2010-09-21

Agora, com Paulo Bento seleccionador nacional

Vamos muito provavelmente falhar a qualificação mas, pelo menos assim vai ser com muito mais tranquilidade

2010-09-15

Pior a emenda do que o soneto

Ao PSD faz-lhe confusão a expressão constitucional “despedimento por justa causa”, que ninguém sabe ao certo o que será mas tem, pelo menos, o condão de referir a justiça como a noção que deve orientar as decisões naquele domínio.
Para substituir propôs, o PSD, “razão atendível”, sem referir atendível como e atendível por quem, aumentado a dificuldade de interpretação.
Reconhecida a dificuldade sai-se com uma “pérola” pior: “legalmente atendível” ou seja atendível pela lei e quer isto escrito na constituição.
Como é sabido é a constituição que condiciona a lei, é para isso que existe, para definir princípios universais que devem se consagrados na lei e impor-lhe limites inconstitucionais.
Ao condicionar esta norma constitucional à lei, o PSD produziu uma aberração cheia de som e fúria mas significando nada.
Se a lei ocasionalmente disser que não se pode despedir em caso algum, ninguém é despedido, se, pelo contrário disser que se pode despedir quem tem olhos castanhos, isso passa a ser uma razão atendível.
A norma constitucional não serve absolutamente para nada.

2010-09-10

A estranha proposta de queimar o Alcorão

A proposta desmiolada do Pastor Terry Russel de efectuar uma queima pública do Alcorão para comemorar o 11 de Setembro, sugere-me a mesma observação que ouvi atribuída a Tony Blair:
“Em vez de o queimar fariam talvez melhor que tentassem, pelo menos, lê-lo”

2010-09-09

A propósito da política xenófoba de França

Para os Portugueses que estão integrados, como terão aprendido na escola, no mais antigo Estado da Europa, em condições históricas quase únicas para terem ainda algum sentido de pertença, podem não sentir este texto da mesma forma que os franceses, embora este seja um texto muito lúcido e que toca exactamente no âmago da questão.

O rebentar de uma explosão de riso seria a resposta adequada a todas as graves «questões» que a actualidade tanto gosta de levantar. A começar pela mais repisada de todas: a «questão da imigração», que não existe. Quem é que ainda cresce no mesmo sítio onde nasceu? Quem é que vive no mesmo sítio onde cresceu? Quem é que trabalha no mesmo sítio onde vive? Quem é que vive no mesmo sítio onde os seus antepassados viveram? E as crianças desta época são filhas de quem, da televisão ou dos pais? A verdade é que fomos, em massa, arrancados a toda e qualquer pertença, já não somos de lado nenhum, e que daí resulta, a par de uma inédita propensão para o turismo, um inegável sofrimento. A nossa história é a das colonizações, das migrações, das guerras, dos exílios, da destruição de qualquer enraizamento. Foi a história de tudo isso que fez de nós estrangeiros neste mundo, convidados na nossa própria família. Fomos expropriados da nossa língua pelo ensino, das nossas canções pelos espectáculos de variedades, da nossa carne pela pornografia de massa, da nossa cidade pela polícia, dos nossos amigos pelo trabalho assalariado. A isto junta-se, em França, o trabalho feroz e secular de individualização levado a cabo por um poder de Estado que regista, compara, disciplina e separa os seus cidadãos desde a mais tenra idade, que tritura instintivamente as solidariedades que lhe escapam, de modo a que não reste nada senão a cidadania, a pura pertença — fantasmática — à República. O francês, mais do que qualquer outra coisa, é o espoliado, o miserável. O ódio que tem ao estrangeiro funde-se com o ódio a si próprio enquanto estrangeiro. O misto de inveja e terror que sente em relação às «cités» revela apenas o seu ressentimento por tudo o que perdeu. Não consegue evitar invejar esses bairros ditos «problemáticos» onde ainda persiste um pouco de vida comum, alguns laços entre as pessoas, algumas solidariedades não-estatais, uma economia informal, uma organização que ainda não se separou daqueles que se organizam. Chegámos a um ponto tal de privação que a única maneira de nos sentirmos franceses é barafustarmos contra os imigrantes, contra aqueles que são mais visivelmente estrangeiros como eu. Os imigrantes ocupam neste país uma curiosa posição de soberania: se eles cá não estivessem, os franceses talvez já não existissem.


L`insurrection que vienne – Comité Invisible

Livro, excelente, publicado em França em 2007, foi agora traduzido e editado em português pelas “Edições Antipáticas”.
O texto global pode e deve ser descarregado em PDF
aqui, site onde pode ainda descarregar outras pérolas filosófico-literárias.

2010-09-08

Bom dia

Hoje ouvi nas notícias que o INE tinha revisto em alta o crescimento desta nossa nação.
O crescimento homólogo não é de 1,4% como atrás parecem ter dito, mas antes
1, 5% .
Ficámos todos muito felizes.

O trágico acidente de viação entre Ceuta e Tetuão.

Hoje, nas notícias, ouvi um, parece que Secretário de Estado, que tem alguma coisa a ver com este tipo de acidentes, que o acidente ocorreu entre Ceuta e uma cidade que se designa “Tetouan” ou talvez “Tetuan”.
Na altura chamou-me a atenção uso desse termo: “que se designa por …”.
Será que se fosse Paris ele diria: “uma cidade que se designa por Paris”?
Mas Tetuão, como praticamente todas as cidades marroquinas, são-nos familiares, há séculos.
Eu, em miúdo, fui obrigado a decorar a cantilena das praças portuguesas em Marrocos das quais só permaneceram no meu consciente “Arzila” e “Marzagão”, mas que em Marrocos os próprios marroquinos me fizeram recordar com orgulho e escrevem nas suas ruas a toponímia portuguesa.
Algumas até têm, mesmo hoje designações portuguesas que os marroquinos conservam com orgulho e respeito como “Mogador” que é afinal, em Árabe, Essaouíra, na transliteração francesa ou Essauíra, na transliteração portuguesa e que os portugueses, infelizmente, vão esquecendo.

O caso Carlos Queirós

Só tenho duas palavras: “Uma vergonha!”.

2010-09-04

A sentença do Processo Casa Pia

Ludwig Vittgenstein, terá dito que “não há verdade nem mentira, apenas certeza e dúvida”.
A sensação que tenho relativa à sentença sobre o Processo Casa Pia é que ela traduz a certeza de muitos, a dúvida de muitos outros mas a verdade de ninguém.