2005-10-21

Para que queremos um Presidente da República

A constituição dá-nos algumas pistas: nomeia o Governo, promulga leis, nomeia para alguns altos cargos, é o Supremo Comandante das Forças Armadas, essa “ociosidade organizada”, como lhe chamava Eça, e pode também, em certas situações, dissolver a Assembleia da República.
Para fazer tudo isto e coisa no género (visto que não conheço a constituição de cor) terá que ter bom senso, indiscutivelmente, um mínimo de bom senso, mas pode também contar com inúmeras ajudas: tem a sua Casa Civil, a Casa Militar, o Conselho de Estado, pode ouvir quem quiser, pedir conselhos, enfim, se não for muito alvoreado, lá sobreviverá mais ou menos, mesmo que a história lhe faça alguma partida como a de levar Santana Lopes ou alguém no género à condição de poder ser poder.
É claro também, que poderá surgir uma situação difícil imponderável, sei lá, sermos invadidos militarmente, por exemplo, mas aí creio que teremos que fazer mais por nós, do que esperar que o Presidente resolva as coisas.
Há no entanto uma outra função, o Presidente é um símbolo nacional, como o hino ou a bandeira, o Presidente tem de conviver com Chefes de Estado, Presidentes e Reis, participar em banquetes elegantíssimos, frequentar palácios, sentar-se em bons sofás, sem dar pulinhos para lhes experimentar as molas (como se viu Bush fazer) e tem que fazer tudo isso com “saber estar”, com educação, com etiqueta, direi mesmo, de forma que não envergonhe o país. Voltando às palavras de Eça (embora dirigidas ao corpo diplomático, também se aplicam aqui) deve saber comer ostras com elegância.
Ora para isto não há Casa Civil nem Chefe de Protocolo que lhe valha, isto não se ensina, ou se tem ou se não tem.
Em resumo, um bom candidato tem que ter: bom senso e boa presença.
Analisemos a esta luz os candidatos que se perfilam:
Francisco Louçã, parece que nem sabe usar gravata, não o consigo ver de gravata, foge-lhe o pé para a palhaçada, que fora do contexto habitual poderia ser dramático e bom senso não sei se o terá em suficiência.
Jerónimo de Sousa, bom senso tem, e apresenta-se bem, é um homem culto, vê-se que leu muito, mas operário é sempre operário e não o vejo à vontade em certos ambientes mais refinados.
Mário Soares, estará como peixe na água nos altos círculos que dominam o mundo, muito à vontade, direi mesmo talvez até um pouco à vontade demais. Não nos envergonharia mas uma gafe ou outra não se poderá evitar, quanto a bom senso parece ter quanto baste.
Cavaco Silva, bom senso tem para dar e vender mas é demasiado hirto, tímido, como ele próprio diz, parece que nunca cabe bem no fato que veste e não há um dia em que se fale na sua provável vitória, que não tenha o pesadelo de o ver a comer bolo rei, de boca aberta em frente ao Papa, credo !
Resta-nos Manuel Alegre e este sim tem boa presença, tem tudo o que se pode esperar, até cria e diz poesia lindamente o que fica muito bem em qualquer salão. Adivinha-se que sabe valsar, é brilhante na conversação, com este sim, Portugal estará bem representado e bom senso terá quanto baste.
Meus amigos, a escolha não parece nada difícil: O melhor candidato é Manuel Alegre e juro que nem ele me pagou para dizer isto, nem me prometeu nada, nem mesmo me meteu em nenhuma Comissão de Honra ou de outra coisa qualquer, nem sequer o conheço, é mesmo o que eu acho, através de análise racional e objectiva.
Vão por mim que vão bem.

1 comentário:

Suão disse...

Falta dizer que gosta de touradas à antiga portuguesa, vai à caça (tem é que treinar mais o tiro ao faisão), é do Benfica (toma (desculpe lá o toma, mas saiu-me)), é um republicano com ar aristocrata e é destemido, em suma, o português que está dentro de nós.