2007-12-30

O fascínio da neve

Agora que muita gente procura usufruir desse prazer simples de brincar com a neve que é tão escassa no nosso país, permitindo-nos extrair desse meteoro natural apenas os seus aspectos agradáveis, recordo-me da Polónia no Inverno e em como a neve aí é uma presença constante e incómoda talvez como, para nós, a chuva no dia a dia. É chato, mas tem que ser e sabemos que faz falta.
Na formação que lá fiz falava-lhes como um exemplo de valorização dos recursos locais, falava-lhes do fluxo turístico, que anualmente, em Fevereiro, percorrem Trás os Montes para ver o espectáculo deslumbrante das amendoeiras em flor.
Todos sentiam como natural e belo esse espectáculo, só se riam com uma gargalhada franca quando eu referia:
- É que toda aquela mancha de flores brancas nos lembra a neve !

2007-12-29

Armando Vara

Há quem diga que foi meteórica a carreira de Armando Vara, que não tem curriculum suficiente para integrar a administração do BCP.
Vejamos:
Armando Vara, há mais ou menos 20 anos, era um discreto empregado duma remota agência bancária e, já então, uma “estrela” ascendente na estrutura regional do PS.
Seguiu a “glory road” laboriosamente, talentosamente. Há muitos que o tentam fazer sem o conseguir (a maioria) mas Vara sim, sabendo avançar quando era possível e retroceder também quando necessário.
O partido proporcionou-lhe a escada que precisava e lá foi subindo, degrau a degrau sem cair prematuramente.
Chegou quase ao topo, primeiro a uma direcção de serviços e depois à administração da CGD e não desiludiu, pelo contrário.
Agora dá mais um passo, para o BCP.
Um arrivista, dizem alguns, veio de pára-quedas.
A estes que falam pergunto eu e Paulo Azevedo, de onde veio ?
E, Rui Vilar, sem pôr em dúvida a sua competência, já provada entretanto , mas que passou quase directamente da licenciatura para o topo da administração privada, e tantos outros, quase todos os gestores de topo ?
Será que a escada das influencias e das relações familiares vale mais do que qualquer outra ?
Será que alguns que nascem já com curriculum feito é que têm competência genética ?
Como dizia um mestre “é pelos frutos que se conhecem as árvores”.
Critiquem Vara quando, e se, ele produzir maus frutos no BCP, para já, ainda é cedo, são meros preconceitos.

2007-12-27

Questão de números

A TVI ontem começou o seu noticiário nobre com o seguinte título:

“Crise, qual crise ?”

Depois explicava que milhares de Portugueses iriam passar o ano no Brasil, na Madeira e noutros destinos de “luxo”.

Só não percebeu que a resposta à sua questão estava contida nesse mesmo texto.

Para fora foram, de facto, milhares, só que nós somos milhões e ficámos em casa por causa da crise.

Para esclarecimento da TVI informo que, em Portugal, um milhão são mil milhares.

A situação no BCP

A sabedoria popular já há muito enquadrou o que se está a passar com o BCP:

“Zangam-se as comadres, descobrem-se as verdades !”

2007-12-23

Embora o mundo ainda não tenha percebido

Todas as regiões, lugares, são especiais, únicos, irrepetíveis !

Como estas que eu conheço:

Um conjunto de algumas aldeias portuguesas, no Sul no Centro, enfim em todos os pontos cardeais e colaterais, uma vasta zona de deserto em várias partes do mundo, um extenso complexo desportivo em ruínas, saudoso de velhas glórias, na Polónia, uma lixeira de resíduos tóxicos perigosos agora coberta de relva e com ovelhas a pastar, perto de mim, segundo me dizem.

Também como aquela insistentemente referida no “Meu nome é legião” de António Lobo Antunes:

"3 (três) edifícios inteiros mais ½ (metade) direita de um à esquerda e 2/5 (dois quintos) da esquerda de outro à direita."

É para dar esta notícia que é importante a noção de "marketing territorial".

É por isso que estou a escrever um livro sobre esta temática.

2007-12-21

A questão do referendo

É uma questão simplicíssima.
Por coerência, por honestidade, por uma questão de sentido democrático, pela ilusão de que é ou deveria ser o povo quem mais ordena, por tudo isso e ainda muito mais se deveria referendar o tratado constitucional.
É óbvio.
Porque não se referenda então ?
Por uma questão matemática simples:
Se todos os 27 Estados Membros referendassem o tratado, o tratado não passaria nunca, nem este nem qualquer outro.
Mesmo que houvesse 90 % de probabilidades de o tratado ser ratificado em referendo em cada um dos Estados Membros, o que já por si é duvidoso, a probabilidade de que o mesmo fosse ratificado em todos os Estados Membros seria de apenas cerca de 5 %.
É isto que nos diz a estatística, com alguns pressupostos facilmente assumíveis.
Só há uma maneira de sair deste impasse, como alguém já propôs, fazer um único referendo europeu !

2007-12-19

A minha campanha continua

Morra o Pai Natal, morra !
Pim.

Vivam o Menino Jesus e a Árvore de Natal !

2007-12-11

Afinal era mesmo Pessoa

Foi graças ao meu sobrinho Eduardo Jordão, amante de Fernando Pessoa e talentoso pianista, que aliás nos irá dar no próximo Sábado dia 15, pelas 17 horas, no Salão dos espelhos do Palácio da Ajuda, um concerto onde, estou certo, quem duvide das minhas palavras poderá confirmar ao vivo a sua justeza. Foi esse meu sobrinho que desencantou o perdido poema de Fernando Pessoa que chegou parcial e distorcido ao meu poste abaixo: “Uma Tarde no Parque “.

É assim:

Fito-me frente a frente (30-3-1931)

Fito-me frente a frente
E conheço quem sou.
Estou louco, é evidente,
Mas que louco é que estou?

É por ser mais poeta
Que gente que sou louco?
Ou é por ter completa
A noção de ser pouco?

Não sei, mas sinto morto
O ser vivo que tenho.
Nasci como um aborto,
Salvo a hora e o tamanho.

Fernando Pessoa

2007-12-06

A sinistra AZAE

Nós vamos brincando mas o mundo está-se a tornar sinistro.

A MEIA DÚZIA DE LAVRADORES que comercializam directamente os seus produtos e que sobreviveram aos centros comerciais ou às grandes superfícies vai agora ser eliminada sumariamente. Os proprietários de restaurantes caseiros que sobram, e vivem no mesmo prédio em que trabalham, preparam-se, depois da chegada da "fast food", para fechar portas e mudar de vida. Os cozinheiros que faziam a domicílio pratos e "petiscos", a fim de os vender no café ao lado e que resistiram a toneladas de batatas fritas e de gordura reciclada, podem rezar as últimas orações. Todos os que cozinhavam em casa e forneciam diariamente, aos cafés e restaurantes do bairro, sopas, doces, compotas, rissóis e croquetes, podem sonhar com outros negócios. Os artesãos que comercializam produtos confeccionados à sua maneira vão ser liquidados.
A SOLUÇÃO FINAL vem aí. Com a lei, as políticas, as polícias, os inspectores, os fiscais, a imprensa e a televisão. Ninguém, deste velho mundo, sobrará. Quem não quer funcionar como uma empresa, quem não usa os computadores tão generosamente distribuídos pelo país, quem não aceita as receitas harmonizadas, quem recusa fornecer-se de produtos e matérias-primas industriais e quem não quer ser igual a toda a gente está condenado. Estes exércitos de liquidação são poderosíssimos: têm Estado-maior em Bruxelas e regulam-se pelas directivas europeias elaboradas pelos mais qualificados cientistas do mundo; organizam-se no governo nacional, sob tutela carismática do Ministro da Economia e da Inovação, Manuel Pinho; e agem através do pessoal da ASAE, a organização mais falada e odiada do país, mas certamente a mais amada pelas multinacionais da gordura, pelo cartel da ração e pelos impérios do açúcar.
EM FRENTE À FACULDADE onde dou aulas, há dois ou três cafés onde os estudantes, nos intervalos, bebem uns copos, conversam, namoram e jogam às cartas ou ao dominó. Acabou! É proibido jogar!
Nas esplanadas, a partir de Janeiro, é proibido beber café em chávenas de louça, ou vinho, águas, refrigerantes e cerveja em copos de vidro. Tem de ser em copos de plástico.
Vender, nas praias ou nas romarias, bolas de Berlim ou pastéis de nata que não sejam industriais e embalados? Proibido.
Nas feiras e nos mercados, tanto em Lisboa e Porto, como em Vinhais ou Estremoz, os exércitos dos zeladores da nossa saúde e da nossa virtude fazem razias semanais e levam tudo quanto é artesanal: azeitonas, queijos, compotas, pão e enchidos.
Na província, um restaurante artesanal é gerido por uma família que tem, ao lado, a sua horta, donde retira produtos como alfaces, feijão verde, coentros, galinhas e ovos? Acabou. É proibido. Embrulhar castanhas assadas em papel de jornal? Proibido.
Trazer da terra, na estação, cerejas e morangos? Proibido.
Usar, na mesa do restaurante, um galheteiro para o azeite e o vinagre é proibido. Tem de ser garrafas especialmente preparadas.
Vender, no seu restaurante, produtos da sua quinta, azeite e azeitonas, alfaces e tomate, ovos e queijos, acabou. Está proibido.
Comprar um bolo-rei com fava e brinde porque os miúdos acham graça? Acabou. É proibido.
Ir a casa buscar duas folhas de alface, um prato de sopa e umas fatias de fiambre para servir uma refeição ligeira a um cliente apressado? Proibido.
Vender bolos, empadas, rissóis, merendas e croquetes caseiros é proibido. Só industriais.
É proibido ter pão congelado para uma emergência: só em arcas especiais e com fornos de descongelação especiais, aliás caríssimos.
Servir areias, biscoitos, queijinhos de amêndoa e brigadeiros feitos pela vizinha, uma excelente cozinheira que faz isto há trinta anos? Proibido.
AS REGRAS, cujo não cumprimento leva a multas pesadas e ao encerramento do estabelecimento, são tantas que centenas de páginas não chegam para as descrever.
Nas prateleiras, diante das garrafas de Coca-Cola e de vinho tinto tem de haver etiquetas a dizer Coca-Cola e vinho tinto.
Na cozinha, tem de haver uma faca de cor diferente para cada género.
Não pode haver cruzamento de circuitos e de géneros: não se pode cortar cebola na mesma mesa em que se fazem tostas mistas.
No frigorífico, tem de haver sempre uma caixa com uma etiqueta "produto não válido", mesmo que esteja vazia.
Cada vez que se corta uma fatia de fiambre ou de queijo para uma sanduíche, tem de se colar uma etiqueta e inscrever a data e a hora dessa operação.
Não se pode guardar pão para, ao fim de vários dias, fazer torradas ou açorda.
Aproveitar outras sobras para confeccionar rissóis ou croquetes? Proibido.
Flores naturais nas mesas ou no balcão? Proibido. Têm de ser de plástico, papel ou tecido.
Torneiras de abrir e fechar à mão, como sempre se fizeram? Proibido. As torneiras nas cozinhas devem ser de abrir ao pé, ao cotovelo ou com célula fotoeléctrica.
As temperaturas do ambiente, no café, têm de ser medidas duas vezes por dia e devidamente registadas.
As temperaturas dos frigoríficos e das arcas têm de ser medidas três vezes por dia, registadas em folhas especiais e assinadas pelo funcionário certificado.
Usar colheres de pau para cozinhar, tratar da sopa ou dos fritos? Proibido. Tem de ser de plástico ou de aço.
Cortar tomate, couve, batata e outros legumes? Sim, pode ser. Desde que seja com facas de cores diferentes, em locais apropriados das mesas e das bancas, tendo o cuidado de fazer sempre uma etiqueta com a data e a hora do corte.
O dono do restaurante vai de vez em quando abastecer-se aos mercados e leva o seu próprio carro para transportar uns queijos, uns pacotes de leite e uns ovos? Proibido. Tem de ser em carros refrigerados.
TUDO ISTO, como é evidente, para nosso bem. Para proteger a nossa saúde. Para modernizar a economia. Para apostar no futuro. Para estarmos na linhada frente. E não tenhamos dúvidas: um dia destes, as brigadas vêm, com estas regras, fiscalizar e ordenar as nossas casas. Para nosso bem, pois claro.

António Barreto «Retrato da Semana» - «Público» de 25 de Novembro de 2007

2007-12-03

É certo que Chavez irrita um pouco mas ...

É certo que Chavez chama fascista a quem não gosta mas os nossos media pagam-lhe na mesma moeda:
Não renovou um contrato de concessão de TV que chegou ao seu termo, nos termos de um direito que qualquer democracia tem, incluindo a nossa, e logo dizem que mandou fechar um canal da oposição (aliás canal de “lixo”, como muitos observadores independentes manifestaram).
Propõe a retirada do limite de mandatos, tema perfeitamente discutível em qualquer democracia e aliás que aqui também já se polemizou relativamente às autárquicas, mas logo dizem que quer passar uma lei para se perpetuar no Governo até aos 75 anos, esquecendo-se de acrescentar a verdade: “se os venezuelanos quiserem”.
Perde o referendo dessa proposta, aceita pacificamente a derrota e cumprimenta os adversários, como é natural em qualquer democracia, logo dizem que o “ditador” perdeu, mas qual “ditador” ? Deve ser aquele "ditador" parecido com o "fascista" do Aznar.
O Público aliás na edição de hoje assegurava a vitória de Chavez e insinuava batota eleitoral.
Também irrita tanta má vontade.