2009-09-28

Carta de Belgrado 12

Reflexões avulsas

Ontem houve eleições aí, parece, porque aqui não dizem nada.
Na TV5, durante uma entrevista à nova Directora Geral da Unesco, uma Búlgara bem mais simpática do que o carrancudo egípcio em que o nosso governo queria votar, comentaram que hoje, isto foi ontem, 2 países europeus têm eleições nacionais, a Alemanha e Portugal mas na CNN e na BBC World, só na Alemanha se votou.
Valeu-me a antena 1 on line, e alguns sms que recebi para saber os resultados do jogo.

Entretanto aqui, o ambiente geral de uma língua estranha faz-me divagar sobre algumas particularidades da nossa língua.
Fico orgulhoso da complexidade dos nossos verbos, os dissesse, dissera, disse, direi, diria, cada um com a sua nuança própria são formas raras de expressão, se bem se mantenham, noutras línguas novilatinas como o espanhol, e o francês mas não muito mais.
Mas o mais curioso é nosso ão exclusivo, só no Polaco existe algo parecido, mais um õo e sei disto porque um dos meus intérpretes na Polónia era Prof de linguística e sabia que só as líguas portuguesa e polaca tinham estas nasalações.
Quando aqui algum sérvio adquire alguma intimidade comigo, gosta de perceber o meu nome, estranha o Nuno, que pronuncia sem dificuldade, mas que me pergunta sempre porque não se escreve com 2 uu, dado que o som é o mesmo. Eu já não entro nas explicações difíceis da sílaba tónica e que se escrevesse com dois uu seria outra coisa e respondo simplesmente como se responde a crianças, é assim porque sim.
Mas no Jordão a coisa pia mais fino, esse ão custa a sair.
E é assim, nós simplificámos todas as terminações latinas one, ano e ane para o mais simples ão e só gaguejamos nos plurais, será ãos, ões ou âes?
A regra é ir ao latim mas como este já vai longe, vamos tentando mudar e simplificar como soa melhor no nosso ouvido é assim que os corrimãos já são corrimões e muito bem.
Se todos fossemos puristas ainda hoje estávamos a falar latim em vês de inventar uma língua nova que é o nosso orgulho..

2009-09-26

Carta de Belgrado 11

A solidão de estar aqui, a língua estranha que me dificulta qualquer comunicação, o “broken English” que nos permite comunicar apenas na margem, a imunidade transitória à constante lavagem de cérebro a que estão sujeitos os meus compatriotas e, é claro, eu próprio, quando aí estou (embora esteja aqui sujeito a outra lavagem cerebral mas mais inofensiva, porque a deficiência na comunicação me defende muito), tudo isto faz-me ver melhor o mundo.

Hoje fui a Vinca.
Por vezes eu próprio me questiono porque queria visitar Vinca.
Pedja, o meu fiel motorista, estava atónito (ele sabe de Vinca há muito tempo mas nunca se deu ao trabalho de lá ir) e preocupado com esta visita, tinha passado o dia de ontem a contactar o telefone que o turismo fornecia sem nunca conseguir que ninguém o atendesse. Mandou-me um SMS alarmado.
“Vamos a Vinca, Pedja, e logo vemos, relax”. Respondi eu.
E fomos.
Quando chegámos próximo, pedimos informações ( a toponímia e as placas indicadoras na Sérvia são como em Portugal, uma seta, depois silêncio e mais adiante talvez outra seta que nos dá esperança se não falhámos já) o informador explicou tudo e ficou feliz de haver um visitante, sorriu para mim e esticou os polegares.
Finalmente chegámos, recebeu-nos um velho que só sabia um discurso decorado em Sérvio mas que depois chamou um jovem que falava inglês e nos acompanhou.
Vimos umas escavações cobertas de plásticos negros que ele levantou um pouco e um suposto museu que era uma sala com coisas recolhidas.
Com a intimidade que fomos adquirindo ainda nos mostrou um sala onde se amontoavam caixotes e caixotes de peças recolhidas: potes, estatuetas, instrumentos de trabalho, aguardando a devida exposição.
“Não há dinheiro para pôr isto decente” disse o rapaz.
Poderia, sem qualquer problema, ter trazido comigo um pote de barro com 10 000 anos ou uma estatueta de pedra.
Não o fiz e ainda não sei se bem ou mal.
Vinca está quase abandonada e como com as nossas gravuras de Foz Coa, o importante, para quem tem o poder, não é o testemunho que está ali, o importante é o dinheiro que gera ou que não gera.
Pedja, trouxe-me de volta intrigado com esta minha mania.
Disse-lhe: “Vinca é muito mais importante do que eles nos disseram, Pedja, por exemplo, reparou que não vimos uma única arma?”.
Os olhos dele iluminaram-se e respondeu-me: “De facto é verdade!”.
Nem ele nem eu, vimos que ao contrário do que é vulgar em ruínas neolíticas não havia ali casas apalaçadas na colina, mas apenas uma povoação equalitária onde as pessoas se diferenciavam apenas pela decoração e a arte.

2009-09-25

Carta de Belgrado 10

Como como em Belgrado

Ficou engraçado o subtítulo, mostrando estas particularidades da língua portuguesa e de todas as línguas, suponho.
O “word” dizia-me que era erro, “palavra repetida”, mas o que é que o “word” sabe?

Tenho comido por aqui e por ali e tenho já a minha ideia.
Claro que como vivo no coração de Belgrado, na zona mais turística, não tenho a percepção do que será a autêntica comida Sérvia.
Nos primeiros dias, para me ambientar perguntei ao meu motorista (de táxi) onde me aconselhava a comer e ele retorquiu-me: “mas quer Italiano ou Sérvio?”. “Sérvio, é claro” disse-lhe eu.
Ele indicou-me o “Trag”, um bom restaurante, sem dúvida, mas a carta está cheia de pastas, lasanhas, nhoques, e pizas e depois uma secção de cozinha internacional, que está ali mas podia encontrá-la igual em Paris, Roma ou Lisboa. Por onde andará a cozinha Sérvia?
Ao fim de uns dias percebi o que ele queria dizer, trata-se de uma sopa de carne, com uma espécie de iogurte, pouco doce, que é boa, de facto, mas para mim, não excepcional.
No resto dos restaurantes o panorama é o mesmo mas sem a tal sopa.
Como é cozinha internacional não me pronuncio, tudo com muitos molhos, à base de queijos e ou cogumelos, também internacionais, vaca, porco e frango e muito raramente encontra-se peixe, Douradas e Linguado, para alem de Trutas e Carpas, sempre grelhados, com ou sem molhos e lulas que há sempre.
Os restaurantes são daquele tipo europeu, à luz de velas, onde não vemos bem o que comemos e para ler o menu e a conta nos vemos à rasca.
Viva Portugal que tem restaurantes bem iluminados, não será tão romântico mas como se diz no “Samba do Bexiga” "eu só vou lá para comer" e gosto de ver o que como.
Deixando a restauração, não posso deixar de referir que a Sérvia tem a melhor carne de porco do mundo.
Já o tinha reparado no Kosovo, porque aí para comer porco só comprando em talhos sérvios, e aqui confirmei, nas febras que comprei para fazer em casa, que maravilha de carne, que sabor perdido no tempo.
O facto é reconhecido aqui, quando aponto este facto, todos me vão dizendo que também notam quando vão ao estrangeiro que o porco não lhes sabe a porco.
O que é certo é que, ao que eles sabem, não têm nenhuma raça autóctone e atribuem o facto a não terem indústria de carne de porco, é tudo porcos rafeiros e de chiqueiro.
Fica o mistério, que a carne é a melhor do mundo, assino em baixo.
O vinho local e da Macedónia bebe-se bem e há em jarros e a preços acessíveis.
Depois há a bebida nacional, a “palinca” daqui, que aqui se chama “Rákia”, nem melhor nem pior do que a palinca, o medronho e outros destilados.
E é assim que vou comendo pelos restaurante da Sérvia.

2009-09-23

Carta de Belgrado 9

Vinca

Quem seguiu o meu conselho e já leu “O Cálice e a Espada” de Rian Eisler, sabe do que estou a falar.
Vinca que aqui se pronuncia Vintcha, são umas ruínas do neolítico bem perto de Belgrado, e que contam a história do povo que aqui vivia feliz e em paz, há uns milhares de anos, antes da chegada dos homens dos cavalos e dos carros de guerra, chamados Arianos ou Indo-Europeus, que falavam sânscrito, escreveram os Veda, instituíram o iníquo sistema de castas indiano, espalharam o terror por onde passaram e impuseram o seu sistema que vigora no mundo até hoje.
Na Europa há apenas 3 ou 4 lugares como este, vestígios visíveis do paraíso perdido.
Quando tomei conhecimento de Vinca, estava eu de férias mas soube, no meu coração, que viria a Belgrado.
Hoje estou aqui, em Belgrado, no mapa que me deram estão lá previstas excursões a Vinca, é só uma pessoa inscrever-se.
Hoje fui a um posto de turismo para me inscrever numa visita a Vinca e tive a triste notícia que este programa terminou por falta de aderência do público, ninguém quer ir a Vinca!?
Eu hei-de ir, se não for acompanhado vou só mas eu vou.

2009-09-22

Carta de Belgrado 8

E aqui está a qualquer coisa que eu dizia que iria dizer.
Domingo fui jantar com os meus amigos, pacificamente e ouvi dizer que a tal manifestação “gay” tinha sido cancelada pelo Governo Sérvio.
E os “gays”? Que iam sair de qualquer maneira?
Parece que na hora da verdade, faltou-lhes qualquer coisa no devido sítio.
A verdade é que foi tudo pacífico.

2009-09-20

Carta de Belgrado 7

Hoje é um dia importante em Belgrado.
Chegou-me a notícia por um motorista de táxi que me tem apoiado nas deslocações:
“Domingo não saia à rua, vai haver uma manifestação de “gays”, disse-me.
Depois vi as notícia na BBC world. Em Belgrado vai-se repetir a manifestação “gay” do ano passado, quando morreram 3 pessoas. O Governo está preocupado com medo que tudo se repita e proibiu a manifestação no centro de Belgrado. Os “gays” organizadores dizem que vão sair de qualquer maneira.
Logo vou jantar com um amigo no centro. Isto se me deixarem, é claro.
Depois direi qualquer coisa.

2009-09-18

Carta de Belgrado 6

A internet que eu tenho não se paga ao mês, nem ao dia, nem à hora, nem ao minuto, é paga ao Gigabits de “downloads”.
A solução parece boa, para a generalidade das utilizações, ver os e-mails, passar em revista os jornais, uma ou outra consulta ao google, dá para um mês, como me dizem outros utilizadores.
O que me tem lixado a mim são os Gatos Fedorentos, estão a levar-me à ruína, para ver tudo são cerca de 300 Megabits cada dia e de 3 em 3 dias lá vou eu à compra de gigas.
Assim não dá e ainda dizem que vão ser mais 27 programas.
Mas também como é que eu passo aqui, neste país estranho, sem aquelas palermisses saudáveis a lembrarem-me a minha terra.

2009-09-16

Carta de Belgrado 5

A alienação total

Isto vem de Belgrado mas podia vir de casa.
Na minha revista aos jornais portugueses “on line”, deparo no Público com a seguinte notícia que transcrevo sic (com “copy” e “paste”)

A taxa de inflação na zona euro fixou-se, em Agosto, em -0,2 por cento, acima dos 0,7 por cento que tinham sido registados no mês de Julho, revelou o Eurostat. Portugal (-1,2 por cento) apresenta a segunda taxa mais baixa entre os parceiros europeus.

Será que alguém percebe esta notícia?

Usei todos os meus parcos recursos de português e dividi as orações.

“A taxa de inflação na zona euro fixou-se, em Agosto, em -0,2 por cento” (parei aqui porque vi uma virgula a seguir e concluí que a inflação em Portugal e em Agosto foi negativa de –0,2%)

Depois da vírgula segue uma frase espantosa: “acima dos 0,7 por cento que tinham sido registados no mês de Julho, revelou o Eurostat”

Como? Pergunto eu, como é que uma inflação negativa está acima de uma positiva?
Pensei, será talvez a virgula que foi posta a mais (eu próprio tenho muita dificuldade em dominar as vírgulas e, por isso mesmo, tenho muita tolerância para as falhas dos outros)
Mas assim significaria que a inflação em Agosto terá sido de 0,5% (0,7-0,2)

Finalmente para coroar vem a conclusão:

“Portugal (-1,2 por cento) apresenta a segunda taxa mais baixa entre os parceiros europeus”.

E donde terão vindo estes -1,2%?

Toda a tentativa de compreensão morreu aqui.

Mas reparei que havia 15 comentários que fui consultar curioso de ver a fúria insultuosa que costuma habitar estes comentários “on line” e pensei que ela era dirigida ao jornalista José Manuel Rosa, identificado como autor da notícia.

Tive um espanto maior, toda a gente parecia ter compreendido tudo muito bem e em vez de discutirem o português, discutiam economia e insultavam-se uns aos outros.

“É deflacção”
“não é nada sua besta ignorante”
“Bestas são vocês todos porque nem sabem o que é inflação negativa”

Isto não é textual, é um exagero meu sobre aquilo que li.

A minha conclusão foi apenas perguntar-me “mas o que é isto e onde é que eu estou.?

2009-09-14

Carta de Belgrado 4

O Mundo visto daqui

O subtítulo que pus em cima é só válido para mim, deveria ser mais: “O Mundo como eu o vejo aqui” ou, talvez ainda melhor: “O Mundo como eu o posso ver daqui”
Os pesos e as prioridades mudam, “Sócrates vs Manuela F. Leite ou Louçã” chegam-me via SMS, e pela revista aos jornais “on line” e se tentar ir mais longe e ver mesmo os debates na internet tenho que pagar significativamente pela esquisitice, isso, no mundo não tem a mínima importância.
Dos jornais e canais daqui, não percebo nada, embora esses assuntos que não percebo, animem debates e conversas aqui e sejam os mais importantes para alguma da gente com que me cruzo na rua.
Para mim, as notícias vêm das omnipresentes CNN e BBC world e aí Sócrates e Portugal, praticamente não existem.
Nesse mundo, misteriosamente, os assuntos importantes são a desqualificação de Serena Williams, notícia constante desde ontem mas ainda no campo dos desportos houve um golo do Benfica aos Belenenses que mereceu imagens e referências elogiosas. Portugal ainda existe aqui. Força Benfica.
Na Política os assuntos são o Obama na sua cruzada heróica pelo serviço de saúde público onde iremos ver se “yes we can” ou “ No we can`nt” e a pobres que estão vestindo gravata, refiro-me à China, e ao Brazil.
Alguma coisa parece mudar, a China, bate o pé aos EUA, porque estão a pôr entraves à importação dos seus pneus (e a notícia é essa: agora a china também bate o pé). Força China.
Tive também o prazer de ouvir o Lula a falar orgulhosamente em português 5 segundos antes de lhe calarem a voz com um inglês em off, pelo menos o mundo viu que ele fala e na tradução ouviu o que ele disse, resumidamente a velha frase “os ricos que paguem a crise”. Força Brasil.
Também apanhei no zapping um episódio da novela “Clone”. Força Brasil outra vez.
E assim vai o mundo como eu o espreito daqui.

2009-09-12

Carta de Begrado 3

Belgrado é bonito, tem um ar de velha capital europeia, que é, e aquele toque de Europa central.
Eu vivo no centro, sem dúvida, no “Cais do Sodré” como disse, mas a animação maior fica entre o “Terreiro do Paço” e o “Rossio”, daqui a dois passos.
A animação é dada pelas ruas exclusivas para pedestres, as esplanadas, umas atrás das outras e o canto permanente de grupos informais ao estilo Kusturica.
A baixa de Lisboa devia ser assim e ouvir-se fado pelas ruas.
Não sei o que tem Lisboa que expulsou os seus habitantes e odeia esplanadas, não obstante ter um excelente clima para isso.
Eu já me vou entendendo por aqui mas tive um inimigo, o alfabeto cirílico.
Na Sérvia há dois alfabetos oficiais o latino que é usado pelo comércio moderno e na generalidade das legendas dos canais de tv cabo, e o cirílico que é obrigatório em documentos oficiais e permanece na toponímia da cidade, pelo menos da cidade velha e que eu tenho vindo a estudar para sobreviver.
O mapa de turista que tenho está em latino, as placas na rua estão em cirílico, e esse simples facto tem-me feito derivar pela cidade e percorrer quilómetros para avançar 100 metros.
Felizmente isso está a acabar.
Cada dia domino mais esses sinais que têm a vantagem de tirar às línguas eslavas, aquela sequência de consoantes, que as torna ilegíveis para nós.
Com as luzes de polaco que tenho, muito do sérvio torna-se minimamente compreensível para mim.
Dominando o cirílico avanço uns paços para o domínio deste ambiente estranho.


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2009-09-09

Carta de Belgrado 2

Isto não é o Kosovo. Embora os Sérvios não reconheçam a independência da sua antiga província e tenham um enorme desprezo pelos albaneses (ou talvez por isso), há enormes diferenças.
Aqui vê-se a miséria, que não se via lá, pedintes aos montes, gente esgravatando os lixos para sobreviver, contudo é um mundo mais familiar para mim, os mesmos problemas os mesmos hábitos de vida.
Sinto um mundo Kusturicaneano.
O salário médio, dizem-me, ronda os 200€, a vida é mais barata do que em Portugal, muito mais barata nos géneros alimentícios em natureza mas ronda os mesmos preços na restauração e nos bares.
O que não têm aqui e existe entre os albaneses são os laços de solidariedade entre família alargada.
A moeda aqui é o Dinar, 98 Dinares, mais ou menos, fazem 1 €, As notas de 1000 Dinares, que são as que mais trago na carteira, são, grosso modo, notas de 10€.
A confusão vem daí para baixo, porque há notas de 500, de 100, de 50, de 20 e de 10, ou seja de um cêntimo, e ainda há moedas inferiores.
Eu costumo dar gorjetas generosas, que eles agradecem muito, ou seja, arredondo as contas, nos bares e restauração, aos 500 ou 100 Dinars (entre 5 e 1Euro).uma pequena despesa que me vai fazendo popular no bairro.
Quanto ao trabalho vai progredindo lentamente, por enquanto ainda estou a pousar.
É-me interessante ver a diferença de atitudes e comportamentos entre a gente da Delegação da UE e a do ministério, dois mundos que eu conheço e onde me movo com relativo à-vontade, mas fazem-me reflectir.

2009-09-07

Carta de Belgrado 1

Da viagem atribulada até à reconstituição do meu universo

O “check in” em Lisboa detectou 10kg de peso a mais na bagagem de porão, pudera são 41 dias no desconhecido, roupa quanto baste para o máximo de uma lavagem intermédia quando dominar o ambiente e vários livros para os tempos de solidão, tudo pesado davam 31Kg.
A graça custou 150€.
Depois o avião para Munique saiu com 45 minutos de atraso, o suficiente para após uma correria no aeroporto de Munique e mais controlo de passaportes fazer-me chegar, mesmo assim, com o “gate” para Belgrado já fechado.
No apoio a clientes do aeroporto disseram-me que tudo já estava previsto e que partiria 4h depois, e deram-me um “vaucher” para comer e/ou beber, no valor de 10€.
Cheguei a Belgrado perto das 21h e para cúmulo a minha mala não vinha, “veio mais cedo?” perguntei eu, “não, não chegou a sair de Lisboa” responderam-me, “agora só amanhã à tarde, levamo-la ao seu apartamento”.
Entretanto, quando liam a morada, esboçavam um sorriso, para mim preocupante, mas quando tentava indagar razão, respondiam-me sempre, “tudo bem, é no centro”.
Receoso, telefonei ao meu senhorio que me disse que me esperava à porta.
Cheguei de táxi e senhorio, nada, mais na porta estavam os nomes dos moradores de todos os andares.
Eu já tinha pago o aluguer adiantado, o ambiente, neste Domingo à noite era estranho, edifícios degradados, alguns bêbedos, mas também jovens de ambos os sexos passando.
Telefonei de novo ao senhorio que me disse que chegava em 3 m.
Chegou ao fim de 15m, com eu já desesperado, a ver-me a ter de ir para um hotel.
Mas tudo mudou, o apartamento não era aquele mas um outro ao lado, mostrou-mo, deu-me a chave e prometeu-me que no dia seguinte tinha internet.
À primeira vista, era minimamente aceitável.
Na manhã seguinte tinha prevista uma reunião na delegação da UE, o meu senhorio fez-me um contacto para um seu amigo taxista que ficou de me apanhar no dia seguinte e o dia terminou.
Só que, no quarto, apesar das cortinas havia muita luz e tive mais dificuldade em adormecer.
Hoje de manhã, vesti exactamente a mesma roupa, única que tinha, lá estava o amigo taxista à hora marcada, a reunião correu bem, e foram muito compreensivos para o meu problema da falta de bagagem e a minha relativa má apresentação, já é habitual perderem-se as malas, disseram-nos.
Passei a tarde a explorar o local e a ler alguns documentos.
Estou a viver no centro velho de Belgrado, assim como talvez no Cais do Sodré em Lisboa, mas à volta há tudo, pequenos supermercados, bares, restaurantes etc.
Abasteci-me do que precisava e finalmente chegou a minha mala e o meu senhorio cumpriu a palavra e apareceu para montar a internet.
Com a mala veio tudo o que me faltava e mais esperança para o resto da missão.

2009-09-03

O clima

Não, não vou falar do clima de Belgrado, até porque ainda não parti mas também não é do sol e do calor que cá faz que quero falar agora. É do clima geral, do clima político-social, do ambiente que se instala nos países e ditam a forma de se viver em sociedade.
Nos tempos de Salazar, por exemplo, o clima era pesado, havia muitas coisas que ninguém se atrevia a fazer e que todavia nenhuma lei proibia, era o medo que impunha auto-censura, o medo de represálias, por mais absurdas que fossem, de não progredir no emprego ou ser despedido, de chumbar no exame arbitrariamente, de ser mal classificado num concurso, de atrasar a vida em suma, o que geralmente nunca acontecia mas todos sabiam que podia sempre acontecer e, para alguns, acontecia mesmo.
No Governo de Sócrates vamos lentamente sentindo esse ar pesado.
Os primeiros sinais foram dados pela anedota do Prof Charrua e a reacção da Direcção Regional de Educação do Norte, depois vieram vários outros episódios, de que já me esqueci, e é assim, o clima gera-se com muitas pequenas coisas, coisas pequenas mas muitas, a generalidade nem chega à comunicação social, são vivências individuais e mesmo quando chegam á notoriedade, “os cães ladram mas a caravana passa.” e, a partir daí apenas o ar começa a ficar mais pesado e o céu escurece.
Ultimamente vamos vendo coisas estranhas:
A ex-famosa música dos Chutos que fazia perguntas ao Sr. Engenheiro nunca se ouve na rádio embora pareça que ninguém proibiu, ouvi mesmo dizer que foi a própria editora que não lhe deu a devida prioridade, não temos, de facto, ouvido a música, e o ar tem ficado mais pesado; depois já transpira que no caso “Freeport” Sócrates não tem nem sombra de pecadilho, o que se calhar até é verdade, mas foi tratado como sendo invisível, nem teve nada a ver com o caso e isso não é natural.
Mas gora veio esta suspensão insólita do telejornal das sextas da TVI, segundo dizem a pedido da Prisa (empresa espanhola) do capital portanto e isto é estranho, tanto mais que o tal telejornal era líder de audiências, dava dinheiro, faz pensar que a Prisa pensa que o que perde ao proibir o “telejornal travestido” será compensado pelo que poderá ganhar assim ou pelo menos evitar perdas maiores.
Neste caso os cães vão ladrar, até porque a Manuela Moura Guedes tem boca para isso, mas suspeito que a caravana vai passar na mesma.
O clima é que começa a ficar irrespirável.

2009-09-02

Logística

Em Belgrado estarei a viver só durante 41 dias.
Tudo tem que ser previsto em detalhe, para imprevistos já bastam todos aquele que irei encontrar inevitavelmente.
Desde o alojamento até, sobretudo, às comunicações, tem que ser considerado.
Para me alojar aluguei já um apartamento. Sempre é mais privado e permite-me fumar, o que agora na generalidade dos hotéis é proibido ou é muito limitado e incomodativo. Para além disso, um apartamento é mais barato do que um hotel e vai-me fazer poupar algumas refeições que eu cozinhe.
Para comunicar, desta vez, tratei já de pedir o roaming mas os preços são incomportáveis, só permitem alguns SMS e comunicação por voz em situações de emergência.
Pelo que lia, pensava que isso já estava ultrapassado pelos deputados europeus, dado que é um problema que eles sentem e talvez esteja, de facto, para os países da UE mas a Sérvia ainda não é desses e os preços são insuportáveis.
Tenho que me basear na comunicação via Internet: Messenger, Skype e quejandos, mas a experiência também não foi fácil. Comprei câmara e microfone para o portátil, tenho feito ensaios, e até agora o único que se mostrou minimamente fácil e fiável parece ser o Skype.
E é com tudo isto, para além dos aspectos mais ligados à missão em si, que tenho ocupado os meus dias.
Parto no próximo Domingo, provavelmente só voltarei a este blogue já de lá.