2008-04-26

A intrujice da civilização

Esta expressão de Almada Negreiros que eu de vez em quando vou utilizando aqui na esperança de que alguém ouça, está muito bem documentada neste vídeo.
É um pouco longo, mas penso que pode ser visto durante um intervalo de televisão.É muito difícil dizer tantas verdades em tão pouco tempo.

2008-04-25

O acordo ortográfico

“A Egreja é uma architectura temerosa: opprime e esmaga – é esplendida”
Este pequeníssimo texto foi escrito em 1912 por Raul Brandão, não o deito fora de jeito nenhum, entendo-o perfeitamente mas em 11 palavras teria hoje 4 erros de ortografia.
Que importância terá mais este futuro acordo ortográfico ?

Pensamentos á volta de umas imagens

Ao ver as imagens abaixo vários pensamentos acorreram ao meu consciente:
Um famoso, para mim famoso, texto de Francisco Sousa Tavares pai de Miguel, escrito pouco tempo antes de morrer, a propósito da restituição de alguns “direitos” a ex-PIDES e da vergonhosa recusa em o fazer relativamente à viúva de Salgueiro Maia.
Foi um texto violento e certeiro, pançudos foi um dos adjectivos que usou para qualificar as altas patentes militares.
Ao ver a dignidade de Carme Chacon tomando o lugar daqueles pançudos, notei a ironia daquela cena, há pançudos de displicência, de ignomínia mas há também pançudos, neste caso pançuda de generosidade e de esperança.
Também ocorreu ao meu espírito a Secretária de Estado da Defesa, acho que era este o título, do governo de Durão Barroso, explicar a sua competência para o cargo com o facto de ser neta de um General !?

2008-04-23

As directas do PPD-PSD 2

Os média babam como lobos em volta de uma presa, sôfregos de duas candidaturas que tardam e que iriam alimentar as vendas e fazer correr rios de tinta::
A de Alberto João Jardim e a de Pedro Santana Lopes.
Estes vão saltitando e esquivando-se sem se aperceberem que são presas e que só o que querem deles é uma dentada suculenta na sua inverosimilhança.
Palhaços !

O peso das palavras

Durante anos viajei num comboio que ostentava à sua frente estas palavras:
“Destino Rato”.
Nunca vi naquele Rato o velho largo de Lisboa para onde o comboio se dirigia.
Nunca vi tampouco o animal peludo e irrequieto que se chama rato.
Aquele rato, no comboio, sempre foi, para mim, um atributo que classificava aquele seu destino de viver uma vida obscura, percorrendo túneis, correndo, correndo sempre sem destino ou com um destino rato, até morrer um dia.
Agora, já só raramente tomo esse comboio.
Agora soo dirigir-me para “Roma-Arieiro”.
Conforme os dias e o estado de espírito ora desembarco na cidade imperial soterrada por uma duna gigantesca, ora na imaginária praia, que Roma e todas as cidades têm por baixo da calçada.

2008-04-22

As directas do PPD-PSD

Todo este assunto não passava de tricas de comadres até aparecer na história Manuela Ferreira Leite.
A mais valia de Manuela Ferreira Leite é que mais valia ter ficado quietinha no seu eterno papel de fantasma competente.
A competência de Manuela Ferreira Leite é assustadora.
Ela vai e faz mesmo.
Na Educação deu-nos as propinas, nas Finanças a presunção: “ganhaste ou não, não quero saber, paga”, “não foste tu foi o teu pai, paga”.
E nós pagamos!
Manuela Ferreira Leite é um Sócrates feminino mas em pior e o pior é que é bem capaz de ganhar as directas.

2008-04-20

Coco Rosie

Provando que para se fazer arte não são precisos meios sofisticados, basta ter a arte consigo.

2008-04-19

Things have changed

Almoçando com a minha filha Joana, falei-lhe do poste abaixo que acabava de publicar e sobretudo do facto a que ele se referia.
Joana ainda não tinha visto o anúncio mas lembrou-me aquela música mais recente de Bob Dylan, feita para o filme “Wonder Boys” e que até ganhou o Oscar de melhor música: “I used to care but things have changed”, diz ele aí.
Lembro-me que ao receber esse Oscar, através de vídeo porque Bob Dylan, naturalmente não esteve na cerimónia, disse que agradecia mas estranhava, certamente não tinham compreendido a música.
Fui reler a letra e penso que a compreendi, talvez esteja aqui de facto a resposta à questão que levantei.

A letra está aqui:

Things have changed

A worried man with a worried mind

No one in front of me and nothing behind
There's a woman on my lap and she's drinking champagne
Got white skin, got assassin's eyes
I'm looking up into the sapphire tinted skies
I'm well dressed, waiting on the last train

Standing on the gallows with my head in a noose
Any minute now I'm expecting all hell to break loose

People are crazy and times are strange
I'm locked in tight, I'm out of range
I used to care, but things have changed

This place ain't doing me any good
I'm in the wrong town, I should be in Hollywood
Just for a second there I thought I saw something move
Gonna take dancing lessons do the jitterbug rag
Ain't no shortcuts, gonna dress in drag
Only a fool in here would think he's got anything to prove

Lot of water under the bridge, Lot of other stuff too
Don't get up gentlemen, I'm only passing through

People are crazy and times are strange
I'm locked in tight, I'm out of range
I used to care, but things have changed

I've been walking forty miles of bad road
If the bible is right, the world will explode
I've been trying to get as far away from myself as I can
Some things are too hot to touch
The human mind can only stand so much
You can't win with a losing hand

Feel like falling in love with the first woman I meet
Putting her in a wheel barrow and wheeling her down the street

People are crazy and times are strange
I'm locked in tight, I'm out of range
I used to care, but things have changed

I hurt easy, I just don't show it
You can hurt someone and not even know it
The next sixty seconds could be like an eternity
Gonna get low down, gonna fly high
All the truth in the world adds up to one big lie
I'm in love with a woman who don't even appeal to me

Mr. Jinx and Miss Lucy, they jumped in the lake
I'm not that eager to make a mistake

People are crazy and times are strange
I'm locked in tight, I'm out of range
I used to care, but things have changed

Podem ver a interpretação no You tube, visto que foi negada a possibilidade de o transpor para aqui.

“The times they are a-changin”

Desde sempre, mesmo no auge da sua carreira, Bob Dylan recusou que a sua música fosse utilizada em qualquer tipo de publicidade (excepto é claro na publicidade à sua própria obra) e, de facto, nunca vi, em nenhuma parte do mundo, um anúncio com um fundo musical de Bob Dylan.
Isto porém foi até ontem.
Estava no meu escritório, tendo entre os ruídos de fundo o som da televisão aberta noutra sala até que o voz excepcional (em sentido literal, voz de excepção e não de regra) de Bob Dylan se materializou a partir do ruído de fundo da TV, corri para ver o que era e, lá estava a voz de Bob Dylan num anúncio da GALP!
O que terá mudado ? Bob Dylan ? ou será que a GALP ou a agência que fez o anúncio não respeita o autor ?

2008-04-17

Nova legislação sobre o divórcio

Em princípio ao meu espírito libertário repugna-me a manutenção de qualquer situação à força.
E, como divórcio foi coisa que nunca me passou pela cabeça, não faço ideia dos detalhes da nova legislação, imaginando que, como sempre, nada será complicado para gente civilizada, agindo de boa fé e extremamente difícil para gente incivilizada e agindo de má fé mas, pelo menos talvez haja agora menos papelada e menos chatices e isso é sempre melhor.
O meu coração vacilou apenas quando ouvi Bagão Félix dizer na rádio:
- Agora é mais fácil pôr na rua a minha mulher do que a mulher a dias !
É forte, se é assim também acho que alguma coisa não está bem..

2008-04-15

A verbalização do sonho

Os verbos em polaco, permitem exprimir o passado, o presente e o futuro, neste caso de forma composta com a ajuda do verbo ser (być).
Para cada verbo, para cada acção, existe um outro verbo perfectivo ou perfeito com a mesma estrutura geral de conjugação com uma diferença; como só pode ter havido perfeição, completude, no passado ou ainda vir a havê-la no futuro mas nunca no presente, nestes verbos perfeitos o passado é o passado mas o “presente” é de facto o futuro.
Confusos? É natural, o sistema é mesmo complicado, aliás, ainda mais complicado do que isto porque tem mais aspectos que não vou referir aqui para não ser ainda mais entediante.
Ora estava eu a lidar com esta confusão, a tentar exprimir coisas como “lia (imperfeito) o folheto, quando tocou (perfeito) o telefone” ou algo ligeiramente diferente “li (perfeito) o folheto, quando tocava (imperfeito) o telefone”, quando entrou a minha professora com um ar eufórico, dizendo:
- Compreendi o conjuntivo! finalmente consegui compreender o conjuntivo!
A minha professora de polaco é doutorada em literatura comparada e, para além de ensinar polaco, estuda ela própria o português.
No meio da confusão verbal em que estava envolvido, surpreendeu-me que alguém achasse complicado o meu tão familiar e simples conjuntivo e fui então investigar a origem da dificuldade da minha professora.
Descobri que o conjuntivo exprime o sonho, o desejo, o imaginário e ao tomar consciência desta realidade fiquei a amar ainda mais a nossa língua por até ter toda uma conjugação verbal apenas dedicada ao sonho !
Disto nem sonham os de língua inglesa e nem os Polacos se lembraram.

2008-04-13

Quem haveria de dizer

Hoje ouvi na rádio a notícia, de manhã, há noite vi a reportagem no 60 minutos.
Dormir é essencial para a nossa saúde !
Esta ciência espectáculo que de tempos a tempos assola os nossos media nunca deixa de me espantar e recorda-me uma intervenção a que assisti num seminário sobre o azeite.
A palestrante, uma jovem professora que tinha desenvolvido um interessante estudo sobre o azeite e a sua acção no corpo humano, começou a sua intervenção referindo que nessa manhã, ao dizer à sua avó para onde ia ela lhe respondeu:
- Oh filha então tu vais dizer a esses senhores uma coisa que toda a gente já sabe, que o azeite faz bem a tudo ?
Pois é, toda a gente já sabia mas parece que se vai esquecendo.
Não quero com isto dizer que se não deve estudar o sono e o azeite e tudo o resto para procurar conhecer e compreender os mecanismos da sua acção, o que me espanta são os media e a alienação que reflectem ao apregoar com trombetas verdades evidentes ou, só porque é espectacular, a dar realce a pequenas parcelas desses estudos, truncadas dos seus contextos e que parecem negar essas mesmas evidências.
É por isto que eu confio muito mais em práticas e produtos que se utilizam há centenas de anos e que foram testados por sucessivas gerações (tudo aquilo que a ASAE persegue) do que qualquer mercadoria com bonitas embalagens e tudo explicado em letras pequeninas mas que na realidade não sabemos o que é.
Entretanto vão dormindo 7 ou 8 horitas por dia porque agora já sabemos que vão assim funcionar melhor amanhã, é um estudo científico que o garante.

2008-04-11

Anúncio Solene

DECLARO QUE TAMBÉM NÃO VOU ESTAR PRESENTE NA CERIMÒNIA DE ABERTURA DOS JOGOS OLÍMPICOS DE PEQUIM

2008-04-10

A propósito do tornado em Santarém

“...Para mim, se considero, pestes, tormentas, guerras, são produtos da mesma força cega, operando uma vez através de micróbios inconscientes, outra vez através de raios e águas inconscientes, outra vez através de homens inconscientes. Um terramoto e um massacre não têm para mim diferença senão a que há entre assassinar com uma faca e assassinar com um punhal. O monstro imanente nas coisas tanto se serve – para seu bem ou o seu mal, que, ao que parece, lhe são indiferentes – da deslocação de um pedregulho na altura ou da deslocação do ciúme ou da cobiça num coração. O pedregulho cai, e mata um homem, a cobiça ou o ciúme armam um braço, e o braço mata um homem. Assim é o mundo, monturo de forças instintivas , que todavia brilha ao sol com tons palhetados de ouro claro e escuro....”

Se eu soubesse escrever teria escrito isto, mas como não sei, roubei o texto de um outro “blog” escrito num tempo em que não havia blogues, por Fernando Pessoa.
Chama-se “O livro do desassossego” composto por Bernardo Soares, ajudante de guarda-livros na cidade de Lisboa, o poste citado é o 133.

2008-04-07

Coisas desinteressantes que vão entretendo os media

Sigo o Guião do programa da SIC Notícias “Eixo do mal” que me parece mais ou menos exaustivo:

1. As declarações de Jaime Gama na Madeira
Jaime Gama disse na Madeira que aí foi feita uma obra notável e que essa obra tinha um nome e um rosto: Alberto João Jardim.
Escândalo! visto que o mesmo Jaime gama teria anteriormente comparado o mesmo Alberto João ao imperador Bocassa.
Em primeiro lugar, segundo me recordo, a comparação não foi com Bocaça mas sim com Idi Amin Dada, Alberto João Jardim era mesmo chamado o Idi Amin da Madeira mas para o caso isso não é muito relevante, dado que num caso ou noutro ambas as declarações são perfeitamente compatíveis.
Jardim pode ser legitimamente comparado com Amin pela sua omnipresença no território, a sua frontalidade desbocada, a sua obstinação e combatividade e, simultaneamente, ser louvado pela sua obra que é, de facto, a todos os títulos notável.
Mas sobre isto já, em tempos, me pronunciei aqui.

2. Borge versus Pinho
O poste de humor que está aqui a baixo no dia 1 de Abril, para além de ser típico de um tipo de humor familiar, como referiu o Eduardo, procurava ter também uma leitura mais fina: Falar da relatividade das noções da verdade e da mentira.
Creio que um exemplo está aqui.
O que António Borges disse que se passou com o Ministro Pinho é negado por este categoricamente.
Parece que um deles está a mentir mas, na realidade, não tenho dúvida de que ambos estão a falar verdade, só que são verdades diferentes.

3. Jorge Coelho é agora Presidente da Mota Engil
Corrupção, dizem uns, incoerência dizem outros, esquecendo que isso é como que uma lei que regula a própria condição de político.
Como aqui também já disse todo o político procura percorrer 3 fases a da pista, seguindo-se a da pasta, e concluindo-se com a da posta, Jorge Coelho já passou pela pista e pela pasta que querem que ele faça agora ?

4. O Programa da Al Jazeera sobre José Sá Fernandes
Escândalo! mostra Lisboa como uma cidade miserável, minada pela corrupção e José Sá Fernandes como o Paladino da Justiça.
O programa insere-se numa temática, não é um programa neutro, tem um ponto de vista e é militante na sua defesa.
Programas como este podem-se fazer em todas as capitais do mundo, em todas elas posso filmar ruínas, e recantos da rua onde dorme gente, e Lisboa também tem essa face como todas as outras cidades.
Wim Wender já fez um filme lindíssimo sobre Lisboa que também se pode fazer.
São meras ilustrações para a mensagem que se quer transmitir.
Eu, como lisboeta, não estou ofendido.

2008-04-04

Não é que o Sócrates se lembrou

Quando há alguns dias disse aqui que se trabalhássemos mais horas por semana o PIB era capaz de aumentar, e que esperava que o Sócrates não se lembrasse disso, não contava, sinceramente, não contava ou não o teria escrito, que isso lhe ia mesmo passar pela cabeça.
Mas passou ! Era notícia de hoje das negociações que estão a haver com os sindicatos, será que ele já tem agentes a ler este blogue ? Se sim repito o aviso: Eu aqui uso muito a ironia, eu não quero isso não, trabalhar 50 horas semanais que trabalhe ele eu cá não quero.

2008-04-03

A ética sexual polaca

Na cultura dos povos, mais do que os monumentos, os trajes, as festividades, o folclore, interessam-me os hábitos, os comportamentos e as atitudes sobre diferentes assuntos que tem o cidadão comum.
A atitude face ao sexo é dos aspectos mais interessantes que podemos encontrar numa sociedade, isto porque o sexo é um aspecto central na vida humana e multidimensional.
Tem uma dimensão individual, que traduz o posicionamento de cada indivíduo face ao sexo e dentro deste múltiplos subaspectos, o sexo biológico com que se nasceu, as atracções sexuais, também biológicas que sente, o aspecto quase lúdico que o sexo pode ter, como experiência individual mais ou menos gratificante e os aspectos mais permanentes e emocionais da sua relação com os outros, como o amor e o desamor.
Não falando na dimensão económica que também tem em muitíssimas formas, tem também uma dimensão social. Há ritos e comportamentos próprios de género e esses culturalmente variáveis mas sempre procurando estabelecer a ordem social geral, regras que nem sempre são totalmente coerentes e que são seguidas e quebradas, com tolerâncias também culturalmente variáveis.
Uma última dificuldade para falar deste tema é que precisaríamos, talvez, de ser anjos assexuados para falar, com independência, do assunto, mas não, não foram conclusões traçadas por um anjo voando discretamente sobre a sociedade polaca, são apenas pequenas ilações extraídas por um homem, português, com mais de 50 anos que durante 6 meses se relacionou com muitos homens e mulheres polacos, geralmente jovens e num contexto concreto.
Posta esta introdução, longa mas que me pareceu necessária, começaria por falar da mulher polaca:
Há dois tipos fenotípicos de mulher polaca (obviamente de homens também mas perdoem-me que não lhes tenha dado a mesma atenção) ambos lindíssimos, o tipo eslavo de cabelo muito negro e liso e o tipo nórdico, de cabelos de ouro e olhos claros, traduzindo as interacções culturais que a polónia viveu ao longo da sua história.
São geralmente mulheres muito atraentes mas extremamente recatadas e puritanas quando se apresentam em público, o simples beijo na face no contacto entre homem e mulher que na nossa cultura está tão banalizado, mesmo entre quase estranhos e é mesmo transversal aos estratos sociais, diferenciando-se apenas neste domínio pelo seu número, 1 ou 2 beijos, porém na polónia é sempre inaceitável, só tolerável entre grandes amigos conhecidos há muito tempo, curiosamente é lá muito mais aceitável do que entre nós, os beijos na face entre homens, embora menos do que nas culturas árabes.
Foi das situações mais confrangedoras que vivi quando na entrega dos diplomas da acção de formação que eu, entre outros, monitorámos, instigado por um intérprete, decidi dar um beijinho a cada aluna quando, para lhe dar os parabéns pelo feito de ter terminado a formação, lhes entregava o diploma, como é aliás norma em todos os actos semelhantes em Portugal.
Mas ali não, o nervosismo instalou-se essencialmente entre as jovens que aguardavam a sua vez e a sala encheu-se de risinhos nervosos, até que uma aluna, quando chegou o seu momento me disse afastando a cara: “desculpe mas não posso dar o beijinho porque estou muito constipada”.
Nunca mais tentei essa aventura mas aprendi.
Todavia nas conversas que tinha com homens todos me referiam que as mulheres polacas eram amantes arrebatadoras e incitavam-me a quebrar o gelo inicial e ir mais alem e, na verdade, nas relações diádicas entre mim e uma mulher ou mesmo entre mim e um pequeno grupo totalmente feminino o seu á-vontade era totalmente outro, podíamos mesmo conversar sem qualquer constrangimento sobre temas de conteúdo fortemente sexual e muitas fizeram-me confidências sobre as suas relações amorosas que fariam corar de vergonha muitas jovens mulheres portuguesas.
Na ética sexual polaca há pois um forte contraste entre o que é um comportamento normal na sociedade no seu conjunto, onde sexo ou qualquer alusão sexual não existe e o comportamento em maior intimidade onde o sexo surge com enorme à-vontade.
Uma pequena história que se passou comigo também ilustra este ponto:
Certo dia, no início da minha estada, quando me levantava, no quarto do hotel, bateram-me à porta.
Entreabri-a, visto que eu estava apenas em cuecas e vi uma jovem lindíssima, do tipo nórdico, que me disse ser a minha intérprete para a jornada e, dizendo isto, entrou no quarto, sem qualquer constrangimento enquanto eu me vestia, falando sobre aspectos relativos à nossa relação profissional entre palestrante e interprete.
Essa mesma intérprete Joanna, ou Asia, diminutivo como por vezes gostava de ser chamada, acompanhou-me muito por toda a polónia, aprendi muito com ela sobre a polónia e a sua idiosincrasia e ficámos amigos até hoje, embora muito distantes porque casou e vive na Suiça. Após a última aula em que estivemos juntos ela quis despedir-se e entrou em dissonância cognitiva, a amizade que já tínhamos justificava um beijo na face mas ali em público em frente de mais 30 jovens, um beijo na face do palestrante era intolerável, que fazer ? Deu-me um beijo na face, muito rápido e fugiu, corada de vergonha, a correr pela porta fora entre os assobios e piadas dos alunos. Eu senti-me orgulhoso de ter sido mais importante para ela do que todo aquele preconceito.
Para terminar esta crónica que já vai muito longa ia só contar como me vinguei de uma outra jovem intérprete, esta muito parva e irritante:
Eu dava as minhas aulas em francês, todas as intérpretes eram de francês/polaco e naturalmente como profissionais dominavam o francês muito melhor do que eu, embora o meu francês fosse mais do que suficiente (como comprovou a empresa francesa que me contratou e que com essa desculpa decidiu que não valia a pena contratar intérpretes de português como estava previsto contratualmente) e de facto nunca isso me deu problemas com nenhum intérprete com a excepção dessa tal que em plena aula corrigia o meu francês e fingia muitas vezes não perceber o que eu dizia por não o ter dito num francês de Molière.
Certo dia, porque vagamente veio a propósito, fi-la traduzir “menstruação” para polaco, ficou vermelha que nem um pimento e gaguejou qualquer coisa em polaco mas desde aí nunca mais gozou comigo.

2008-04-02

Telemóveis mais perigosos do que tabaco

Quando estive na Grécia, há cerca de um ano, depois de duas horas de reunião com responsáveis da Administração grega e num momento de pausa tomei coragem e perguntei “haverá algum lugar onde eu possa fumar um cigarro antes de recomeçarmos o trabalho?” Para meu espanto só vi semblantes luminosos e responderam-me enquanto sacavam dos maços de cigarros “mas pode fumar aqui, nós só não estávamos a fumar porque pensávamos que o Sr. não era fumador”.
Durante esta estada pude, também, por outras vias, verificar que não tinha ainda chegado à Grécia a forte campanha anti-tabagista que assolava o resto da Europa e os EUA mas, curiosamente, reparei que a generalidade das pessoas com quem lidei só falavam ao telemóvel através de um auricular. À minha surpresa foram-me dizendo que parecia que as radiações eram muito perigosas e preferiam usá-lo assim.
Hoje porém vi noticiado no Público que segundo um estudo do Professor australiano Vini Khurana o uso do telemóvel mata ainda mais do que o tabaco!.
Este estudo que serve os meus interesses, dado que sou fumador e quase não uso directamente telemóvel, embora seja utilizador passivo do telemóvel dos outros, merece-me o mesmo crédito que a generalidade dos estudos anti-tabagistas e outros que vão sendo produzidos pela ciência espectáculo ou seja praticamente nenhum.
Espero todavia que pelo menos venha a contribuir para que a opinião pública arranje outro bode expiatório para o seu ódio e que desvie para aí um pouco mais a sua atenção.

2008-04-01

Conversas de mim comigo

Mim – Hoje é 1 de Abril, dia das mentiras.
Migo – Tens de mentir então.
Mim – Tá bem: 2 mais 2 são 4
Migo – Mas, isso, acho, que é verdade !
Mim – Menti que ia mentir !
Migo - Ah !