2005-10-29

Pontos de vista

Imaginemos que, amanhã, logo de madrugada, esse tema permanentemente latente no nosso imaginário, que gera filmes e romances de grande sucesso mediático se transforma de facto em realidade.
Somos invadidos por extraterrestres !
É fácil imaginar como o pânico nos invadiria, como faríamos tudo para ripostar e afastar essa ameaça e como lamentaríamos que não fosse, desta vez, mais um filme, e que Bruce Willis não estivesse lá para nos salvar milagrosamente.
Todavia, racionalmente, podemos perguntar; “salvar de quê ?”.
Esses invasores com tecnologia suficientemente evoluída para cá chegar antes que a nossa tecnologia suspeitasse sequer da sua existência, não auguraria com certeza um futuro melhor ?
Os excessos que provavelmente cometeriam os invasores não seriam justificados pelo nosso primitivismo relativo e a nossa incapacidade para falar na sua língua superior ?
Não desprezaríamos os “traidores” que tendo uma visão mais utilitária do mundo se apressariam em tentar passar para o inimigo, obtendo de imediato alguns privilégios invejáveis ?
Provavelmente, alguns “intelectuais marginais” dessa cultura de invasores lutariam contra os excessos cometidos pelos seus pares, falando de alguns valores que os terráqueos também tinham e diriam que alguns mesmo estão a fazer um grande esforço de adaptação e já se integram minimamente na nossa cultura, os tais, para nós, “traidores”
Foi esta a impressão que colhi, ao ouvir a entrevista ao jornalista da SIC que acompanhou a luta dos Índios “Ianomanis”, parece que é assim que se transcreve, da Amazónia, em luta contra a invasão da nossa civilização “superior” e global.
“Estes ainda não falam português, mas têm valores tradicionais e comunitários de grande interesse, embora as mâes matem os filhos que não têm hipótese de sobreviver mas a missão católica já está a actuar contra estes aspectos, o problema são os fazendeiros, bla, bla, bla”
É este discurso inocentemente hipócrita que eu já não posso ouvir, para mim é tudo mais simples:
Deixem os índios “Ianomanis”, viver em paz, sem terem de aprender português à força ou fazer seja o que for não queiram.
A terra é ocupada por eles há séculos e mesmo segundo as nossas normas de justiça, têm direito a continuar aí na sua “sacrossanta propriedade”, “quietos no seu galho”. Ponto. Mais argumentos para quê ?

2005-10-26

O regresso do rebanho – Epílogo

Obras ema casa obrigaram-me a passar uns dias no Alto Lumiar, local que se chamava Musgueira até nascer uma nova e moderna urbanização que progressivamente se vai enchendo de jovens casais da média burguesia lisboeta.
É, nesta forma, um bairro novo da cidade, que já tem “sites” na internete, e blogues como este, entre outros, mas ao que falta ainda “alma”, procura ainda o seu “spiritus loci”.
Como sempre, há duas forças dominantes a moldar esse espírito:
Uma, dessas forças, nasce daquelas mentes modernas ou pós-modernas que conceberam o bairro e ainda o dominam de certa forma.
Visa a “ordem” e a homogeneização.
Nada de consentir rasgos de criatividade individual, que estraguem a “estética” do conjunto.
Estendais de roupa, nem pensar, “era só o que faltava sermos confrontados com esse símbolo do gosto individual como umas cuecas às bolinhas ondulando orgulhosamente ao vento como uma bandeira a declarar: aqui moro Eu”.
Não o fizeram ainda abertamente mas gostariam de regulamentar, os trajes apropriados para frequentar os átrios das casas, e o tempo concedido a brincadeiras das crianças, nos espaços públicos.
É um condomínio aberto mas tem horror a “estranhos”, todos os que não são dos “nossos”. Gostariam de fechar tudo à chave. Eu, para me mover no condomínio preciso dumas 8 ou 9 chaves e faltam-me algumas...
Na garagem colectiva está escrito junto à porta de saída, que, assim que sair, devo bloquear o acesso até que o portão se feche novamente, não vá entrar algum “estranho”, sem se lembrarem de que assim nunca deixaremos todos de ser estranhos uns para os outros.
Outras forças porém, de alguns moradores que querem apenas viver em paz e harmonia com os seus semelhantes, vão lentamente procurando impor novas regras que humanizem o bairro.
Tenho esperança que dentro de alguns anos se possa já viver ali alegremente, agora ainda não e foi assim que certo dia, ao fim da tarde, quando me dirigia ao meu carro, estacionado no interior da garagem, para sair, vi com espanto, ao longe, os portões permanentemente escancarados.
O que se passaria ali, seria uma revolução ou simplesmente uma avaria no mecanismo de abertura e fecho do portão ?
Percorri o caminho até à saída até que comecei a distinguir uma fila de carros que, um a um, calmamente, recolhia à garagem. À porta, dirigindo este fluxo, estava um agente da segurança privada que vela pelo condomínio, cumprimentado todos e detendo-se, de vez em quando, a trocar breves palavras com um ou outro.
Todas aquelas imagens de rebanhos que descrevi atrás, assaltaram o meu espírito:
Tudo aquilo me pareceu o regresso de um rebanho, neste caso, rebanho de quadros técnicos ou administrativos que regressavam ao “redil” após um dia de “pastagem” em diversas empresas e repartições. Até tinham o seu “pastor”, o segurança, a quem me pareceu ouvir murmurar: “anda “bonita”, vai “malhada”, como está a tua mamite “lanzuda” ?”.
Aprendi depois que tudo isto se repete diariamente.
Vários anos depois pude ver, de novo, em Lisboa, um “regresso do rebanho”, só que deste eu também faço parte, por vezes.

2005-10-21

Para que queremos um Presidente da República

A constituição dá-nos algumas pistas: nomeia o Governo, promulga leis, nomeia para alguns altos cargos, é o Supremo Comandante das Forças Armadas, essa “ociosidade organizada”, como lhe chamava Eça, e pode também, em certas situações, dissolver a Assembleia da República.
Para fazer tudo isto e coisa no género (visto que não conheço a constituição de cor) terá que ter bom senso, indiscutivelmente, um mínimo de bom senso, mas pode também contar com inúmeras ajudas: tem a sua Casa Civil, a Casa Militar, o Conselho de Estado, pode ouvir quem quiser, pedir conselhos, enfim, se não for muito alvoreado, lá sobreviverá mais ou menos, mesmo que a história lhe faça alguma partida como a de levar Santana Lopes ou alguém no género à condição de poder ser poder.
É claro também, que poderá surgir uma situação difícil imponderável, sei lá, sermos invadidos militarmente, por exemplo, mas aí creio que teremos que fazer mais por nós, do que esperar que o Presidente resolva as coisas.
Há no entanto uma outra função, o Presidente é um símbolo nacional, como o hino ou a bandeira, o Presidente tem de conviver com Chefes de Estado, Presidentes e Reis, participar em banquetes elegantíssimos, frequentar palácios, sentar-se em bons sofás, sem dar pulinhos para lhes experimentar as molas (como se viu Bush fazer) e tem que fazer tudo isso com “saber estar”, com educação, com etiqueta, direi mesmo, de forma que não envergonhe o país. Voltando às palavras de Eça (embora dirigidas ao corpo diplomático, também se aplicam aqui) deve saber comer ostras com elegância.
Ora para isto não há Casa Civil nem Chefe de Protocolo que lhe valha, isto não se ensina, ou se tem ou se não tem.
Em resumo, um bom candidato tem que ter: bom senso e boa presença.
Analisemos a esta luz os candidatos que se perfilam:
Francisco Louçã, parece que nem sabe usar gravata, não o consigo ver de gravata, foge-lhe o pé para a palhaçada, que fora do contexto habitual poderia ser dramático e bom senso não sei se o terá em suficiência.
Jerónimo de Sousa, bom senso tem, e apresenta-se bem, é um homem culto, vê-se que leu muito, mas operário é sempre operário e não o vejo à vontade em certos ambientes mais refinados.
Mário Soares, estará como peixe na água nos altos círculos que dominam o mundo, muito à vontade, direi mesmo talvez até um pouco à vontade demais. Não nos envergonharia mas uma gafe ou outra não se poderá evitar, quanto a bom senso parece ter quanto baste.
Cavaco Silva, bom senso tem para dar e vender mas é demasiado hirto, tímido, como ele próprio diz, parece que nunca cabe bem no fato que veste e não há um dia em que se fale na sua provável vitória, que não tenha o pesadelo de o ver a comer bolo rei, de boca aberta em frente ao Papa, credo !
Resta-nos Manuel Alegre e este sim tem boa presença, tem tudo o que se pode esperar, até cria e diz poesia lindamente o que fica muito bem em qualquer salão. Adivinha-se que sabe valsar, é brilhante na conversação, com este sim, Portugal estará bem representado e bom senso terá quanto baste.
Meus amigos, a escolha não parece nada difícil: O melhor candidato é Manuel Alegre e juro que nem ele me pagou para dizer isto, nem me prometeu nada, nem mesmo me meteu em nenhuma Comissão de Honra ou de outra coisa qualquer, nem sequer o conheço, é mesmo o que eu acho, através de análise racional e objectiva.
Vão por mim que vão bem.

2005-10-18

Peseiro saiu

Enquanto os media se preocupam com o orçamento de Estado para 2006, a SIC notícias avançou com as notícias verdadeiramente importantes, que eu amplifico aqui para o mundo:

1. PESEIRO JÁ SAÍU DO SPORTING !

2. A Princesa Letízia teve contracções, sempre acompanhada pelo Príncipe, todavia o herdeiro ainda não nasceu.

2005-10-17

O regresso do rebanho – capítulo 4

Numa unidade de turismo rural, perto de Vila Flor, existe uma varanda ampla e larga, debruçada sobre um pequeno vale que logo se levanta numa colina que deixa adivinhar novo vale, desenhando o ondulado típico da paisagem de montanha que se contempla aí.
Eu, preparava-me para sair para a minha vida, quando vejo na referida varanda um grupo de turistas nórdicos, sentados lado a lado, debruçados sobre a balaustrada como se estivessem numa frisa de camarote.
Eu sei que a paisagem é linda, mas estranhei aquela postura.
Parecia-me melhor usufruir a beleza do lugar de forma mais descontraída, fazendo uma roda de cadeiras, conversando amenamente, talvez beberricando num copo, deixando a calma do lugar envolver-nos suavemente.
Mas eles lá estavam em silêncio, um pouco tensos de expectativa, esperavam qualquer coisa, o quê ?
Perguntei, à minha hospedeira, o que estariam a fazer aqueles turistas ali. Seria qualquer espectáculo invulgar que se passaria mesmo por baixo da varanda e que eu não descortinava do ponto em que me encontrava ?
“não” disse-me ela, “aguardam o regresso do rebanho, que já não tarda”.
Ao meu espírito afluíram duas imagens, “teatro”, “rebanho”. O regresso do rebanho também pode ser... é, um espectáculo.

Infelizmente

O que eu escrevi relativamente ao Sportimg, parece confirmar-se:
os jogadores estão decididos a não jogar até que Peseiro saia.
A Direcção está a fazer um braço de ferro que perderá forçosamente, mais cedo ou mais tarde.
Pelo caminho vão ficando estragos difíceis de reparar.

2005-10-16

O valor das coisas

Os melhores bens que usufruo e os melhores serviços que me prestaram foram-me gratuitos.
Preço e valor são apenas duas noções distintas que por vezes coincidem.

2005-10-11

O regresso do rebanho – Capítulo 3

Tive dois encontros estranhos no caminho entre Moncorvo e Mirandela, em pontos diferentes do caminho e em noites diferentes, mas ambos envolveram luzes misteriosas.
Um deles é quase indiscritível, eram luzes que atravessavam o carro vindas de todas as direcções, sem ritmo definido e sem que eu conseguisse descortinar a sua fonte. Muitas outras pessoas presenciaram o mesmo, muitas teorias foram formuladas, luzes de uma discoteca distante, efeitos eléctricos naturais, eu sei lá, até hoje não sei o que foi, costumo chamar-lhe o meu primeiro, e até hoje único, encontro com um ovni
O outro encontro foi mais definível: ia numa recta da estrada, ao começo da noite, quando comecei a ver a uns pontos luminosos verdes, muitos, centenas, ondulantes, como se fosse produzido por um exército de pirilampos em marcha organizada.
Era um espectáculo simultaneamente belo e insólito.
Abrandei o carro, apreensivo, até que pude distinguir claramente o que se passava: era um rebanho de ovelhas que avançava uns metros pela estrada contra a direcção do carro para a abandonar mais adiante.
Desejei boa noite ao pastor que as acompanhava e segui viagem.

2005-10-10

Autárquicas

Ontem, durante o dia, ouvi um político apelar para o voto com a seguinte argumentação:
- Quem não votar não se poderá queixar das escolhas que outros fizeram.
É bem verdade, no entanto eu nunca me queixei das escolhas feitas pelos outros, do que me tenho queixado é das escolhas que eu próprio fiz.

2005-10-09

O regresso do rebanho – Capítulo 2

Visitava mais uma queijaria no sul de França, em plena região demarcada do Roquefort.
Uma pequena queijaria artesanal como a generalidade das que se dedicam à fabricação deste notável queijo, famoso no mundo inteiro.
Meditava precisamente nesta contradição da vida moderna:
Aquela queijaria, tão precária e tão pouco higiénica, como já quase não há em Portugal, mantinha-se assim precisamente apenas por ser francesa, um dos grandes da Europa, mas irá ver, ainda assim, julgo eu, mesmo em França, o seu inexorável fim, ditado pelos zelosos guardiões da saúde pública, que não descansarão enquanto não nos obrigarem a todos a comer exclusivamente plástico esterilizado.
No entanto, não fosse precisamente a existência daquelas condições, naquele lugar e ainda hoje não teríamos a contaminação do queijo com Penicilium roquefortis, e a descoberta desse sabor único, responsável hoje por um negócio de milhões.
Enquanto o meu pensamento deambulava por estas paragens, começo a ouvir uma música estranha mas simultaneamente familiar de um imenso repicar de pequenos sinos.
A música casava na perfeição com a calma e a solidão do lugar.
Era o regresso do rebanho, centenas de ovelhas, cada uma com o seu badalo tinindo preso ao pescoço.
Comandava o seu percurso um cão guia, em frenética actividade, não permitindo que uma só se afastasse mais do que alguns metros do rebanho e se apartasse e os próprios latidos do cão emprestavam uma beleza estranha aquela “sinfonia” de sinos.
Calmamente o rebanho recolheu ao seu redil, são e salvo e, na minha memória, ficou gravado até hoje aquele instante magnífico.

2005-10-07

O Regresso do rebanho – Capítulo 1

Sou um homem urbano, nado e criado na cidade, não tenho, nunca tive, férias ou Natal na terra, as minhas raízes rurais perdem-se a 3 ou 4 gerações de distância, são apenas histórias vagas e nebulosas.
Apesar disso ou talvez por isso a ruralidade fascina-me, a sua dimensão humana, as relações simples entre pessoas concretas, Manéis e Marias, com todos os seus atributos, as suas prendas, as suas manias, as suas vantagens e os seus defeitos, e também a sua história que transportam consigo.
Na cidade somos anónimos, serei quanto muito o vizinho das barbas, para caras e pessoas que “conheço” há 30 anos, a quem digo bom dia diariamente, mas que não sei verdadeiramente quem são ou o que fazem ou qual é o seu papel na sociedade.
Mas sou de Lisboa, das avenidas novas, nem sequer dos velhos bairros e pátios onde se reproduziam um pouco as relações da aldeia, dentro da cidade, onde se mantinha uma dimensão humana pela qual ainda lutam ingloriamente sonhadores como o Arquitecto Ribeiro Teles e, talvez, José Sá Fernandes.
Todavia, tenho memórias de infância, passada na Av. António Augusto de Aguiar, mesmo em frente ao que é hoje, já há bastante tempo, a estação de metro do Parque, memórias estranhas na Lisboa de hoje, memórias de vestígios de uma ruralidade perdida:
Pelos meus 5 ou 6 anos, lembro-me, claramente, de correr diariamente para a varanda da casa, a determinadas horas, para ver passar um rebanho de ovelhas, com o seu pastor, que calmamente descia a Av. António Augusto de Aguiar vindo de não sei onde, e ali, à minha frente, subia para pastos verdejantes no Parque Eduardo VII, regressando mais tarde para o seu redil misterioso.

2005-10-02

2005-10-01

SPORTING

Tenho um amigo, que conhece bem o meio, e me diz que são geralmente os jogadores quem põe os treinadores na rua.
Se estão fartos deles basta deixarem de jogar, é claro que é sempre mais fácil mudar um treinador do que 20 jogadores.
Receio que o processo se tenha iniciado no Sporting e que Peseiro tenha já os seus dias contados.