2009-07-04

Análise semiológica do gesto do Ex. Ministro Pinho

O contexto é mais ou menos conhecido.
O resultado (demissão do Ministro) é sabido.
O gesto foi este:

Há 3 questões que me parecem fundamentais.
1. O que quereria o Sr. Ministro dizer?
2. Porque é que aquela forma de expressão se mostrou intolerável?
3. Porque escolheu Manuel Pinho aquele gesto?
Quanto à primeira questão poderemos aceitar as explicações do próprio ex-Ministro, (ninguém mente naquela situação, após um acto suicida) ele quis retaliar no mesmo grau, a ofensa e a humilhação que sentiu. Algo de que ele se orgulhava muito estava ali a ser desvalorizado e distorcido, qualquer argumentação era mal compreendida ou negada, portanto inútil.
Como expressar então esse facto? Manuel Pinho escolheu uma forma de acção: o gesto acima.
Quanto à segunda questão a resposta parece também clara, o gesto foi insólito, único, nunca utilizado naquele ambiente nem de forma mitigada.
Foi estranho, inopinado, portanto inaceitável.
A terceira questão porém é a que me parece mais difícil.
Manuel Pinho simbolizou cornos, que nos remetem para duas referência fundamentais:
A força, a tenacidade, a bravura de um touro ou a conotação moral da vítima de infidelidade sexual, o “corno” ou o “encornado”.
Há gestos de mãos que nos remetem para estes campos de significado.
Encolher todos os dedos com excepção do mínimo e do indicador remetendo o gesto para o terceiro tem um significado duplo e inequívoco.
Quere-se dizer: “com a bravura e a tenacidade de um touro eu digo-te, tu és um “corno” (fraco, humilhado, enganado, pouco viril), os dedos mostram os cornos, a mão investe para o adversário, dizendo-lhe “tu és isto”.
O singular, neste caso é que Manuel Pinho colocou os cornos simbólicos na sua própria cabeça, dizendo mais “cuidado que eu sou um touro” mas o contexto não permite esta interpretação, Pinho não queria dar notícia da sua força, queria ofender com a mesma ou maior profundidade do que a com que se sentia ofendido.
Entre o povo ouvi que todos perceberam que a mensagem era importante, embora o significado real tivesse várias interpretações, algumas negativas (Manuel pinho estava a ser toureado e a entregar-se ao deboche).
Este tipo de “linguagem” com múltiplas referências e múltiplas interpretações que gera nos observadores impressões as mais diversas, é típica da linguagem poética.
Manuel pinho, com aquele gesto fez um poema.
Segundo as últimas notícias Joe Berardo (amante das artes) gostou do poema e já convidou Pinho para Administrador da sua fundação.

1 comentário:

Fábio disse...

O pior é que de "Poetas" destes está o governo cheio...