
Que não existe
Dia da traça
Que persiste
Dia de Camões
Que vendeu o olho por dois tostões
Mas que vale milhões
Dia das comunidades
De todas as idades
Dia de Portugal
O tal …

2009-06-08

Rescaldo das eleições europeias

O que tenho ouvido nos fora e na generalidade dos comentadores foi:

1. “A vitória do PSD deveu-se sobretudo a Manuela Ferreira Leite”

ERRADO: “…deveu-se sobretudo a Rangel”

2. “A derrota do PS deveu-se sobretudo a Vital Moreira”

ERRADO: “… deveu-se sobretudo a Sócrates”

Pelo menos é assim que eu vejo.

2009-06-06

Telma Monteiro

Mais uma vez a glória, agora uma medalha de ouro na Taça do Mundo de Judo a decorrer em Almada.
Eu, orgulho-me de, há cinco anos como escrevi aqui, ter detectado o seu valor, olhando para além das medalhas, vendo apenas a “fibra” daquela miúda que já então era visível para olhos que vêm, mesmo sem medalhas.

Parabéns Telma.

2009-06-05

Mistérios da língua

A designação desta nova área de actividade, que consiste em incorporar nos bens utilitários não só a funcionalidade mas também a estética, até tinha uma palavra em português, bem antiga e bonita, que é a palavra “risco”, no sentido em que se pode dizer que isto ou aquilo tem bom ou mau risco.
Mas a palavra está um pouco esquecida e em desuso e por isso temos recorrido, como em muitos outros casos, ao termo inglês “design”.
O problema surge quando adaptamos esta palavra para o português em Portugal, onde quase toda a gente a pronuncia, como se fosse “desaine” com “e” aberto, enquanto em inglês se pronuncia como se fosse “disaine”, com “i” inicial, portanto, aportuguesámos a palavra mas de maneira estranha.
Poderíamos dizer como se leria à portuguesa “designe” mas poderia confundir-se com o presente do conjuntivo do verbo designar.
Resultado, lê-se metade à portuguesa “de” e outra metade à inglesa, o “sign”.
Como o povo é que é dono da língua não tenho outro remédio senão aceitar mas intriga-me como na palavra “media” se dá exactamente o fenómeno oposto.
Sendo uma palavra não inglesa mas latina: media, plural de medium, deveria ser pronunciada como é lida com o e aberto mas aí imitam-se os de língua inglesa e o i que falta no “design”, coloca-se no “media” dizendo “mídia”.
As ilhas Malucas, que são assim chamadas em árabe, que as nomearam e em indonésio, onde se situam e em português também, são escritas Molucas, em Inglês para que um Inglês aproxime a leitura do termo original Malucas mas os portugueses preferem rejeitar o seu próprio nome e ler o inglês como “Mulucas”.
Eu acho bem que se vão buscar termos ao inglês quando a nossa língua não os tem mas haja um critério minimamente coerente na sua conversão ou então deixem-nas como são ditas no original.

2009-06-01

O avião da Air-France desaparecido sobre o Atlântico

O que me trás da memória.

Teorias baseadas num realismo mágico, muito em voga no final do século XX.

Triângulo das Bermudas, alterações no “campo temporal”, talvez promovidas por “Seres Superiores” alienígenas que são os verdadeiros pais do Universo.
O avião e seus passageiros, estão agora num qualquer “nirvana” que nós apenas podemos sonhar.

Ponto fraco: parece que o desaparecimento não foi no triângulo das Bermudas.

Teorias da conspiração, muito em voga agora.

Foi o grande capital que tinha um grande interesse num “passageiro oculto” que estava a estragar um enorme negócio de biliões, pulverizou o avião com um ou vários engenhos explosivos especiais e accionou o controlo dos media para desviar as atenções.

Ponto fraco: não temos qualquer sinal ou informação ou suspeita, ainda, sobre esses interesses ocultos.

Teoria “pseudo científica”, muito em voga sempre.

Foi o avião que passou uma área de grande turbulência e de tempestade, e se despenhou do céu, atingido por um raio que estragou o seu sistema eléctrico e de comunicações, em fragmentos indetectáveis ou tão pesados que mergulharam todos para as profundezas do oceano.

Ponto fraco: como é que num voo de rotina em que tudo e todos são diversamente identificados e verificados e pagaram bilhetes, não se sabe ou não se diz ainda quem é que ia nesse avião, nem se sabe se havia algum português embora alguns nomes o sugerissem mas que também poderiam ser brasileiros. E com tanta tecnologia de informação, não se sabe nada.

Na verdade o facto é que até agora, o avião desapareceu sem deixar rasto, e se deixou rasto, nós não sabemos.

Não sei qual será a teoria mais fantástica e, sobretudo, a mais verdadeira.

Em termos de crededibilidade e verosimilhança está tudo ao mesmo nível.